segunda-feira, novembro 07, 2016
terça-feira, setembro 27, 2016
sexta-feira, setembro 23, 2016
O Porto do Simples...
Carlos Wagner
Digo, de mim a mim mesmo:
- doce agora você ser eu
sereno, simples, por simplesmente saber!
Mas dói percorrer a saga...dura enquanto durante...
Mergulho
e, novamente, ter a ver contigo, mim mesmo
mesmo que seja preciso ter que conter o "contigo" contido
tido e ouvido, visto, e sem ti, indo
havido e ávido, todo tido e tendo sido, e sendo em ser.
Possuído, escravo de entranhas
tecido entretecido em alma
em malhas de vias percorridas pela memória
tempos esquecidos
havidos há séculos e células de eras
e, contigo, mim mesmo
cercado em grades de tempos, urdidos a malícias ou bem-dícias
e, por milícias inteiras de ondas de seres em mim acoplados
de um eu mim mesmo surreal e verídico, composto
em dores ou prazeres
porém, entre equívocos
continuado, estressado, arrumado, guardado em dados contados
cortados por mil e uma coisas
por cento e tantas mil noites
por noitadas acordadas, mal dormidas, pernoites inteiros
perdidos dias, perfídias vidas
noites longas, ilógicas, brandas ou sórdidas
em todas as direções
norte sul, leste ou pestes, curas ou surras
e na pele, fracas marcas no hoje, fortes no fundo
guardadas em pepitas embebidas em toda a sorte de misturas
causadas por óticas caóticas, em risadas entre dentes, estridentes mordendo a rasgadas
a carne de peles trocadas, mudadas, sempre....
a carne de peles trocadas, mudadas, sempre....
Enterradas as esperanças de noites de histórias
as mais estranhas
baforadas em meus ouvidos dormidos
dormentes mentiras, em tiras de panos e papéis bizarros de peças
no palco múltiplo, teatradas plenamente cinegravadas
na tela das retidas retinas congélidas, em imagens mutantes.
Bizonhas e matreiras, bizárricas sandices, farrices do meu sub-eu-conhecido-de mim mesmo
junto com todas as desconhecidas figuras de um paineloscilante
diante de meus segredos mais profundos, inconfessos!
E ouço: - pro fundo! - pro fundo!
Dizem os muitos gritos de muitas vezes vozes.
Eu demoro, mas, a obedecer, desço em mim, cada vez mais
e mergulho raspado, cortado, cortante, apertado
tantos marcantes riscos na pele em dor.
Mergulho no orgulho, na vaidade, nas capacidades e vícios
idades remotas do meu passado desconhecido
e finalmente sozinho, em mim, e na multidão de personas e máscaras
de todas as cores e formas
vislumbro, apesar, um "eu" simples, medroso, apavorado, enrustido enrolado em rotas vestes
um "eu" simples, sem composições e mesclas
só, único, pronto para abandonar tudo que é ali lixo ad-querido...
Pronto! já posso ser fiel ao único e simples ser-se a si mesmo
ser-me em mim mesmo
livre das amarras dos lixos de identidades, milhões delas
elásticas, adquiridas pelo malquisto medo, medo, medo...
três vezes medo, medonho, de se ser um nada, correndo ao pavor
arremedo de vida, fingida, sempre atrás de quimeras
meras máscaras de personas seguras, mesmo que falsas.
Descortina-se o quadro
sou o que descubro
eu, só, no simples ser desnudo da carne dessas pessoas
que pude ter sido, estranhas aos meus apavorados olhos.
Por detrás, encarno a certeza da liberdade prometida
por um estranho amigo, num distante passado
tempos, tempos...percoridos em dores e alegrias inconfiáveis.
Vejo, vi, a benfazeja solidão perdendo sua cara tenebrosa e temerária.
No simples, perco o medo.
Já posso emergir desse bizarro aprofundamento em mim mesmo.
Alegria insólita de uma sólida solidão, solícita, amiga, solidária (in)segurança.
O que faço?
Só risos, mesmo que invisíveis, pra todos ao redor.
Rio de todos, pois vi a cara da nua verdade de mim
e mesmo assim, quero dividir com quem quiser, as migalhas disso.
O simples se enraíza!
segunda-feira, agosto 01, 2016
Santo Hilário, 2016
Nossos dias passados em Santo Hilário, nossa velha e boa Capetinga, Pimenta, MG
Uma produção de Ian Campos
Um poema sobre o simples do bom de aproveitar dias de folga nessa terra "Coutinha".
quarta-feira, julho 20, 2016
Pra Sara
Pra Sara
Você não é metade! Você é inteira!
A falta é o vazio do vaso, o espaço do infinito incontido.
Você nunca foi metade, foi sempre em si inteira,
E mesmo lá, no início, em tenra idade,
Já te sabia repleta, pensando em ser guerreira!
Você não é metade, pois é completa em se completando,
Frágil, dócil, em se equilibrando,
Abrindo asas, tímida, mas decidida e solidária.
Te vejo amando ser cidade,
Amando ser o cuidar, o amor e a capacidade.
Te vejo ser povo, lugar, cidade e cidadã.
Te vejo sem inveja, e invejo ser o que sejas.
Que seja então completa,
Cozinheira das poções,
Das mágicas, dos sabores e das canções.
Te vejo ser inteira, completa e em busca,
Pra ser intensidade, pra ser sempre mocidade,
Menina, mulher, adulta, mãe e filha.
Múltipla, amiga, pole, corda pano ou tatame.
Você não é metade!
Você repleta meu inteiro,
Que eu retorne a ti o que me dás, inteira!
Pois és importância imensa, sem medida!
Você não é metade! Você é inteira!
Você nunca foi metade, foi sempre em si inteira,
E mesmo lá, no início, em tenra idade,
Já te sabia repleta, pensando em ser guerreira!
Você não é metade, pois é completa em se completando,
Frágil, dócil, em se equilibrando,
Abrindo asas, tímida, mas decidida e solidária.
Te vejo amando ser cidade,
Amando ser o cuidar, o amor e a capacidade.
Te vejo ser povo, lugar, cidade e cidadã.
Te vejo sem inveja, e invejo ser o que sejas.
Que seja então completa,
Cozinheira das poções,
Das mágicas, dos sabores e das canções.
Te vejo ser inteira, completa e em busca,
Pra ser intensidade, pra ser sempre mocidade,
Menina, mulher, adulta, mãe e filha.
Múltipla, amiga, pole, corda pano ou tatame.
Você não é metade!
Você repleta meu inteiro,
Que eu retorne a ti o que me dás, inteira!
Pois és importância imensa, sem medida!
terça-feira, julho 05, 2016
Está Chegando a Hora - Carmen Costa (Carnaval de 1942)
Carmelita Madriaga, conhecida como Carmen Costa, foi uma cantora e compositora brasileira. Nascida no interior, aos 15 anos ela trabalhava na cidade do Rio de Janeiro como empregada doméstica do cantor Francisco Alves. Wikipédia
Nascimento: 5 de julho de 1920, Trajano de Moraes, Rio de Janeiro
Falecimento: 25 de abril de 2007, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
quinta-feira, junho 23, 2016
Às vezes pipóco
Às vezes canjíco
Ora barulha
Ora fervilha
Às vezes paçóco
Às vezes gengibro
Ora adoça
Ora aviva
Às vezes fogueiro
Às vezes fumaço
Ora clareia
Ora embaça
Às vezes pipóco
Às vezes poemo
Às vezes me calo
Às vezes inverno
Às vezes floresço
Às vezes platéio
Mas sempre em mim chama
a chama da Vida.
Sugere silêncio
Trazendo harmonia.
Às vezes canjíco
Ora barulha
Ora fervilha
Às vezes paçóco
Às vezes gengibro
Ora adoça
Ora aviva
Às vezes fogueiro
Às vezes fumaço
Ora clareia
Ora embaça
Às vezes pipóco
Às vezes poemo
Às vezes me calo
Às vezes inverno
Às vezes floresço
Às vezes platéio
Mas sempre em mim chama
a chama da Vida.
Sugere silêncio
Trazendo harmonia.
terça-feira, junho 21, 2016
PIPOCAR....
Pipocar...
Carlos Wagner
Tudo pipoca poema
põe teu ser
hemácias e glóbulos,
teu sangue alma de ti,
põe no caldeiro e mistura,
tira, da tinta escrita,
a dor que te cala,
rabisca tuas lágrimas e
mastiga engasgos,
e cospe o amargo sentido perplexo de teus nexos desejos,
arpejos atônitos
torturas noturnas
alvoradas de alívio
com o sol já no alto, assuntado, estado a pino,
poema pipoca salgada
tudo salga,
e o poema pipoca
ou termina em sapecas risadas
ou mastigo com medo os restos duros de milho,
piruás, resilientes, empedernidos,
mas mastigados assim
mesmo!
Ai, dentes velhos, aguentem firmes na luta do duro pingar da água nesta pedra viva da vida, furada a insistências!
rima acima de tudo os muros,
os puros, escuros furos,
de balas de açúcar nos dentes,
que me doem a dor e o sorriso banguelo.
E o poema pipoca poesia!
segunda-feira, junho 13, 2016
segunda-feira, maio 09, 2016
Coelhão 2016
CAMPEÃO MINEIRO DE 2016
Parabéns América!
Quando entrou na justiça, ainda foi punido e proibido de participar, por uma entidade corrupta e nefasta ao futebol do país.
Que sua jornada agora na Série A seja de resistência e que consiga se manter aí!!!
De um simpatizante atleticano!!!
terça-feira, maio 03, 2016
segunda-feira, maio 02, 2016
Dentro de mim mora um anjo - Sueli Costa
Dentro de mim mora um anjo - Sueli Costa
Canta Fafá de Belém
Quem me vê assim cantando
Canta Fafá de Belém
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas à fio
No espelho do toucador
Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Republicando texto do Petrônio - NAQUELES TEMPOS...
NAQUELES TEMPOS ...
Petrônio

Idos de 1970 …
Rua Pitangui, entre ruas Coronel Júlio Pinto e Caldeira
Brant; entre Bicas e Genoveva de Souza, Belo Horizonte/MG. Esta era a nossa “Praia”: eramos os “donos”, em todos (quase todos) os sentidos!

Este espaço era nosso, dia e noite; às vezes, até bem tarde da noite... Havia um rodízio, muito dinâmico: turmas diferentes sucediam-se, aleatoriamente. Ecléticas, sem padrão de idade, sexo, etc... Jovens agrupadas naturalmente, pela vontade de estar juntos, de formar um bando … e quase tudo dava liga.
Se a “reunião” não fosse da mesma faixa etária, os mais novos compareciam para ouvir: ingerir, ruminar, digerir … O resultado, era sempre saboroso. Estimulava, excitava, preenchia.
Rolava todo tipo de conversa: tudo era permitido, nada era proibido. Este radicalismo avassalador, era uma marca. Não interessava se os mais novos estavam próximos, se as meninas ouviam, se era cedo ou tarde da noite, se alguém falava alto, se falava baixo … tudo, tudo mesmo, rolava abertamente.
Naqueles idos, tempos de ditadura militar Brasileira, de repressão e controle social, havia este espaço urbano, livre e democrático, para todo tipo de manifestação: uma benção!
Na simplicidade, na rua, sentados no meio-fio, havia tudo o que precisávamos: liberdade (garantida por Pais e Famílias de Bem), esporte (as peladas de rua, as corridas de carrinhos de rolimã, etc.), cultura (livros que passavam de mão em mão; filmes exibidos gratuitamente em BH; música, ouvida e tocada, de todos os estilos), debates e questionamentos sem fim (sobre religião, política, arte, etc...).
Esta pesquisa por conhecimento era um objetivo de todos (uns mais, outros menos): queríamos respostas, respostas para tudo. E o debate alimentava e fomentava...
Rica e intensa era a nossa vida: o clube funcionava 24 horas por dia, sempre em atividade, pulsante, rebelde, vigoroso. E recebíamos visitantes, de todos os estilos, de diversos bairros, com diferentes visões e experiências de vida. Os que iam chegando, trazidos por amigos, às vezes, por amigos dos amigos, contribuíam com biodiversidade (o quê?); sim, com experiência de vida, experiências cambiadas naturalmente, espontaneamente.
E tínhamos pressa, muita pressa: queríamos viver tudo, a toda hora, intensamente …. Contraditoriamente, o tempo, essa aceleração que hoje fustiga e oprime, não exercia pressão sobre nossas vidas.
Era leve e tranquila a vida: a pressa era nossa! Não era do tempo sobre nós. Como isto acontecia, como ter pressa e não sentir o tempo contra nós? Não consigo entender, nem descrever, objetivamente: mistério muito além da minha compreensão...
Petrônio

Idos de 1970 …
Rua Pitangui, entre ruas Coronel Júlio Pinto e Caldeira
Brant; entre Bicas e Genoveva de Souza, Belo Horizonte/MG. Esta era a nossa “Praia”: eramos os “donos”, em todos (quase todos) os sentidos!

Este espaço era nosso, dia e noite; às vezes, até bem tarde da noite... Havia um rodízio, muito dinâmico: turmas diferentes sucediam-se, aleatoriamente. Ecléticas, sem padrão de idade, sexo, etc... Jovens agrupadas naturalmente, pela vontade de estar juntos, de formar um bando … e quase tudo dava liga.
Se a “reunião” não fosse da mesma faixa etária, os mais novos compareciam para ouvir: ingerir, ruminar, digerir … O resultado, era sempre saboroso. Estimulava, excitava, preenchia.
Rolava todo tipo de conversa: tudo era permitido, nada era proibido. Este radicalismo avassalador, era uma marca. Não interessava se os mais novos estavam próximos, se as meninas ouviam, se era cedo ou tarde da noite, se alguém falava alto, se falava baixo … tudo, tudo mesmo, rolava abertamente.
Naqueles idos, tempos de ditadura militar Brasileira, de repressão e controle social, havia este espaço urbano, livre e democrático, para todo tipo de manifestação: uma benção!
Na simplicidade, na rua, sentados no meio-fio, havia tudo o que precisávamos: liberdade (garantida por Pais e Famílias de Bem), esporte (as peladas de rua, as corridas de carrinhos de rolimã, etc.), cultura (livros que passavam de mão em mão; filmes exibidos gratuitamente em BH; música, ouvida e tocada, de todos os estilos), debates e questionamentos sem fim (sobre religião, política, arte, etc...).
Esta pesquisa por conhecimento era um objetivo de todos (uns mais, outros menos): queríamos respostas, respostas para tudo. E o debate alimentava e fomentava...

E tínhamos pressa, muita pressa: queríamos viver tudo, a toda hora, intensamente …. Contraditoriamente, o tempo, essa aceleração que hoje fustiga e oprime, não exercia pressão sobre nossas vidas.
Era leve e tranquila a vida: a pressa era nossa! Não era do tempo sobre nós. Como isto acontecia, como ter pressa e não sentir o tempo contra nós? Não consigo entender, nem descrever, objetivamente: mistério muito além da minha compreensão...
segunda-feira, abril 25, 2016
A SÍLABA DA POESIA - kallil

A SÍLABA DA POESIA
kallil
Tomai e bebei minha oblonga e não adestrada/estrada/da vida
com sinal de sílaba celestial
que peregrina à luz da lua
saga de meu lobo interior
cuja lanolina lubrifica as estepes
onde pisarei/rei e súdito
sentindo o cheiro de lua cheia
script nas estrelas
terça-feira, abril 12, 2016
quarta-feira, abril 06, 2016
sábado, abril 02, 2016
OUTROS VIRAM
OUTROS VIRAM
(música de Jorge Mautner e Gilberto Gil)
O que Walt Whitman viu
Maiakóvski viu
Outros viram também
Que a humanidade vem
Renascer no Brasil!
Teddy Roosevelt sentiu
Rabindranath Tagore.
Stefan Zweig viu também
Rabindranath Tagore.
Stefan Zweig viu também
Todos disseram amém
a essa luz que surgiu!
a essa luz que surgiu!
Roosevelt que celebrou nossa miscigenação
Até a considerou como sendo a solução
Pro seu próprio país
Pra se amalgamar
Misturar "melting pot" feliz
Não conseguiu pois seu Congresso não quis!
Rabindranath Tagore também profetizou
Ousou dizer que aqui surgiria o ser do amor
Um ser superior, civilização da emoção, da paixão, da canção
Terra do samba sim e do eterno perdão!
Até a considerou como sendo a solução
Pro seu próprio país
Pra se amalgamar
Misturar "melting pot" feliz
Não conseguiu pois seu Congresso não quis!
Rabindranath Tagore também profetizou
Ousou dizer que aqui surgiria o ser do amor
Um ser superior, civilização da emoção, da paixão, da canção
Terra do samba sim e do eterno perdão!
Maiakóvski ouviu
A sereia do mar
Lhe falar de um gentio
De um povo mais feliz
Que habita esse lugar!
A sereia do mar
Lhe falar de um gentio
De um povo mais feliz
Que habita esse lugar!
Esta terra do sol
Esta serra do mar
Esta terra Brasil
Sob este céu de anil
Sob a luz do luar!
Esta serra do mar
Esta terra Brasil
Sob este céu de anil
Sob a luz do luar!
A delinquência de uma justiça que não aceita questionamentos
A delinquência de uma justiça que não A
http://jornalggn.com.br/noticia/a-delinquencia-de-uma-justica-que-nao-aceita-questionamentos-por-vladimir-safatle
A delinquência de uma justiça que não aceita questionamentos, por Vladimir Safatle
SEX, 01/04/2016 - 15:21
ATUALIZADO EM 01/04/2016 - 15:22
Jornal GGN – Ao interpretar as palavras do ex-ministro do STF, Eros Grau, que disse que “quem não é criminoso enfrenta com dignidade o devido processo legal”, o colunista da Folha Vladimir Safatle recordou dos versos do poeta Torquato Neto: “Leve um homem e um boi ao matadouro. Aquele que gritar é o homem, mesmo que seja o boi”.
Para o filósofo, o raciocínio do ex-ministro do STF é absurdo. “Quem questionar o processo legal, por mais que tal processo seja distorcido, interessado, com mais furos do que um queijo suíço, só poderá ser visto como delinquente”.
Da Folha de S. Paulo
Por Vladimir Safatle
"Quem não é criminoso enfrenta com dignidade o devido processo legal. O delinquente faz de tudo para escapar do julgamento. Apenas o delinquente esbraveja, grita". De todas as pérolas do inesgotável Compêndio de Bolso do Autoritarismo Nacional que ilumina boa parte das opiniões correntes nos dias atuais, estas afirmações emitidas na semana passada pelo sr. Eros Grau, ex-ministro do STF, merecem ser gravadas em mármore pela sua clareza. Ao lê-las, foi difícil não lembrar imediatamente dos versos do poeta Torquato Neto: "Leve um homem e um boi ao matadouro. Aquele que gritar é o homem, mesmo que seja o boi".
Uma das especificidades da democracia é ser o regime político capaz de reconhecer que a crítica das leis e de processos legais injustos não é sinal de "delinquência". A democracia admite que a configuração atual das leis pode comportar injustiças e que, por isto, o direito não é, nunca foi, nem nunca será a expressão imanente do que tem legitimidade. Ao contrário do que acreditam alguns, não foram as leis que criaram os homens, mas os homens que criaram as leis. Eles as criaram em contextos específicos nos quais se fez valer o sistema de interesse hegemônico à época. Otto von Bismarck, que tinha ao menos a virtude da honestidade, lembrava: "Leis são como salsichas. Melhor não saber como são feitas". Por isto, é correto dizer: não são as leis que nos unem, mas a certeza de termos caminhos no interior da vida social para fazer valer a justiça. Quando tais caminhos desaparecem, não há mais união possível.
Como se não bastasse, a democracia reconhece, entre outros, o caráter falível da aplicação da lei por pessoas muitas vezes movidas por interesses particulares. Ela nos lembra que só mesmo aqueles animados por uma passividade bovina confundiriam a justiça não apenas com o regime atual das leis, mas com a interpretação atual fornecida pela opinião dos juízes.
No entanto, a afirmação do sr. Grau tem a vantagem de explicitar qual deve ser o regime de imposição da autoridade daqui em diante. Quem questionar o processo legal, por mais que tal processo seja distorcido, interessado, com mais furos do que um queijo suíço, só poderá ser visto como delinquente. Pois com o fim da Nova República através de um golpe farsesco travestido de impeachment, não será mais possível esperar que toda a população brasileira tenha um campo mínimo de conciliação no qual encontraríamos procedimentos que todos aceitem. O golpe quebrará de vez o pacto, dividindo o país clara e definitivamente em dois. A partir de então, valerá apenas a força.
Contra isto, há de se dizer com clareza: não há razão alguma para se submeter a um governo que será ilegítimo, fruto de um "processo legal" que está mais para uma verdadeira comédia do Pai Ubu. Pois esse processo de impeachment tem, ao menos, três desvios que destroem totalmente sua legitimidade. Primeiro, um dos princípios elementares da justiça é: "quem tem conflitos de interesse não pode julgar". 31 deputados indiciados na Comissão de Impeachment, lutando por sua sobrevivência, e um presidente da Câmara que é réu, tendo apresentado a proposta de impeachment para retaliar o partido da presidente em sua decisão de votar pela sua investigação no Conselho de Ética (sic), não podem julgar nada em lugar nenhum do mundo, apenas no Brasil. Segundo, o argumento das "pedaladas fiscais" não é suficiente para um impeachment, pois não posso afastar um presidente (a mais brutal de todas as penas) por práticas admitidas anteriormente e, principalmente, praticadas atualmente por outros membros do poder executivo sem maiores consequências. Por fim, não é possível afastar a presidente e empossar um senhor que assinou, na condição de presidente em exercício, decretos similares aos que levaram a presidente a perder o cargo.
Em 2013, em uma impressionante demonstração de vitalidade popular, o país deixou claro que procurava reinventar sua democracia e seu modelo de desenvolvimento econômico. Três anos depois, a casta política nacional, com sua capacidade ímpar de sobrevivência, foi capaz de produzir uma espécie de "contrarrevolução" na qual ela se conserva, chama para o governo aqueles que perderam todas as últimas eleições de que participaram e fornece, em troca, o sacrifício de seu sócio mais novo para saciar a ira de uma parte da população. Imaginar que todo o país se unirá na celebração desta farsa é não entender nada da história que se abre a partir de agora.
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sexta-feira, abril 01, 2016
Publicando novamente a Saga inevitável
http://coutinhocamposnoseoutros.blogspot.com.br/2015/06/saga-inevitavel-carlos-wagner-11062015.html
http://coutinhocamposnoseoutros.blogspot.com.br/2015/06/saga-inevitavel-carlos-wagner-11062015.html
Saga, inevitável
Carlos Wagner
11/06/2015
Juncado, insólito, enxerto possível, meu eu,
pérfido doloso ídolo solitário,
Ár de árido, dormente, testas tensas, santas outrora taças cheias,
Agora de amargas seivas,
vastas taças, urdidas, mordeduras implacáveis,
as todas paixões que a mim soterraram,
mesmo antes de sabê-las,
insensíveis e inapeláveis, novamente repetidas vezes,
e bebendo goles a seco, seguros memoriais registros,
vidas e mortes num todo, num tudo querer ser,
volúpias narcóticas, indecentes, decadentes,
decendentes de minha carne,
Quero todas, embriagadas visões de Virgílio.
Me acorde Beatriz!, atriz dos sonhos de Dante,
Porque quero-as todas, intactas, como um Saulo-Paulo cego,
Quero-as de forma compulsiva e contraditório,
Bem e mal, seres da noite,
malvadas fadas danadas, domadas e,
O risco é grande de mil caminhos encruzilhados a escolher,
Dar a volta longa no tempo, de trinas dimensões, enganado, usurpado,
Nada perdendo dessas derrotas rotas, retortas em brasa,
Numa busca frenética de todo o meu ser mobilizado,
Paralisado e amassado pelo peso abafado de meu coração miserável,
Cujo único desejo é ser Maria, a Imaculada noiva do Espírito
Cujo filho é um avatar sem forma e sem nome,
podendo mergulhar dentro do meu pedinte mendigo-eu sou,
para fora de meu “eu-não-poder-ser” aquele que protagoniza a vitória possível,
nem se orgulha,
mas mergulha no aqui vale imenso de dor.
Oceano atrai-me gota. E me perco vasto!
Carlos Wagner
domingo, março 27, 2016
sábado, março 26, 2016
Anarquizante em três drágeas...
Anarquizante
em três drágeas...
Carlos
Wagner
É só tomar e ficar esperando tudo sair do lugar
a senha, o padrão, a planilha, o gabarito
gabar disto é luxo e não o Lux sabonete que não limpa,
não dez infecta e nem dois me ajuda nisso,
dois me livre se isso me dói igual à seringa suja
que surja a qualquer momento então, assim espero ásperas figuras
idiotas, fechadas em suas fachadas clichês de band-eiras burras,
globais sub-reptícias falsidades de répteis de veneno jugular,
asnos e bestas que se dedicam ao ridículo de gritarem suas sandices,
disso fico sempre me arguindo: como pode?
e pode, pois serve para poderes apodrecer o ser
incauto desavisado
mítico inocente ente que vê cores no escuro muro de lamentações
lamúrias e choros de berros contidos no meu peito em frangalhos
Três drágeas, meio copo, meio corpo, meio dormindo meio fulo de tudo
meio fulano sicrano xingando tudo quanto é filé de pútridas puritanas
sem o "ri"
sem hora para parar de ser senhor dos destituídos de si mesmos.
Três drágeas
um copo
um sonho
um acordar, dar ciência de que a anarquia me seduz
Carlos Wagner
Verte a verve, homem!
Inspirado na Verve do Kalil
Tá lá...já, vá ver...ter líquido
donde dera
rastros mastros de cúspides atentas.
Antenas tenazes tem azes nas mangas...
nas mesas, nas rezas, nas frestas das festas
tangíveis às mãos sujas cujas fugas
derramaram pistas...
Então siga-as!
Tá lá o corpo recolhido do chão de Aldir!
Ziug, zig, zig, sigmund...
Verve
VERVE
kallil
Dou-te a minha ferida ígnea
fazendo zig zig zig
afiada na veia
abrindo/rindo/indo aspas no pulso insone
a poesia a fio da mesma laia
respingando giletes no bojo sujo da pia
desconfio/fio e desfio os lábios
da carne rasgada a frio
que suturada se entrega ao looping
do translúcido iodo
alinhavando o tumulto
predestinado ao fino engenho da agulha
que esguicha o símbolo
espreitando o tempo
caído atrás da porta
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O lobo da estepe - Hermann Hesse
- O lobo da estepe define minha personalidade de buscador