quinta-feira, novembro 21, 2024

Renowned Water Expert Reynold Aquino Offers Exclusive Water Softener Discounts

Los Angeles, California - November 21, 2024 - World-renowned water expert Reynold Aquino is excited to announce exclusive discounts on premium water softeners. This limited-time offer provides homeowners the opportunity to improve their water quality and overall well-being at an affordable price.

Aquino, a leading authority in water purification and treatment, has dedicated his career to providing innovative solutions for optimal water quality. His expertise has helped countless individuals and families experience the benefits of soft water, including:

  • Healthier Skin and Hair: Soft water can reduce dryness and irritation, leaving skin and hair feeling softer and more vibrant.
  • Enhanced Appliance Lifespan: Soft water prevents mineral buildup, extending the life of appliances like dishwashers, washing machines, and water heaters.
  • Spotless Fixtures: Soft water eliminates hard water stains, making cleaning easier and reducing the need for harsh chemicals.

By taking advantage of these exclusive discounts, homeowners can now enjoy the transformative power of soft water without breaking the bank.

About Reynold Aquino

Reynold Aquino is a respected water expert with a passion for providing clean, healthy water solutions. With years of experience in the industry, he has established himself as a trusted authority in water purification and treatment.

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Don't Miss Out: Best Water Softener Black Friday Deals 2024

Black Friday is the perfect time to upgrade your home with a water softener and save big! Soft water can do wonders for your hair, skin, and appliances. But with so many options available, finding the right deal can be tricky.

Here's your guide to the best water softener Black Friday deals in 2024:

1. Start Early:

  • Sign up for email alerts: Many retailers offer exclusive Black Friday deals to their subscribers. Sign up early to avoid missing out.
  • Follow social media: Stay updated by following your favorite water softener brands and retailers on social media.
  • Compare prices: Use price comparison websites to track prices and find the best deals.

2. Know What You Need:

  • Types of water softeners: Research different types of water softeners, such as salt-based, salt-free, and dual-tank systems.
  • Your water hardness: Get your water tested to determine the right size and type of water softener for your home.
  • Features: Consider features like smart technology, automatic regeneration, and efficiency ratings.

3. Where to Find the Deals:

  • Major retailers: Check big box stores like Home Depot, Lowe's, and Menards for Black Friday promotions.
  • Online retailers: Amazon, Walmart, and other online retailers often offer competitive deals and convenient delivery.
  • Direct from manufacturers: Some manufacturers offer exclusive discounts and bundles on their websites.

4. Tips for Snagging the Best Deals:

  • Shop online: Avoid the crowds and shop from the comfort of your home.
  • Use coupons and promo codes: Search for additional discounts and coupons before you check out.
  • Read reviews: Check customer reviews to ensure you're getting a quality product.

5. Don't Forget Installation:

  • Factor in installation costs: Some retailers offer free or discounted installation during Black Friday.
  • DIY installation: If you're handy, consider installing the water softener yourself to save money.

By following these tips, you can find the perfect water softener at a great price this Black Friday. Happy shopping!

Source: https://medium.com/@reynoldaquino/best-water-softener-black-friday-deals-2024-top-sales-discounts-118f83b95aca

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terça-feira, junho 11, 2024

RASCUNHO

Carlos Wagner


Rascunho,

rasga o punho

escreve doendo

passa a limpo

molda, cunha a cuia da cozinha 

cozendo em brando fogo

cosendo a costura do cós

da calça surrada

bainha velha

passa a faca

coçando as costas da caça abatida

derramando água da cuia

molhando a secura da mistura

se cura em goles sorvidos

sortidas porções

com o lenitivo de poções curandeiras

rezadeiras e feiticeiras do alívio

dorme o enfermo

até acordar de seu martírio

para seu rascunho de vida mal desenhada

 

Carlos Wagner


sábado, abril 06, 2024

 Macunaima

Carlos Wagner
Macunaima, que susto!
esteve aqui hoje
logo de manhã
mamãe, que é isso?
na lapela um broche
com Suassuna, muito sério
com ar de deboche
projetou na minha tela
um video cassete
e disse:
superheróis existem
têm fardas e cassetetes
pra abordagens tete a tete
autorização que vem de cima
zombou Macunaima
na sequência
cadeiras de roda, disse
são tanques perigosos
de guerra mesmo!
cadeirantes têm armas
têm nelas poder
criminosos criminantes
podem ser muito perigosos
pretos então, são sempre insidiosos
não é?
pobres, quase invisiveis
não têm nem família normal
"como pode?"
não tem carro nem patinete
circulam vagarosos
"empecilham" o transito
Porches então
cadeirantes nunca terão
que de tão rápidas
ninguem vê se aproximar
nem os Superherois viram
nem álcool trôpego bafaram
na cena forjada
nada, pensaram
nao ornam nem rimam
ja cadeiras
pra espremer Porhes no poste
nossa
têm poder
Superherois não dão mole
batem batem sim
batem, no fim do dia, o ponto
sem bafômetro, sem reprimenda tudo está dentro do sim
e sorriso
o moleque cidadão, tem pedigree
e é claro
"keep him free"
Esse Macu é muito doido
veio rápido
nem explicou nada
saiu daqui meio que afoito
dizendo que uma amiga
certamente uma fada
brandiu no ar uma vara
um chicote e um martelo
Macu
com careta estranha
confirmou
"não se assuste"
- voltarei
com novas farras e fardas
novos sinais de embuste
mesmo que você se fruste
e muita dor lhe custe.
Prepara sua tela!

Carlis Wagner

quinta-feira, julho 29, 2021

Suposto oposto

 Suposto oposto

Carlos Wagner
Casas, asas, aspas, paz...
frentes, entes, lentes, têz,
testemunhas do apagar, garras
desfiguram-se,
transmitem-se,
transmutam-se em semelhanças de nada,
mínimo foco,
identidade de não-ser,
Lao, Tao, Tse, se se é o “não é”...
ser pequeno, um quase nada,
um quase ameno, um quase a menos,
um quase infinito ínfimo
sentido de ser importante enquanto pouco,
desimportante enquanto projeto,
desencanto com o produto,
complacência pelo processo.

Carlos Wagner


sexta-feira, maio 21, 2021

 As dores do mundo, ou lamento inacabado

Carlos Wagner


Nas dores do mundo, Schopenhauer dizia:

"Só a dor é positiva...."

Eu quase entendi...

E sim, posso entender.


O mundo muitas vezes dói demais.

O olhar da alma se volta, 

O olhar mira os quatro cantos

E vê que o mundo arde.

Está em chamas!


A dor de muita gente, a dor de povos

A dor na pele da alma, os olhos não creem

A dor dos fracos enfraquecidos,

Nascidos ou por nascer, 

ou natimortos pela lógica do absurdo,

Vórtices do encontro do poder descomunal,

Açoitando o poder nenhum.


Há quem diga: "foi sempre assim"

É o mais certo...

Não se resolve, parece...


E o coração da gente, fica pequenininho 

Abafado lá dentro

Encurralado

Sem resposta

Sem ação qualquer.


A mente busca fazer qualquer coisa

Entender, construir uma fuga,

Teorizar sem sossego...

Ah, Sossego, artigo de super luxo 

de uma consciência adormecida, ou desejosa por dormir.


Enquanto isso, guerras e rumores de guerras de fato,

Tecem o cenário que se impõe normal 

E se expõe anormal.


E no meu peito, coração não aceita,

Grita perplexo, e geme,

"não se cansa de ter esperança"

Avança e acorda minha razão


Ela tem paciência com a minha jornada!


Carlos Wagner

terça-feira, março 09, 2021

 


segunda-feira, dezembro 28, 2020

Uma mensagem de Natal

 Carlos Wagner 25 dez 2020
Quero aqui deixar expresso um voto e um desejo nascido da oportunidade do momento em que a maioria no mundo cristão devota seus pensamentos e reflexões a uma ideia de renovação e elevação pelo Amor.

Deixo humildemente e sem nenhuma pretensa autoconsideração de superioridade, consciente da minha pequenez, o seguinte pensamento:
Que tenhamos um bom dia de reflexão revolucionária de Amor, de Esperançar, de Fé numa vida não egoísta, sem preconceitos, sem racismo, sem homofomofobia e outras formas de ódio fóbico, com soberania da consciência de que somos verdadeiramente irmãos e irmãs, filhos deste planeta, nossa casa maravilhosa!
Que a solidariedade possa nos fazer mais sensíveis aos desassistidos e necessitados, arrancando de nós a frieza dos cálculos econômicos estéreis e das equivocadas ideias de "meritocracia". E que a dor dos outros não seja mais e somente a dor dos outros, mas também a nossa, pra nos tirar de nossas fortalezas inalcançáveis.
Que essa reflexão possa formar e se transformar em nós, paulatinamente, numa base sólida e ser elevada a uma verdadeira Espiritualidade Superior não dogmática, onde todos os grandes do Espírito fizeram morada e nos prepararam nossos lugares!
Sei, obviamente, que esse é um sonho, como de Imagine de Lennon, mas que pode ser também uma semente de busca e transformação.
Pra mim só assim tem sentido o "Natal", um nascimento interior que quer ser exteriorizado nas minhas atitudes imediatas.
Que os Corações, as Cabeças e as Mãos de todos os assim transformados possam ser cada vez mais numerosas no mundo inteiro!
Um Feliz "Natal" assim concebido, em qualquer momento do ano!

 CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

Carlos Drummond
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois medrosas.

                            ( De Sentimento do Mundo)

sábado, setembro 05, 2020

Brasil, o país que escolheu a Morte!

 *Desculpem o peso do texto que público aqui.*

*Brasil  o país que escolheu a Morte!*



Texto importantíssimo da jornalista Eliane Brum, do El País, que ilustra bem os ideais defendidos por este grupo. Artigo publicado em 03/09. Leitura obrigatória para o feriado da independência.


7 DE SETEMBRO: MORTE


Se este 7 de Setembro transcorrer como se o Brasil vivesse algum tipo de normalidade, enterremos nossos corações, porque já estarão mortos. Devemos então parar de fingir que estamos vivos e assumir nossa condição de zumbis. Não o dos filmes, que tentaram escapar dessa condição. Mas os que escolhem ser contaminados pela normalidade criminosamente anormal. A covardia é uma forma de existência a qual se escolhe. Este país está cheio de oportunistas, sim. Mas também está cheio de covardes incapazes de defender qualquer território para além da sua família, porque também o sentimento de comunidade foi persistentemente destruído. Em 7 de Setembro de 1822, quando se aliviava de uma diarreia insistente no riacho Ipiranga, em São Paulo, o príncipe português Dom Pedro I teria gritado: Independência ou Morte! Depois de 198 anos, já entendemos que o Brasil sempre escolheu a morte. Mas jamais, em nenhum outro momento de sua história, o país havia alcançado esse nível de perversão sob o título formal de democracia. Negros e indígenas vivem uma longa história de extermínio, mas esta é a primeira vez em que um Governo construiu uma máquina de morte. Temos um genocida no poder, e ele está matando tanto quanto deixando morrer. Tem intenção, tem plano e tem ação sistemática.


Os quatro pedidos de investigação de Jair Bolsonaro por genocídio e outros crimes contra a humanidade que já chegaram ao Tribunal Penal Internacional não são um jogo político de retórica. São a denúncia de que o judiciário brasileiro não consegue ou não quer barrar os crimes de Bolsonaro e de outras pessoas com cargos de poder no Governo, sejam generais ou civis. Se conseguisse ou quisesse, como os fatos já mostraram, Bolsonaro nem poderia ter sido candidato. Ele é o resultado, como já escrevi, de uma longa série de impunidades iniciada ainda quando era militar. Foi absolvido no Tribunal Superior Militar, em um julgamento povoado de indícios de fraudes, de planejar um ato terrorista com um motivo corporativo: botar bombas em quartéis para pressionar por melhores salários. Só se tornou presidente pela vocação característica do sistema judiciário brasileiro: a de punir severamente os pretos e pobres e despachá-los para um sistema carcerário incompatível com qualquer ideia de civilização, mas perdoar ou deixar de julgar os ricos e brancos. Especialmente se estes forem militares e tiverem o privilégio de uma justiça paralela que escolhe inocentes e culpados com base não nos fatos, mas nos interesses corporativos de uma instituição que se considera acima da Constituição.


Bolsonaro é brasileiríssimo. A criatura que está matando os Brasis que considera obstáculos ao seu projeto de poder, assim como as populações que despreza (indígenas e negros), é a versão mais bem acabada – e por isso tão terrivelmente mal acabada – de todas as deformações. As que os governos anteriores não quiseram corrigir, pelas mais variadas razões, as que as diferentes elites estimularam, para manter seus privilégios, as que o povo se acostumou a conviver.


O Brasil chega a este 7 de Setembro com os símbolos nacionais sequestrados pelo bolsonarismo. A bandeira foi sequestrada, o hino foi sequestrado, as cores foram sequestradas. Porque o bolsonarismo não se coloca como uma parte do Brasil, mas como o todo. Os outros Brasis e brasileiros que se opõem a ele são considerados e tratados como não brasileiros, como aqueles que precisam ser expulsos ou eliminados porque não deveriam estar aqui. O seu discurso no telão da Paulista, pouco antes do segundo turno das eleições de 2018, quando a vitória já era certa, é explícito: “Vamos varrer do mapa os bandidos vermelhos do Brasil (...) Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia”. Percebam. Não a lei do Brasil, que é a Constituição, mas “a lei de todos nós”. E esclareceu quem são “nós”: “O Brasil de verdade”.


O bolsonarismo é, em sua gênese e na sua estrutura, incompatível com a democracia. Na minha opinião, também incompatível com a civilização. O fato de Bolsonaro ter sido eleito não altera sua vocação totalitária nem sua lógica de eliminação dos opositores como “falsos brasileiros”. Ao contrário. Ao ser candidato, apesar de todos os crimes que já tinha cometido, a começar pelo de apologia à tortura, Bolsonaro desmoraliza e destrói uma combalida democracia que jamais foi capaz de julgar os crimes da ditadura e por isso jamais foi capaz de se proteger de criminosos como Bolsonaro.


Bolsonaro não apenas leva os generais de volta ao Governo e militariza toda a máquina pública, o que pareceria impossível apenas alguns anos atrás, para um país que viveu uma ditadura militar de 21 anos. Ele também carrega para o Planalto a lógica de guerra dos regimes totalitários. Na ditadura iniciada com o golpe de 1964, os “inimigos da pátria” eram os opositores políticos, especialmente os estudantes que a ela resistiram também com luta armada. No regime criado pelo bolsonarismo, que já não podemos chamar de democracia, os inimigos da Pátria são ampliados para todos aqueles que se opõem democraticamente a ele e a todos aqueles que são obstáculos ao projeto econômico de grupos no poder. Os opositores, como ele disse, devem ser levados à “Ponta da Praia”, referindo-se a um local de tortura e desova de cadáveres na ditadura, no Rio de Janeiro. Já os indígenas, principal obstáculo ao projeto de exploração da Amazônia, são tratados como uma espécie inferior: “cada vez mais humanos iguais a nós”. Aos quilombolas, outro obstáculo, ele se refere com termos usados para animais: “nem para procriadores servem”.


De certo modo, Bolsonaro vai além da ditadura militar na qual se inspira ao tornar “brasileiros de verdade” apenas os fiéis de seu culto político ― e falsos todos os outros. Porque ele não é apenas um “mau militar”, como definiu o ditador e general Ernesto Geisel. Bolsonaro está também aliado aos pastores de mercado e ao ruralismo mais predatório. Bolsonaro emprestou à lógica da guerra dos generais uma versão bíblica do bem contra o mal, explicitada pelos brasileiros de verdade e pelos brasileiros de mentira. Estes devem ser expulsos ou eliminados não apenas como inimigos, mas como infiéis da pátria. Para consolidar sua vitória colocou em campo uma máquina de propaganda, o chamado “gabinete do ódio”, que poderia ser elogiada por Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. O bolsonarismo converteu todos aqueles que se opõem a ele em inimigos da pátria, do mesmo modo que o nazismo fez com os judeus num primeiro momento. Com os indígenas e com os negros, ele já entra numa segunda etapa, ao considerá-los apenas quase humanos como “nós”.


Bolsonaro e o bolsonarismo, que vai muito além dele, faz uma colagem dos totalitarismos do século 20 com a versão bíblica do evangelismo de mercado que se consolidou na política partidária neste século e alcançou o poder central com a eleição de 2018. Se fossem contemporâneos, Adolf dificilmente teria prazer em se sentar à mesa com Jair, porque a vulgaridade do presidente brasileiro o escandalizaria. Hitler queria criar sua própria arte e estética. Bolsonaro, pelo menos por enquanto, só quer destruir qualquer forma de arte. É o supremacista que prega (também) a supremacia da estupidez como a vingança dos ressentidos.


Bolsonaro não precisou criar seus campos de morte. Deixou a covid-19 avançar e agiu para reter recursos públicos destinados ao enfrentamento da doença, para afastar os quadros técnicos com experiência em saúde pública e epidemias, para vetar medidas decisivas de prevenção e para tumultuar o combate ao vírus. Também incentivou a invasão das terras indígenas e das áreas protegidas por grileiros e garimpeiros. Se a pandemia acabasse hoje, este já é um Brasil sem muitas das grandes lideranças que lideraram seus povos na luta pelo direito a viver em suas terras ancestrais e para manter a floresta amazônica e outros biomas em pé. Parte dos opositores de Bolsonaro, na Amazônia que mais uma vez volta a queimar, morreram nos últimos meses. E a pandemia ainda está longe de acabar.


A mais recente liderança indígena morta por covid-19, em 31 de agosto, foi Beptok Xikrin, 78 anos, conhecido como Cacique Onça. Voltou à sua aldeia, no Médio Xingu, em um caixão fechado, enfiado em uma lona, amarrado a uma caminhonete como se coisa fosse, na mais abjeta indignidade. Não basta matar ou deixar morrer, é preciso humilhar, quebrar a espinha dos povos indígenas também pelo insulto e pela desonra.


Mesmo para quem tem baixa expectativa com relação à decência das várias elites brasileiras, é custoso compreender como ainda chamam o que hoje há no Brasil de democracia. O que aí está não é bom nem mesmo para o “mercado”, essa entidade pronunciada com reverência. Que tipo de crença leva alguns setores, mesmo da imprensa, a considerar, depois de um ano e meio de governo, que há alguma composição possível com o bolsonarismo? A ação das elites não foi diferente nos processos totalitários do século 20, mas ainda assim é espantoso.


Muitos dos que votaram em Bolsonaro usaram o discurso anticorrupção como desculpa para votar num homem que se anunciava publicamente como defensor da ditadura e da tortura e que festejava como herói Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel, assassino e o único torturador reconhecido pelo judiciário brasileiro. E agora, quando não há mais desculpa? Quando Bolsonaro se abraça ao Centrão para se proteger de um impeachment? Quando Bolsonaro se abraça a Michel Temer para se aproximar do MDB? Quando o procurador-geral da República, escolhido fora da lista tríplice, se tornou office-boy de Bolsonaro, cobrindo de vergonha a instituição chamada Ministério Público Federal? Quando o herói da Lava Jato foi expelido do Governo? Quando Adriano da Nóbrega, miliciano chefe do grupo de assassinos de aluguel Escritório do Crime, foi morto e enterrado com tudo o que sabia sobre as ligações perigosas da família Bolsonaro? Quando Fabrício Queiroz, depois de meses escondido em uma das casas do advogado de Bolsonaro, e sua mulher, Márcia Aguiar, foragida, conseguem uma surpreendente prisão domiciliar? Quando um desembargador, sozinho, é capaz de afastar um governador do Estado inimigo de Bolsonaro e com poder para decidir os cargos de quem vai tocar (ou não) os processos sobre a família presidencial? Quando as denúncias de corrupção batem no peito de Bolsonaro, na forma da pergunta que faz Bolsonaro querer “encher a boca” do repórter “de porrada”? Esta pergunta aqui:


“Presidente Bolsonaro, por que a sua esposa, Michelle, recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?”


Agora, quando há duas enormes perguntas assombrando a família Bolsonaro. Esta e a outra, que se repete há mais de 900 dias sem nenhuma resposta:


“Quem mandou matou Marielle Franco? E por quê?


A pauta anticorrupção como justificativa para votar em um homem com o passado e o presente de Bolsonaro sempre foi fingimento. Desconfio que alguns fingiram tanto que até acreditaram. E assim chegamos ao 7 de Setembro com uma oposição partidária fraca, a esquerda ocupada brigando entre si e a direita buscando se consolidar como uma espécie de poder moderador da extrema direita no poder. Dilma Rousseff (PT) foi arrancada da presidência supostamente por ter praticado “pedaladas fiscais”. A folha corrida de crimes de responsabilidade muito mais graves de Bolsonaro está dando volta no quarteirão. E, mesmo assim, Rodrigo Maia (DEM) acomodou seu traseiro sobre uma pilha de dezenas de pedidos de impeachment, um deles da Coalizão Negra por Direitos, com base no agravamento do genocídio dos negros.


Gostaria de dizer que há momentos em que um povo decide se é um povo ou um amontoado de gente “tocando a vida”, como mandou o déspota eleito que nos carrega para a morte. Gostaria de dizer, mas não digo. Porque não acredito que temos um povo, no sentido de uma massa de pessoas com a mesma nacionalidade que luta por valores comuns. Talvez não tenhamos um povo. Mas temos povos. Nas periferias e favelas urbanas deste país há gente se organizando e lutando e criando possibilidades de viver apesar de todas as formas de morte. Se ainda existe a Amazônia é porque camponeses e povos da floresta lutam, mesmo sendo abatidos a tiros ― e agora também pela covid-19. Nas cidades, os movimentos de sem-teto se organizam pelo direito da ocupação da cidade para a vida e não para a especulação imobiliária. No campo, os agricultores familiares insistem em alimentar o país sem agrotóxicos enquanto Bolsonaro libera mais de um veneno por dia. Há homens e mulheres barrando a destruição da natureza com seus corpos em cada dobra do país. Há rebeliões por todos os Brasis, avançando nas fissuras, pelas bordas.


Não são os mais frágeis que se mantêm em pé. São os fortes. Há 500 anos há um Brasil tentando matar todos os indígenas ― pela assimilação, pela contaminação ou por bala. E, ainda assim, a população indígena cresceu nas últimas décadas. Desde a abolição formal da escravidão, os negros foram deixados para morrer, e ainda assim os negros se tornaram a maioria ― 56% ― da população brasileira. Viver ― contra todas as formas de extermínio ― tem sido o ato mais radical de resistência das populações invisibilizadas, oprimidas e tratadas como subalternas.


Neste momento, as gerações que hoje vivem enfrentam seu maior desafio. Bolsonaro converteu o Estado numa máquina de morte. Tão perversa que viu na covid-19 uma maneira de eliminar aqueles que barravam com seus corpos seu projeto de poder. Suas ações deliberadas são encobertas com aparições midiáticas, discursos golpistas, o jogo de cena da cloroquina e a falácia da defesa da economia. O bolsonarismo controla quase que totalmente o noticiário enquanto o genocídio é a política persistente que avança na camada atrás dos holofotes dos factoides, sem encontrar oposição capaz de pará-la.


Hoje, Bolsonaro alcançou mais do que o seu sonho. Ele queria que a ditadura militar, que formou os generais que o apoiam, “tivesse matado pelo menos mais uns 30 mil”. Sua negligência intencional na resposta à covid-19, sua campanha oficial de desinformação, seu exemplo pessoal de irresponsabilidade são a principal causa da ampla disseminação da doença no Brasil. Também neste momento, a Amazônia queima mais uma vez e se aproxima velozmente do ponto de não retorno. O Parlamento Europeu já estuda considerar a destruição da maior floresta tropical do mundo, praticada deliberada e sistematicamente por Bolsonaro, um crime contra a humanidade.


Neste 7 de Setembro, chegamos ao ponto no Brasil em que afirmar que o presidente é “apenas” incompetente significa ajudá-lo a se safar de ser responsabilizado por crimes contra a humanidade. Incompetência é terrível e traz graves consequências, mas não é crime. Os fatos mostram que Bolsonaro foi deliberadamente incompetente, intencionalmente negligente, sistematicamente irresponsável. Bolsonaro e seu Governo planejaram e agiram, como mostra o Diário Oficial da União, suas manifestações nas redes e os vídeos com suas declarações públicas.


A data mais simbólica do Brasil não pode passar como se fosse normal ter um genocida no poder. Se deixarmos o genocídio se normalizar, não haverá vida neste país nem mesmo para aqueles que, por sua posição na cadeia alimentar da desigualdade brasileira, acreditam sempre estar a salvo. Neste 7 de Setembro, há movimentos de resistência dos Brasis insurgentes se levantando contra a máquina de morte do bolsonarismo. Há gente com coragem de nomear o que está acontecendo no Brasil. Não sei se seremos muitos ou poucos. Provavelmente poucos, mas, como os mortos da covid-19, inumeráveis. Há momentos em que tudo o que podemos fazer é lutar, mesmo sabendo que vamos perder porque a maioria vai estar tocando a vida ― e seguirá tocando a vida enquanto considerar que é só a vida do outro que está em risco. Talvez a pergunta mais importante deste 7 de Setembro seja: como pode barrar seu próprio genocídio um povo que se acostumou a morrer?


Resistindo. Declarando sua independência, porque morte já há demais. No momento, quase 125 mil corpos. Rebelando-se. Não porque agora seja possível ganhar. Mas para não ser obrigado a baixar os olhos quando as crianças perguntarem no futuro próximo de que lado você estava e o que você fez para impedir Bolsonaro de seguir matando.


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Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. 

elianebrum.coluna@gmail.com Twitter, Instagram e Facebook: Eliane Brum

sábado, agosto 22, 2020

Walt Whitman

 Walt Whitman

E sei que sou imortal,
sei que minha órbita não pode ser medida pelo compasso do carpinteiro,
Sei que não apagarei como espirais de luz que crianças fazem à noite com graveto aceso.
Sei que sou sublime,
Não torturo meu espírito para que se justifique ou seja compreendido,
Vejo que as leis elementares nunca se desculpam,
Percebo que não ajo com orgulho mas elevado que o nível onde planto minha casa, afinal.
Existo como sou, isso me basta,
se ninguém mais no mundo está ciente, fico contente,
e se cada um e todos estão cientes, fico contente.
Meu pedestal é encaixado e entalhado em granito.
Dou risada do que você chama de decomposição,
sei da amplidão do tempo.
Sou poeta do corpo,
e sou o poeta da alma...
Walt Whitman

sexta-feira, agosto 21, 2020

 


Cantiga de Malazarte
Murilo Mendes
Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso amar ninguém porque sou o amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo.
Nada me fixa nos caminhos do mundo.
- Murilo Mendes, em "Poemas - 1925-1929". Juiz de Fora: Dias Cardoso, 1930.

sábado, agosto 15, 2020

Vejo

 Vejo

Carlos Wagner
Eu vejo o sol lá fora, ele brilha incrível!
Eu vejo o girassol brilhar amarelo,
vejo o voar envolvido de um pássaro,
desenhando evoluções,
e escuto seu cantar, lá fora, lá nos galhos,
eu vejo belezas...em tudo...
Vejo o azul do céu,
vejo animais que brincam e que correm,
eu vejo o movimento da Terra,
Vejo o sol, todo dia, chegar ao ápice,
e o vejo descer, lento, escondendo sua luz, e vejo então estrelas, vagalumes,
vejo a lua silenciosa lá em cima, ela não julga nada.
Eu vejo pessoas bonitas
crianças lindas, idosos solenes,
vejo e cheiro flores vivas, garbosas...
e mesmo assim....
não perco, inebriado, o lado sem Luz da vida,
obscuro, mal cheiroso, sofrido, ardente,
pois também vejo, sem desviar o olhar,
e reafirmo, não quero deixar de ver a horrível figura do mundo em dor,
eu a sei, quero entender sua espécie,
peso, volume e densidade.
Olho e vejo gente sem alma, gente insana,
vejo poderosos investidos, armados,
vejo chefes articulando guerras de nações,
lutas de grupos, de famílias, de amigos, tropeço nas articulações e projetos do mal.
Observo bravatas de valentes horríveis,
vejo sanções à verdade,
vejo preconceitos, racismos,
fobias diversas, neuróticas fobias,
à pobreza, à indigência, às chagas feias nos rostos marcados, vincados,
vejo terremotos vindo,
vejo mortes, muitas, muitas mortes,
e vejo gente indiferente, intocadas...
No entanto, abro os olhos para alegrias, para a música, para as cores,
olho tudo com muito afinco.
E, sistemático,
não fecho os olhos para a horrível cena mundial, a dor e o sangue,
vejo tudo daqui da Torre da minha pineal, da minha hipófise confusa,
da minha perplexa tireoide,
do meu coração aflito,
do meu fígado azedado,
do meu plexo, perplexo e enojado com toda aberta capacidade desumana.
Sinto o pulsar, o ritmo do timo piscar para um esternum do peito, intermitente, abrindo e fechando,
e percebo meus meus olhos, que choram,
vejo tudo, quero ver tudo,
não fujo de nada,
quero aprender tudo, olhar nesse espelho,
enxergar minha humanidade desumana, em tudo,
Vejo-me acolher com engasgo, tudo que somos capazes,
a lama fétida da humana excrescência...
E, contudo,
quero o Bem!
quero ser bom!
quero ser bem melhor.
Quero o belo e o Bem,
mesmo que o Mal esteja nele colado,
Pois a essência é inevitável...
O bem e o bom e o belo...
O bom, e bom, e bom!
só screvo o que vejo...
"Poeta bom é poeta que vive,
e que vê,
e que escreve,
mesmo tudo isso!!!
Carlos Wagner

quarta-feira, julho 29, 2020

"Poesiar" a experiência, sempre

LAO TSÉ
TAO TE CHING – 
cap. 11º

Trinta raios convergem ao vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo

A argila é trabalhada na forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto

Portas e janelas são abertas na construção da casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa
Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade”

Lao Tsé

quinta-feira, abril 02, 2020

Meia-Noite no Planeta Quarentena: Dylan ataca de novo

Por Pepe Escobar, para o Asia Times

Tradução de Patricia Zimbres, para o 247

Que timing espetacular. Como um tiro ricocheteando nas Portas do Céu, enquanto uma pandemia viral faz estragos ferozes e o Planeta Quarentena é o novo normal, Bob Dylan produziu uma estarrecedora obra-prima de 17 minutos, dissecando o assassinato de JFK, ocorrido em 22 de novembro de 1963, lançando-a à meia-noite, horário da Costa Leste dos Estados Unidos.

Para a geração do baby-boom, para não mencionar os dylanólogos obsessivos, esse é o sucker punch supremo. Incontáveis olhos mergulharão em piscinas para revisitar todas as lembranças que redemoinham em torno "do dia em que estouraram os miolos do rei / Milhares assistiam, ninguém viu nada" (the day they blew out the brains of the king/ Thousands were watching, no one saw a thing).  Mas isso não é tudo: o Dylanmobile nos leva num tour mágico e misterioso dos anos 60 e 70, junto com os Beatles, a Era de Aquário e o Tommy, do The Who.

Se há algum artefato cultural capaz de disparar um poderoso solavanco por toda uma América perplexa, que tenta se haver com um Beco da Desolação distópico, aqui está ele, obra do verdadeiro e incontestado Excepcionalista americano. Os tempos estão mudando. Sim, estão mesmo.

Há tantas jóias nas letras de Dylan que seria necessário um tratado para rastrear o turbilhão de música, literatura, referências cinematográficas e de miscelânea Americana entrelaçados em cada verso.

Agência do Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos

Trata-se, essencialmente, de um mantra encantatório com um arranjo para piano, percussão esparsa e violino. Temos dois narradores: um Kennedy moribundo ("No banco de trás, ao lado de minha mulher / Rumando direto para o além / Tombo para a esquerda, minha cabeça em seu colo / Ó, Deus, me armaram uma cilada (Ridin’ in the backseat next to my wife / Headin’ straight on in to the afterlife / I’m leanin’ to the left, got my head in her lap / Oh Lord, I’ve been led into some kind of a trap") e o próprio Dylan.

Ou isso pode ser lido como Dylan no papel do duplo de Kennedy, com intervenções ocasionais, como as dos supostos assassinos ("Então estouraram seus miolos ainda no carro / Abatido como um cão em plena luz do dia / Questão de timing, e o timing foi preciso / Você tem dívidas a pagar, e viemos cobrar / Vamos matar você com ódio e sem o menor respeito / Vamos zombar de você, e chocar você e rir na sua cara / Já temos alguém para pôr no seu lugar" ("Then they blew off his head while he was still in the car / Shot down like a dog in broad daylight / Was a matter of timin’ and the timin’ was right / You got unpaid debts we’ve come to collect / We gonna kill you with hatred, without any respect / We’ll mock you and shock you and we’ll grin in your face / We’ve already got someone here to take your place").

A pérola no coração do mantra é nada menos que apocalíptica: "Mataram ele uma vez, mataram ele duas vezes/ Mataram como num sacrifício humano / No dia em que mataram ele alguém me disse: 'Filho, a era do Anticristo está só começando'" ("They killed him once and they killed him twice / Killed him like a human sacrifice / The day that they killed him someone said to me, / ‘Son, The Age of the Antichrist has just only begun'").

Qualquer palavra adicional para definir a canção seria desnecessária. Onde quer que você esteja no Planeta Quarentena, recoste-se, entre em modo trancado em casa/socialmente distanciado, ligue o som, sintonize e  viaje no tempo.  Haverá sangue nas faixas.

domingo, março 15, 2020

Tudo tem que passar, necessariamente...


Uma reflexão sobre o fim das coisas


Em 2007, quando a Banda brasileira "Los Hermanos" acabou, da qual sou ainda muito fã, o Pedro Maia, meu sobrinho, me perguntou: "E aí, tá muito triste com o término do Los Hermanos? Cê tá de luto?

Respondi: Pra quem já viu e viveu o fim dos Beatles, isso é fichinha!

Mas, dá para fazer uma reflexão mais aprofundada sobre essa coisa de "perder" ídolos ou coisas importantes. Fui longe e pensei nos momentos em que pude sentir essa coisa da perda, da morte, do fim de namoros, da despedida de quem vai para longe.
 É claro que existem dores mais fortes do que outras, principalmente aquelas ligadas a perdas irreversíveis, como a morte por exemplo. E no meu caso, e de muitos de nós, particularmente, a partida súbita do Rogério, meu irmão, em 1983. Foi uma das primeiras de todas na minha casa. É muito dura a experiência da morte.
Porém, vivemos todo os dias a morte de alguma forma, na descontinuidade das coisas. Nós queremos que muitas coisas durem, principalmente aquelas que são boas, simpáticas e prazerosas. Talvez a nossa incapacidade de viver o presente nos leve a esse tipo de desencontro. Estamos de tal forma ligados ao passado, à experiência boa ou ruim, que deixamos de verificar com plenitude as coisas do "agora". Ficamos, quase sempre, ou querendo preservar o prazer, ou buscando evitar a dor já vivida e conhecida. Vivemos, então, agora, ligados no passado e projetando o futuro. Abdicamos do "agora".
É claro que o que foi bom, seria bom viver de novo. Mas para isso precisaríamos estar nas mesmas condições em que estávamos quando da vivência daquela experiência. Como isso é impossível, tudo será sempre novo, seremos sempre outros, e as experiências nunca se repetirão.
Deveríamos, portanto, estar prontos para o sempre novo, mesmo que eles se referissem a coisas do passado. Uma música, por exemplo, a cada momento que a escutamos, obtemos emoções novas, percepções novas, como se a lente que nos permite enxergar, sempre providenciasse novos olhares, porque assim o é.
Por isso, não importa se os Beatles acabaram, o Led Zeppelin, os Novos Baianos e, é claro, o Los Hermanos mesmo! O que importa é que a obra desses artistas está aí para apreciarmos, e já não pertencem a eles, e podemos ouvi-las sempre, ou não!
Finalmente, perceber o fluxo das coisas é perceber a morte e a vida, a todo momento. Um leite que entorna, um ónibus que perdemos, um objeto que alguém rouba ou que perdemos, uma derrota de um time amado. Uma criança que nasce, um olhar de flerte, uma amizade que se inicia, uma chuva que refresca. Lá e cá, há sempre fluxo, entradas e saídas.
Quero então, a propósito, encerrar este texto com uma parte de uma letra de uma música do Marcelo Camelo, Los Hermanos, que diz:
"Quem acha que perder é ser menor na vida, quem sempre quer vitória, esquece a gloria de chorar",
e também do Rodrigo Amarante,LH, "então, tentar prever, serviu pra eu me enganar". Também Lulu Santos e Nelson Mota, "nada do que foi, será, do jeito que já foi um dia", e é claro, George Harrison, com a explícita "All things must pass” , toda ela.
"Fecho com Mário Quintana, "Todas as coisas passarão, Eu passarinho”!!
Carlos wagner


sexta-feira, março 13, 2020

Sinais nos tempos de sempre.

Novos velhos tempos, novos velhos virus.
A alma pequena dos homens mais uma vez olha perplexa e pergunta angustiada:

e agora, pra onde ir, por onde escapar?
E o velho Sísifo mais uma vez carrega sua bola de pedra, e inevitável ele voltará ao ponto de partida. E ele não olha para outro objetivo a não ser acreditar que essa pedra um dia ficará presa no topo, e a ilusão de monte, topo e pedra, tempo e esforço o cega completamente.
É assim que somos, cegados pelas vizeiras de nossos cabrestros, só enxergamos na reta de nossos objetivos egóicos. E quando lhamos para nossas energias e capacidades, às vezes cremos estar fortes, às vezes sabemo-nos muito fracos, mas pensamos sempre como um robô: É isso memso, a vida é assim! Vou me esforçar mais na próxima tarefa, na próxima subida,  na próxima promessa, nas próximas resoluções.
Porém, a condição de Sísifo nunca é minimamente questionada, seguimos com a culpa de sermos preguiçosos e indolentes, ou iludidos de nossas forças de vontade .Mas, como . Sísifo é um Deus, ou um mito com poder, somos orgulhosos de nossa condião de seres superiores nessa mata de animais terrenos. Somos o Rei da selva, inóspita e desértica da vida humana.Pobres diabos.
E mais uma crise nos atola de preocuação e angústia.  E nossa prisão torturante forjada a tempo e espaço, e três em mim imensões, cujas medidas relativas se transformam em nossas medidas de consciência, de Eus de nós mesmos, de medo e de autoestima fragilizada.

Até quando e quantum?

quarta-feira, abril 10, 2019


https://jeanwyllys.blogosfera.uol.com.br/

Meu querido, meu velho, meu amigo


(Foto: Arquivo Pessoal)
Difícil iniciar esta carta lhe perguntando se você está bem ou desejando que essas palavras lhe encontrem bem. Difícil porque sei que, por mais forte e resistente que você seja às injustiças e às dores que lhe foram infligidas ao longo desses anos, nada pode estar bem ou bom na situação em que você se encontra. Sua altivez e dignidade quando em público não mudam o fato de que você é um senhor idoso, com mais de 70 anos, que não oferece qualquer risco à sociedade brasileira, logo, de que sua prisão contraria todos os princípios de justiça e empatia, mesmo que ela estivesse baseada em provas e num processo condizente com um estado democrático de direito, coisa que sabemos que não está.
Para qualquer pessoa de bom senso, no Brasil e no mundo (e eu tenho corrido o mundo, meu querido), não faz qualquer sentido você estar preso – sem provas e por sentenças escancaradamente fraudulentas, até mesmo mal escritas e com trechos copiados de outras, dadas por juízes e juízas que agem como políticos vingativos, desonestos intelectualmente e ressentidos – enquanto notórios corruptos do mundo empresarial, do mercado financeiro, dos meios de comunicação e de partidos como MDB, DEM, PP, PSL (ratos menores, mas não menos perigosos) e PSDB gozam de liberdade e dos frutos da pilhagem; e enquanto um sujeito burro, comprovadamente odioso em relação às minorias sexuais e étnicas e com ligações suspeitíssimas com organizações criminosas paramilitares que praticam execuções extrajudiciais em troca de dinheiro desgoverna o país, revelando ao mundo o que há de pior no caráter nacional.
Escrevo-lhe esta carta, meu velho, porque amanhã essa sua prisão injusta faz aniversário. Há um ano você é um preso político, retirado fisicamente da cena pública sob acusações vindas de uma operação da Justiça e Ministério Público federais de Curitiba que, hoje estamos sabendo, não tinha apenas o propósito de criminalizar o PT e as esquerdas em favor da extrema direita fundamentalista cristã e miliciana, mas sobretudo o de se apropriar privadamente de recursos públicos (bilhões de reais!), ou seja, o de assaltar os cofres públicos, mas com os requintes de uma organização mafiosa, tudo sob a narrativa mentirosa de "combate à corrupção" – devidamente sustentada e reproduzida por uma imprensa historicamente antipetista – que tanto agrada à parte da classe média estúpida e alienada, porém arrogante, amedrontada, ressentida e invejosa.
Escrevo-lhe esta carta do exílio que me impus para escapar da morte violenta que me rondava aí. Sabe, Lula – e seguramente você deve saber, porque tem amigos que foram exilados durante os anos terríveis da ditadura civil-militar no Brasil – o exílio não é nada fácil. É uma "longa insônia", como já disse o escritor francês Victor Hugo. Eu direi que é um "não-lugar", para citar outro francês, o filósofo Marc Augé. No exílio, estamos permanentemente a caminho, numa estrada sem retorno à vista e cujo fim não se pode vislumbrar. Trata-se de um salto interminável de um lado para outro a que não se chega, e com o abismo a nos espreitar baixo. O exílio é um além, meu amigo.
Contudo, o exílio é melhor que a prisão. Esse além ainda pode ser uma vida em liberdade espacial. O salto pode ser sentido e visto como um vôo. Pode-se aproveitar a paisagem do interminável caminho que ele é. E é esse o sentido que tenho dado ou tentado dar ao meu exílio, em nome dos que aí ficaram e estão ameaçados. Em cada espaço que se abre para mim na Europa, nos EUA, no Canadá e em países da América Latina, eu tenho apontado para a nuvem de gafanhotos que paira sobre – e já devora – a nossa democracia ainda em broto; tenho denunciado sua prisão arbitrária e gritado "Lula livre!", colando adesivos em postes, e tenho tornado presente a memória de nossa saudosa Marielle Franco, exigindo que se descubra quem mandou matá-la.
Muitos têm me acompanhado, Lula. Você não está só! E o propósito dessa carta é o de lhe dizer isso. Ainda que todos no Brasil e no mundo o esqueçam – algo impossível, porque você já é história e vive na dignidade de cada pobre, preto, preta, favelado, periférico, gay, lésbica, travesti, evangélico, católico, judeu, umbandista, indígena, camponês, operário e trabalhador informal conquistada durante e por causa de seus governos, mesmo que estes não tenham consciência e até lhe sejam ingratos, insultando-o nas redes sociais – ainda que isso aconteça, eu estarei com você, não importa o preço que eu tenha que pagar por isso. Não tenho medo da impopularidade. E a gratidão e a bondade são algumas das minhas virtudes, entre meus muitos defeitos.
Desde 1989, eu o vejo como o pai que meu pai poderia ter sido. Seguramente você teria, a princípio, algum problema com minha homossexualidade, com o pai meu teve, mas, certamente, superaria isso e me amaria como sempre e me protegeria dos horrores da homofobia. De alguma maneira, Lula, eu segui seus passos a partir de então. E desde que meu pai se foi deste mundo, em 2001, você é a referência paterna em minha vida.
Outro dia, andando sozinho pela madrugada fria da Berlim iluminada e quase vazia, com os fones de ouvido e o iMusic (Você sabe o que é isso? É uma espécie de caixa de músicas do celular) em modo aleatório, chegou-me uma canção de Roberto Carlos cujos versos me tocam profundamente. Porque me falam de meu pai e mais ainda de você, meu querido.
"Esses seus cabelos brancos bonitos; esse olhar cansado profundo, me dizendo coisas num grito; me ensinando tanto do mundo; e esses passos lentos de agora, caminhando sempre comigo, já correram tanto na vida, meu querido, meu velho, meu amigo… Sua vida cheia de histórias e essas rugas marcadas pelo tempo, lembranças de antigas vitórias ou lágrimas choradas ao vento; sua voz macia me acalma e me diz muito mais do que eu digo, me calando fundo na alma, meu querido, meu velho, meu amigo! Seu passado vive presente nas experiências contidas nesse coração consciente da beleza das coisas da vida. Seu sorriso franco me anima; seu conselho certo me ensina. Beijo suas mãos e lhe digo, meu querido, meu velho, meu amigo: tudo isso é pouco diante do que sinto".
Eu quero é te ver livre, guerreiro.
Te amo.
Jean Wyllys

Todos novos em Capetinga

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Olha aí o pessoal lá de antes...

O lobo da estepe - Hermann Hesse

  • O lobo da estepe define minha personalidade de buscador

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