sexta-feira, setembro 23, 2016

O Porto do Simples...

Carlos Wagner

Digo, de mim a mim mesmo,
doce agora, você ser eu, sereno, simples, por simplesmente saber.
Mas dói percorrer a saga...dura enquanto durante....
Mergulho!
E, novamente, ter a ver contigo, ou comigo mesmo,
mesmo que seja preciso ter que conter o "contigo" contido,
tido e ouvido, visto, e sem ti, indo,
havido e ávido, todo tido e tendo sido, e sendo em ser.
Possuído, escravo de entranhas,
tecido entretecido em alma,
em malhas de vias percorridas pela memória de tempos esquecidos,
havido há séculos e células de eras,
e, contigo, mim mesmo,
cercado em grades de tempos urdidos a malícias ou a bondícias,
e por milícias inteiras de ondas de seres em mim acoplados.
De um eu mim mesmo surreal e verídico, composto,
em dores ou prazeres,
porém,  entre equívocos,
continuado, estressado, arrumado, guardado em dados contados,
cortados por mil e uma coisas,
por cento e tantas mil noites,
por noitadas acordadas, mal dormidas, pernoites inteiros,
perdidos dias, perfídias vidas,
noites longas, ilógicas, brandas ou sórdidas,
em todas as direções,
Norte Sul, leste ou pestes, curas ou surras,
e na pele, fracas marcas no hoje, fortes no fundo,
guardadas, em pepitas embebidas em toda a sorte de misturas,
causadas por óticas caóticas, em risadas estridentes, entre dentes,
mordendo a rasgadas, a carne de peles trocadas, mudadas, sempre....
Enterrada as esperanças de noites de histórias,
as mais estranhas, baforadas em meus ouvidos dormidos,
dormentes mentiras, em tiras de panos e papéis bizarros de peças no palco múltiplo, teatradas plenamente cinegravadas na tela das retidas retinas congélidas, em imagens mutantes.
Bizonhas e matreiras, bizárricas sandices, farrices do meu sub-eu-conhecido-de mim mesmo,
junto com todas as desconhecidas figuras de um painel oscilante diante de meus segredos mais profundos, inconfessos!
e ouço...- pro fundo! - pro fundo!
Dizem os muitos gritos de muitas vezes vozes.
Eu demoro, mas a obedecer, desço em mim, cada vez mais,
e mergulho raspado, cortado, cortante, apertado,
tantos marcantes riscos na pele em dor.
Mergulho no orgulho, na vaidade, nas capacidades e vícios,
idades remotas do meu passado desconhecido.
E finalmente sozinho, em mim, e na multidão de personas e máscaras de todas as cores e formas,
vislumbro, apesar, um "eu" simples, medroso, apavorado, enrustido, enrolado em rotas vestes,
Um "eu" simples, sem composições e mesclas,
Só, único, pronto para abandonar tudo que é ali lixo ad-querido...
Pronto! já posso ser fiel ao único e simples ser-se a si mesmo,
ser-me em mim mesmo,
livre das amarras dos lixos de identidades, milhões delas,
elásticas, adquiridas pelo malquisto medo, medo, medo...
Três vezes medo, medonho, de se ser um nada, correndo ao pavor,
arremedo de vida, fingida, sempre atrás de quimeras meras máscaras de personas seguras, mesmo que falsas.
Descortina-se o quadro,
sou o que descubro.
Eu, só, no simples ser desnudo da carne dessas pessoas que pude ter sido, estranhas aos meus apavorados olhos.
Por detrás, encarno a certeza da liberdade prometida por um estranho amigo, num distante passado,
tempos, tempos...percoridos em dores e alegrias inconfiáveis.
Vejo, vi, a benfazeja solidão perdendo sua cara tenebrosa e temerária.
No simples, perco o medo.
Já posso emergir desse bizarro aprofundamento em mim mesmo.
Alegria insólita de uma sólida solidão, solícita, amiga, solidária (in)segurança.
O que faço?
Só risos, mesmo que invisíveis, pra todos ao redor.
Rio de todos, pois vi a cara da nua verdade de mim, e mesmo assim, quero dividir, com quem quiser, alguma migalha disso.
O simples se enraíza!

Carlos Wagner


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