Meu jardim
Carlos Wagner
Na volúpia da vida
ervas surgem, secam e ressurgem
plantas de desejos e anseios
medos e sombras
sementes e brotos desejosos
exigentes, e muitas vezes tirânicos
incomodos, mimados
Preenchem os cômodos e os canteiros
áreas de sombras
nascem sem mim ou de mim
sugam a alegria do jardineiro pedinte
dispersam dele a atenção
E ele deseja, como deseja...!
plantar ervas que elevem ao puro solo
Meu jardim está imperfeito
sou um jardineiro anelante
que vê brotarem ervas estranhas
carentes de luz e de Alma Viva
ervas que não entende
nem reconhece
de apegos, dores, vícios e prazeres
Meu jardim inteiro
interior jardineiro
voltou a secar as boas plantas de vida
tudo vai e vem, começo e finitude
O jardineiro anseia
por ervas remédios
pra alma e corpo
curadoras de jardim
e da doente alma-eu mendiga
que ele inteiro beira sarar
Meu jardim é o meu mundo
de sombras e luzes
fugazes alegrias, e dores
Onde dormita a paz?
Quem fez a promessa
que por árduo trabalho
virá limpeza definitiva?
Quem ensina a boa agrimensura?
Onde, como, quanto cuidar?
O jardineiro-eu está impotente
e cego
perdido nos sinais que vê indicarem
a lavoura alvorada
a cura e a pura colheita
Meu jardim me envolve
ouve, devolve, dissolve, revolve
sinaliza símbolos
e desenha segredos
Meu jardim, meu mundo
sou seu andarilho
afogado na néscia perspectiva
de fazer brotar as plantas do elixir
de uma única cura:
Milagrosa e Misteriosa
Meu jardim é desejo constante
da promessa de cura
do Amor, o Remédio Universal
e o jardineiro-eu que sou
mendiga deitado na fonte de Bethesda
grita pela força, morto vivo
a esperar o agitar das águas
Deixar de estar morto, seu sonho
para ver nascer o Jardineiro-Alma
aquele que aguarda ser encontrado
e acionado, o manso
pronto para rejuvenescer o solo
fazer chegar a luz aos cantos
e fazer nascer, brotar, criar
novas ervas e frutos, curadores
irrompendo no solo da Vida real
onde inquilino-me
como Raul, há dez mil anos
Soa o anelo que desperta ervas
de pulsante vida de Amor terno
sanadoras de jardins mal cuidados
abandonados por erro comum
a ignorância errática
de desconhecer a Luz sempre presente
cegada por véus do si mesmo.
Meu jardim, seu jardim
dele jardim
mar de sombras amigas e jasmins
ilusões, tiros de festins
de vida complexa, começo e meios
que não se justificam no fim
onde tudo leva a
abandonar o tudo em torno de mim
Carlos Wagner
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