http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/04/1873527-sem-caetano-talvez-tropicalia-nao-existisse-comigo-nao-existiria-diz-gil.shtml?cmpid=compfb
domingo, abril 09, 2017
sexta-feira, janeiro 13, 2017
Sobre a Canção
E seu entorno e o que ela pode se tornar
https://tuliovillaca.wordpress.com/
http://tuliovillaca.wordpress.com
George Harrison entre deuses e homens
All things must pass, o primeiro trabalho solo de George Harrison após a separação dos Beatles, em 1970, é considerado por grande parte da crítica como a melhor e mais completa realização musical de qualquer um de seus ex-integrantes. Um feito extraordinário para quem fora deixado em segundo plano como compositor pela dupla Lennon/McCartney, e mais ainda considerando a discografia posterior deles, e o fato de George ter feito um álbum triplo, o primeiro de um único artista, com o repertório que trazia represado. Justamente por isso, não chega a se tratar de um álbum conceitual. Ainda assim, todo ele traz implícita a visão de mundo e de religiosidade que George fora formando nos últimos anos, ao procurar as filosofias orientais. A fusão entre estas experiências com a música e a filosofia indianas e o histórico musical de Harrison são o fio condutor de All things must pass. E o single escolhido para apresentar o álbum ao público resume e define esta fusão, trazendo de um lado My sweet Lord, e de outro Isn’t it a pity.
São duas canções de origens bem diversas. My sweet Lord havia sido composta apenas um ano antes, mas já fora gravada pelo cantor de soul Billy Preston. Isn’t it a pity era mais antiga, de 1966, mas fora deixada de lado pelos Beatles sucessivamente nos álbuns Revolver, Sgt. Pepper’s e Let it be. George inicialmente não queria que fosse lançado nenhum single, para não tirar o impacto do lançamento do álbum. Os produtores preferiam destacar My sweet Lord, que Harrison temia que fosse interpretada apenas como uma canção religiosa. Harrison preferia Isn’t it a pity como o primeiro single do álbum, tendo sido demovido pelo tamanho da faixa – mais de sete minutos. Ao fim, foram lançados singles com combinações diversas de canções em diversos países, incluindo What is life na Inglaterra e Apple Scruffs em outros países. Porém, nos EUA decidiu-se que o compacto seria lançado como tendo dois lados A, uma invenção dos Beatles para lançar Day tripper/We can work it out, em 1965. Esta decisão quase acidental, colocar face a face estas duas canções, acabou tornando este compacto um díptico, uma joia em si extraída da grande joia que é a estréia de Harrison. Uma canção para Deus, uma sobre os homens.
A inspiração para My sweet lord veio do conhecido hino religioso Oh happy day, com a qual manteve semelhanças harmônicas. A passagem do Aleluia ao Hare Krishna é apenas mais um detalhe numa letra que se refere ao Senhor sem nomeá-lo, apenas expressando o desejo de alcançá-lo e conhecê-lo, e uma melodia cuidadosamente desenhada como a fusão perfeita entre um canto gospel e um mantra, em forma e conteúdo, com suas perguntas e respostas, os versos ascendendo à nota fundamental em V/I como expressão de uma vontade imensa, e o clamar pela divindade deslizando num II/V, indo à dominante como algo que não se alcança, e também a repetição de uma pequena fórmula com pouquíssimas variações para causar o efeito hipnótico, induzir ao transe. Faça o exercício mental: imagine esta canção num coro protestante, ou numa roda hare krisna, com suas respectivas danças, palmas e pandeirolas.
Onde My sweet lord é um louvor, Isn’t it a pity é um lamento. No lugar do andamento alegro, um andante marcado, em especial pela bateria tão característica de Ringo Starr. Se My sweet lord é sobre fé, Isn’t it a pity é sobre compaixão. No lugar das afirmações e ascenções melódicas, uma sutileza em versos como How we break each other’s hearts e How we take each other’s love, que desembocam em acordes diminutos e dominantes secundárias, terminando em suaves descidas de apenas meio tom, fora da escala original. A primeira pessoa do singular da busca individual de My sweet lord passa para o plural e torna-se uma busca coletiva não do transcendente, mas do simples entendimento mútuo. Embora composta antes dos problemas de relacionamento que deram fim ao grupo, Isn’t it a pity é frequentemente ouvida como um comentário a eles, mas, mesmo que eventualmente tenha sido composta com este foco, a inclusão em All thing must pass alarga seu escopo e a alinha com as elucubrações existenciais do álbum, transformando-a numa perquirição da natureza humana e sua possibilidade de redenção.
Se filosoficamente All things must pass é extremamente coeso, musicalmente ele corria o risco de soar como uma colcha de retalhos, contendo canções de diversos momentos. Um dos fatores principais a contribuir para a definição da sonoridade do álbum é a produção do americano Phil Spector, que já fora responsável por Let it be, último e controverso álbum dos Beatles, em que interferiu tremendamente na sonoridade da banda. As gravações estenderam-se por meses entre imprevistos como um braço quebrado de Phil numa queda no estúdio e a morte da mãe de George, mas também porque o método de Phil exigia gravações sobre gravações. Chamado Wall of sound, na definição de seu criador era uma abordagem wagneriana do rock’n roll, e consistia na gravação em muitas camadas, com instrumentos gravando suas partes várias vezes (dobrando, na gíria de estúdio) e com reverberação, dando uma impressão grandiosa e orquestral. A gravação de My sweet lord inclui ao menos doze músicos, sendo seis violões e guitarras (uma tocada por Eric Clapton, outras duas por George), dois pianos (elétrico e acústico) e duas baterias. Isn’t it a pity não fica atrás, com dois pianos e dois órgãos, além de varias guitarras e do arranjo orquestral. O resultado é épico, grandioso, e cai como uma luva tanto nas especulações existenciais como no louvor ecumênico de Harrison, servindo como amálgama entre elas.
Ouvido como o díptico que afinal é, o compacto My sweet lord/Isn’t it a pity traz uma mensagem algo ambígua. Afinal, esta redenção que é simultaneamente alcançar a visão da divindade e o entendimento entre os homens, é possível? I really wanna see you / but it takes so long, my lord, canta George, para pouco depois como que se corrigir: I really wanna show you / that it won’t take long. Até mesmo em meio ao louvor, está explícita a dificuldade de viver num mundo material – título de um álbum posterior de George, Living in a material world. Em Isn’t it a pity, estas dificuldades ficam mais patentes, ou melhor, toda a canção é sobre elas. A sensação final de uma escuta sequencial pode ser desalentadora. Ou poderia. Para evitar esta conclusão desesperançada ao fim de Isn’t it a pity, contrária a suas próprias crenças pessoais, George Harrison não hesitou em recorrer a ninguém menos que Lennon e McCartney.
Assim como My sweet lord traz em si a dicotomia e a resolve com a alternância entre as saudações aleluia/hare krishna, Isn’t it a pity encerra-se com uma espécie de mantra responsável por sua extensão de sete minutos. What a pity, pity, pity, clama George, como uma pergunta lançada ao céu. E a resposta vem surgindo aos poucos em fade in, no coro que vai tomando corpo e cantando o la la la de… Hey Jude, a canção sobre esperança e superação composta na verdade por Paul para o filho de Lennon, Julian, quando seus pais se separavam e John casava-se com Yoko Ono. (Segundo Paul, a contribuição de Lennon na canção é pela manutenção do verso the movement you need is on your shoulder. Paul o achava fraco e queria trocá-lo, mas Lennon o convenceu a mantê-lo considerando-o o melhor verso da canção.) Hey Jude, de 1968, é de certa forma uma resposta involuntária aos questionamentos de Isn’t it a pity, ou talvez não a resposta, mas a admissão de que it takes so long, mas que é preciso, apesar de tudo, não desanimar. A citação de Hey Jude é um acerto de contas com os Beatles, ao sinalizar que, da dor do rompimento, o que foi feito de bom sobrevive e dá sentido ao vivido, mas é também um consolo e um alento a quem não vê esperança, enxuga as lágrimas de quem não enxerga a beleza em torno, toma uma canção triste e a torna melhor.
___________________________________________
Artigo publicado em maio de 2016 na revista digital Acorde! O aplicativo da revista pode ser baixado gratuitamente aqui, dando acesso a diversos e excelentes colunistas e matérias em vídeo, áudio e escritas.
São duas canções de origens bem diversas. My sweet Lord havia sido composta apenas um ano antes, mas já fora gravada pelo cantor de soul Billy Preston. Isn’t it a pity era mais antiga, de 1966, mas fora deixada de lado pelos Beatles sucessivamente nos álbuns Revolver, Sgt. Pepper’s e Let it be. George inicialmente não queria que fosse lançado nenhum single, para não tirar o impacto do lançamento do álbum. Os produtores preferiam destacar My sweet Lord, que Harrison temia que fosse interpretada apenas como uma canção religiosa. Harrison preferia Isn’t it a pity como o primeiro single do álbum, tendo sido demovido pelo tamanho da faixa – mais de sete minutos. Ao fim, foram lançados singles com combinações diversas de canções em diversos países, incluindo What is life na Inglaterra e Apple Scruffs em outros países. Porém, nos EUA decidiu-se que o compacto seria lançado como tendo dois lados A, uma invenção dos Beatles para lançar Day tripper/We can work it out, em 1965. Esta decisão quase acidental, colocar face a face estas duas canções, acabou tornando este compacto um díptico, uma joia em si extraída da grande joia que é a estréia de Harrison. Uma canção para Deus, uma sobre os homens.
A inspiração para My sweet lord veio do conhecido hino religioso Oh happy day, com a qual manteve semelhanças harmônicas. A passagem do Aleluia ao Hare Krishna é apenas mais um detalhe numa letra que se refere ao Senhor sem nomeá-lo, apenas expressando o desejo de alcançá-lo e conhecê-lo, e uma melodia cuidadosamente desenhada como a fusão perfeita entre um canto gospel e um mantra, em forma e conteúdo, com suas perguntas e respostas, os versos ascendendo à nota fundamental em V/I como expressão de uma vontade imensa, e o clamar pela divindade deslizando num II/V, indo à dominante como algo que não se alcança, e também a repetição de uma pequena fórmula com pouquíssimas variações para causar o efeito hipnótico, induzir ao transe. Faça o exercício mental: imagine esta canção num coro protestante, ou numa roda hare krisna, com suas respectivas danças, palmas e pandeirolas.
Onde My sweet lord é um louvor, Isn’t it a pity é um lamento. No lugar do andamento alegro, um andante marcado, em especial pela bateria tão característica de Ringo Starr. Se My sweet lord é sobre fé, Isn’t it a pity é sobre compaixão. No lugar das afirmações e ascenções melódicas, uma sutileza em versos como How we break each other’s hearts e How we take each other’s love, que desembocam em acordes diminutos e dominantes secundárias, terminando em suaves descidas de apenas meio tom, fora da escala original. A primeira pessoa do singular da busca individual de My sweet lord passa para o plural e torna-se uma busca coletiva não do transcendente, mas do simples entendimento mútuo. Embora composta antes dos problemas de relacionamento que deram fim ao grupo, Isn’t it a pity é frequentemente ouvida como um comentário a eles, mas, mesmo que eventualmente tenha sido composta com este foco, a inclusão em All thing must pass alarga seu escopo e a alinha com as elucubrações existenciais do álbum, transformando-a numa perquirição da natureza humana e sua possibilidade de redenção.
Se filosoficamente All things must pass é extremamente coeso, musicalmente ele corria o risco de soar como uma colcha de retalhos, contendo canções de diversos momentos. Um dos fatores principais a contribuir para a definição da sonoridade do álbum é a produção do americano Phil Spector, que já fora responsável por Let it be, último e controverso álbum dos Beatles, em que interferiu tremendamente na sonoridade da banda. As gravações estenderam-se por meses entre imprevistos como um braço quebrado de Phil numa queda no estúdio e a morte da mãe de George, mas também porque o método de Phil exigia gravações sobre gravações. Chamado Wall of sound, na definição de seu criador era uma abordagem wagneriana do rock’n roll, e consistia na gravação em muitas camadas, com instrumentos gravando suas partes várias vezes (dobrando, na gíria de estúdio) e com reverberação, dando uma impressão grandiosa e orquestral. A gravação de My sweet lord inclui ao menos doze músicos, sendo seis violões e guitarras (uma tocada por Eric Clapton, outras duas por George), dois pianos (elétrico e acústico) e duas baterias. Isn’t it a pity não fica atrás, com dois pianos e dois órgãos, além de varias guitarras e do arranjo orquestral. O resultado é épico, grandioso, e cai como uma luva tanto nas especulações existenciais como no louvor ecumênico de Harrison, servindo como amálgama entre elas.
Ouvido como o díptico que afinal é, o compacto My sweet lord/Isn’t it a pity traz uma mensagem algo ambígua. Afinal, esta redenção que é simultaneamente alcançar a visão da divindade e o entendimento entre os homens, é possível? I really wanna see you / but it takes so long, my lord, canta George, para pouco depois como que se corrigir: I really wanna show you / that it won’t take long. Até mesmo em meio ao louvor, está explícita a dificuldade de viver num mundo material – título de um álbum posterior de George, Living in a material world. Em Isn’t it a pity, estas dificuldades ficam mais patentes, ou melhor, toda a canção é sobre elas. A sensação final de uma escuta sequencial pode ser desalentadora. Ou poderia. Para evitar esta conclusão desesperançada ao fim de Isn’t it a pity, contrária a suas próprias crenças pessoais, George Harrison não hesitou em recorrer a ninguém menos que Lennon e McCartney.
Assim como My sweet lord traz em si a dicotomia e a resolve com a alternância entre as saudações aleluia/hare krishna, Isn’t it a pity encerra-se com uma espécie de mantra responsável por sua extensão de sete minutos. What a pity, pity, pity, clama George, como uma pergunta lançada ao céu. E a resposta vem surgindo aos poucos em fade in, no coro que vai tomando corpo e cantando o la la la de… Hey Jude, a canção sobre esperança e superação composta na verdade por Paul para o filho de Lennon, Julian, quando seus pais se separavam e John casava-se com Yoko Ono. (Segundo Paul, a contribuição de Lennon na canção é pela manutenção do verso the movement you need is on your shoulder. Paul o achava fraco e queria trocá-lo, mas Lennon o convenceu a mantê-lo considerando-o o melhor verso da canção.) Hey Jude, de 1968, é de certa forma uma resposta involuntária aos questionamentos de Isn’t it a pity, ou talvez não a resposta, mas a admissão de que it takes so long, mas que é preciso, apesar de tudo, não desanimar. A citação de Hey Jude é um acerto de contas com os Beatles, ao sinalizar que, da dor do rompimento, o que foi feito de bom sobrevive e dá sentido ao vivido, mas é também um consolo e um alento a quem não vê esperança, enxuga as lágrimas de quem não enxerga a beleza em torno, toma uma canção triste e a torna melhor.
___________________________________________
Artigo publicado em maio de 2016 na revista digital Acorde! O aplicativo da revista pode ser baixado gratuitamente aqui, dando acesso a diversos e excelentes colunistas e matérias em vídeo, áudio e escritas.
Sobre a Canção
E seu entorno e o que ela pode se tornar
terça-feira, janeiro 10, 2017
O ESCORÇO
Wellington Kallil
Metáfora/afora/fora a
índole jurada de crise e rock’n’roll
a pegada ritual do meu canto
é braço de mar desgovernado
viagem sem remo
rumo revolto
entre hum sample e grifos andróginos
reverberando no caos
Velas eriçadas/riçadas/içadas
singrando os sete mares
memória de maresia desarvorada
proa sem pé nem cabeça
leme quebrado
pelejando contra a maré
nas águas do tumulto
mar imenso mar
rio sem margens
dentro de mim
Alquebrado/brado/do
tombadilho do meu peito
empunhando a estrela do brilho
espada de iansã
silenciosa lira da manhã
à procura do delta celestial
Remembering Roy Buchanan, part 1
Remembering Roy Buchanan, part 1
Fera desconhecida!!!
Uma alma inquieta e pesquisadora!
segunda-feira, novembro 07, 2016
terça-feira, setembro 27, 2016
sexta-feira, setembro 23, 2016
O Porto do Simples...
Carlos Wagner
Digo, de mim a mim mesmo:
- doce agora você ser eu
sereno, simples, por simplesmente saber!
Mas dói percorrer a saga...dura enquanto durante...
Mergulho
e, novamente, ter a ver contigo, mim mesmo
mesmo que seja preciso ter que conter o "contigo" contido
tido e ouvido, visto, e sem ti, indo
havido e ávido, todo tido e tendo sido, e sendo em ser.
Possuído, escravo de entranhas
tecido entretecido em alma
em malhas de vias percorridas pela memória
tempos esquecidos
havidos há séculos e células de eras
e, contigo, mim mesmo
cercado em grades de tempos, urdidos a malícias ou bem-dícias
e, por milícias inteiras de ondas de seres em mim acoplados
de um eu mim mesmo surreal e verídico, composto
em dores ou prazeres
porém, entre equívocos
continuado, estressado, arrumado, guardado em dados contados
cortados por mil e uma coisas
por cento e tantas mil noites
por noitadas acordadas, mal dormidas, pernoites inteiros
perdidos dias, perfídias vidas
noites longas, ilógicas, brandas ou sórdidas
em todas as direções
norte sul, leste ou pestes, curas ou surras
e na pele, fracas marcas no hoje, fortes no fundo
guardadas em pepitas embebidas em toda a sorte de misturas
causadas por óticas caóticas, em risadas entre dentes, estridentes mordendo a rasgadas
a carne de peles trocadas, mudadas, sempre....
a carne de peles trocadas, mudadas, sempre....
Enterradas as esperanças de noites de histórias
as mais estranhas
baforadas em meus ouvidos dormidos
dormentes mentiras, em tiras de panos e papéis bizarros de peças
no palco múltiplo, teatradas plenamente cinegravadas
na tela das retidas retinas congélidas, em imagens mutantes.
Bizonhas e matreiras, bizárricas sandices, farrices do meu sub-eu-conhecido-de mim mesmo
junto com todas as desconhecidas figuras de um paineloscilante
diante de meus segredos mais profundos, inconfessos!
E ouço: - pro fundo! - pro fundo!
Dizem os muitos gritos de muitas vezes vozes.
Eu demoro, mas, a obedecer, desço em mim, cada vez mais
e mergulho raspado, cortado, cortante, apertado
tantos marcantes riscos na pele em dor.
Mergulho no orgulho, na vaidade, nas capacidades e vícios
idades remotas do meu passado desconhecido
e finalmente sozinho, em mim, e na multidão de personas e máscaras
de todas as cores e formas
vislumbro, apesar, um "eu" simples, medroso, apavorado, enrustido enrolado em rotas vestes
um "eu" simples, sem composições e mesclas
só, único, pronto para abandonar tudo que é ali lixo ad-querido...
Pronto! já posso ser fiel ao único e simples ser-se a si mesmo
ser-me em mim mesmo
livre das amarras dos lixos de identidades, milhões delas
elásticas, adquiridas pelo malquisto medo, medo, medo...
três vezes medo, medonho, de se ser um nada, correndo ao pavor
arremedo de vida, fingida, sempre atrás de quimeras
meras máscaras de personas seguras, mesmo que falsas.
Descortina-se o quadro
sou o que descubro
eu, só, no simples ser desnudo da carne dessas pessoas
que pude ter sido, estranhas aos meus apavorados olhos.
Por detrás, encarno a certeza da liberdade prometida
por um estranho amigo, num distante passado
tempos, tempos...percoridos em dores e alegrias inconfiáveis.
Vejo, vi, a benfazeja solidão perdendo sua cara tenebrosa e temerária.
No simples, perco o medo.
Já posso emergir desse bizarro aprofundamento em mim mesmo.
Alegria insólita de uma sólida solidão, solícita, amiga, solidária (in)segurança.
O que faço?
Só risos, mesmo que invisíveis, pra todos ao redor.
Rio de todos, pois vi a cara da nua verdade de mim
e mesmo assim, quero dividir com quem quiser, as migalhas disso.
O simples se enraíza!
segunda-feira, agosto 01, 2016
Santo Hilário, 2016
Nossos dias passados em Santo Hilário, nossa velha e boa Capetinga, Pimenta, MG
Uma produção de Ian Campos
Um poema sobre o simples do bom de aproveitar dias de folga nessa terra "Coutinha".
quarta-feira, julho 20, 2016
Pra Sara
Pra Sara
Você não é metade! Você é inteira!
A falta é o vazio do vaso, o espaço do infinito incontido.
Você nunca foi metade, foi sempre em si inteira,
E mesmo lá, no início, em tenra idade,
Já te sabia repleta, pensando em ser guerreira!
Você não é metade, pois é completa em se completando,
Frágil, dócil, em se equilibrando,
Abrindo asas, tímida, mas decidida e solidária.
Te vejo amando ser cidade,
Amando ser o cuidar, o amor e a capacidade.
Te vejo ser povo, lugar, cidade e cidadã.
Te vejo sem inveja, e invejo ser o que sejas.
Que seja então completa,
Cozinheira das poções,
Das mágicas, dos sabores e das canções.
Te vejo ser inteira, completa e em busca,
Pra ser intensidade, pra ser sempre mocidade,
Menina, mulher, adulta, mãe e filha.
Múltipla, amiga, pole, corda pano ou tatame.
Você não é metade!
Você repleta meu inteiro,
Que eu retorne a ti o que me dás, inteira!
Pois és importância imensa, sem medida!
Você não é metade! Você é inteira!
Você nunca foi metade, foi sempre em si inteira,
E mesmo lá, no início, em tenra idade,
Já te sabia repleta, pensando em ser guerreira!
Você não é metade, pois é completa em se completando,
Frágil, dócil, em se equilibrando,
Abrindo asas, tímida, mas decidida e solidária.
Te vejo amando ser cidade,
Amando ser o cuidar, o amor e a capacidade.
Te vejo ser povo, lugar, cidade e cidadã.
Te vejo sem inveja, e invejo ser o que sejas.
Que seja então completa,
Cozinheira das poções,
Das mágicas, dos sabores e das canções.
Te vejo ser inteira, completa e em busca,
Pra ser intensidade, pra ser sempre mocidade,
Menina, mulher, adulta, mãe e filha.
Múltipla, amiga, pole, corda pano ou tatame.
Você não é metade!
Você repleta meu inteiro,
Que eu retorne a ti o que me dás, inteira!
Pois és importância imensa, sem medida!
terça-feira, julho 05, 2016
Está Chegando a Hora - Carmen Costa (Carnaval de 1942)
Carmelita Madriaga, conhecida como Carmen Costa, foi uma cantora e compositora brasileira. Nascida no interior, aos 15 anos ela trabalhava na cidade do Rio de Janeiro como empregada doméstica do cantor Francisco Alves. Wikipédia
Nascimento: 5 de julho de 1920, Trajano de Moraes, Rio de Janeiro
Falecimento: 25 de abril de 2007, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
quinta-feira, junho 23, 2016
Às vezes pipóco
Às vezes canjíco
Ora barulha
Ora fervilha
Às vezes paçóco
Às vezes gengibro
Ora adoça
Ora aviva
Às vezes fogueiro
Às vezes fumaço
Ora clareia
Ora embaça
Às vezes pipóco
Às vezes poemo
Às vezes me calo
Às vezes inverno
Às vezes floresço
Às vezes platéio
Mas sempre em mim chama
a chama da Vida.
Sugere silêncio
Trazendo harmonia.
Às vezes canjíco
Ora barulha
Ora fervilha
Às vezes paçóco
Às vezes gengibro
Ora adoça
Ora aviva
Às vezes fogueiro
Às vezes fumaço
Ora clareia
Ora embaça
Às vezes pipóco
Às vezes poemo
Às vezes me calo
Às vezes inverno
Às vezes floresço
Às vezes platéio
Mas sempre em mim chama
a chama da Vida.
Sugere silêncio
Trazendo harmonia.
terça-feira, junho 21, 2016
PIPOCAR....
Pipocar...
Carlos Wagner
Tudo pipoca poema
põe teu ser
hemácias e glóbulos,
teu sangue alma de ti,
põe no caldeiro e mistura,
tira, da tinta escrita,
a dor que te cala,
rabisca tuas lágrimas e
mastiga engasgos,
e cospe o amargo sentido perplexo de teus nexos desejos,
arpejos atônitos
torturas noturnas
alvoradas de alívio
com o sol já no alto, assuntado, estado a pino,
poema pipoca salgada
tudo salga,
e o poema pipoca
ou termina em sapecas risadas
ou mastigo com medo os restos duros de milho,
piruás, resilientes, empedernidos,
mas mastigados assim
mesmo!
Ai, dentes velhos, aguentem firmes na luta do duro pingar da água nesta pedra viva da vida, furada a insistências!
rima acima de tudo os muros,
os puros, escuros furos,
de balas de açúcar nos dentes,
que me doem a dor e o sorriso banguelo.
E o poema pipoca poesia!
segunda-feira, junho 13, 2016
segunda-feira, maio 09, 2016
Coelhão 2016
CAMPEÃO MINEIRO DE 2016
Parabéns América!
Quando entrou na justiça, ainda foi punido e proibido de participar, por uma entidade corrupta e nefasta ao futebol do país.
Que sua jornada agora na Série A seja de resistência e que consiga se manter aí!!!
De um simpatizante atleticano!!!
terça-feira, maio 03, 2016
segunda-feira, maio 02, 2016
Dentro de mim mora um anjo - Sueli Costa
Dentro de mim mora um anjo - Sueli Costa
Canta Fafá de Belém
Quem me vê assim cantando
Canta Fafá de Belém
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas à fio
No espelho do toucador
Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Republicando texto do Petrônio - NAQUELES TEMPOS...
NAQUELES TEMPOS ...
Petrônio

Idos de 1970 …
Rua Pitangui, entre ruas Coronel Júlio Pinto e Caldeira
Brant; entre Bicas e Genoveva de Souza, Belo Horizonte/MG. Esta era a nossa “Praia”: eramos os “donos”, em todos (quase todos) os sentidos!

Este espaço era nosso, dia e noite; às vezes, até bem tarde da noite... Havia um rodízio, muito dinâmico: turmas diferentes sucediam-se, aleatoriamente. Ecléticas, sem padrão de idade, sexo, etc... Jovens agrupadas naturalmente, pela vontade de estar juntos, de formar um bando … e quase tudo dava liga.
Se a “reunião” não fosse da mesma faixa etária, os mais novos compareciam para ouvir: ingerir, ruminar, digerir … O resultado, era sempre saboroso. Estimulava, excitava, preenchia.
Rolava todo tipo de conversa: tudo era permitido, nada era proibido. Este radicalismo avassalador, era uma marca. Não interessava se os mais novos estavam próximos, se as meninas ouviam, se era cedo ou tarde da noite, se alguém falava alto, se falava baixo … tudo, tudo mesmo, rolava abertamente.
Naqueles idos, tempos de ditadura militar Brasileira, de repressão e controle social, havia este espaço urbano, livre e democrático, para todo tipo de manifestação: uma benção!
Na simplicidade, na rua, sentados no meio-fio, havia tudo o que precisávamos: liberdade (garantida por Pais e Famílias de Bem), esporte (as peladas de rua, as corridas de carrinhos de rolimã, etc.), cultura (livros que passavam de mão em mão; filmes exibidos gratuitamente em BH; música, ouvida e tocada, de todos os estilos), debates e questionamentos sem fim (sobre religião, política, arte, etc...).
Esta pesquisa por conhecimento era um objetivo de todos (uns mais, outros menos): queríamos respostas, respostas para tudo. E o debate alimentava e fomentava...
Rica e intensa era a nossa vida: o clube funcionava 24 horas por dia, sempre em atividade, pulsante, rebelde, vigoroso. E recebíamos visitantes, de todos os estilos, de diversos bairros, com diferentes visões e experiências de vida. Os que iam chegando, trazidos por amigos, às vezes, por amigos dos amigos, contribuíam com biodiversidade (o quê?); sim, com experiência de vida, experiências cambiadas naturalmente, espontaneamente.
E tínhamos pressa, muita pressa: queríamos viver tudo, a toda hora, intensamente …. Contraditoriamente, o tempo, essa aceleração que hoje fustiga e oprime, não exercia pressão sobre nossas vidas.
Era leve e tranquila a vida: a pressa era nossa! Não era do tempo sobre nós. Como isto acontecia, como ter pressa e não sentir o tempo contra nós? Não consigo entender, nem descrever, objetivamente: mistério muito além da minha compreensão...
Petrônio

Idos de 1970 …
Rua Pitangui, entre ruas Coronel Júlio Pinto e Caldeira
Brant; entre Bicas e Genoveva de Souza, Belo Horizonte/MG. Esta era a nossa “Praia”: eramos os “donos”, em todos (quase todos) os sentidos!

Este espaço era nosso, dia e noite; às vezes, até bem tarde da noite... Havia um rodízio, muito dinâmico: turmas diferentes sucediam-se, aleatoriamente. Ecléticas, sem padrão de idade, sexo, etc... Jovens agrupadas naturalmente, pela vontade de estar juntos, de formar um bando … e quase tudo dava liga.
Se a “reunião” não fosse da mesma faixa etária, os mais novos compareciam para ouvir: ingerir, ruminar, digerir … O resultado, era sempre saboroso. Estimulava, excitava, preenchia.
Rolava todo tipo de conversa: tudo era permitido, nada era proibido. Este radicalismo avassalador, era uma marca. Não interessava se os mais novos estavam próximos, se as meninas ouviam, se era cedo ou tarde da noite, se alguém falava alto, se falava baixo … tudo, tudo mesmo, rolava abertamente.
Naqueles idos, tempos de ditadura militar Brasileira, de repressão e controle social, havia este espaço urbano, livre e democrático, para todo tipo de manifestação: uma benção!
Na simplicidade, na rua, sentados no meio-fio, havia tudo o que precisávamos: liberdade (garantida por Pais e Famílias de Bem), esporte (as peladas de rua, as corridas de carrinhos de rolimã, etc.), cultura (livros que passavam de mão em mão; filmes exibidos gratuitamente em BH; música, ouvida e tocada, de todos os estilos), debates e questionamentos sem fim (sobre religião, política, arte, etc...).
Esta pesquisa por conhecimento era um objetivo de todos (uns mais, outros menos): queríamos respostas, respostas para tudo. E o debate alimentava e fomentava...

E tínhamos pressa, muita pressa: queríamos viver tudo, a toda hora, intensamente …. Contraditoriamente, o tempo, essa aceleração que hoje fustiga e oprime, não exercia pressão sobre nossas vidas.
Era leve e tranquila a vida: a pressa era nossa! Não era do tempo sobre nós. Como isto acontecia, como ter pressa e não sentir o tempo contra nós? Não consigo entender, nem descrever, objetivamente: mistério muito além da minha compreensão...
segunda-feira, abril 25, 2016
A SÍLABA DA POESIA - kallil

A SÍLABA DA POESIA
kallil
Tomai e bebei minha oblonga e não adestrada/estrada/da vida
com sinal de sílaba celestial
que peregrina à luz da lua
saga de meu lobo interior
cuja lanolina lubrifica as estepes
onde pisarei/rei e súdito
sentindo o cheiro de lua cheia
script nas estrelas
terça-feira, abril 12, 2016
quarta-feira, abril 06, 2016
sábado, abril 02, 2016
OUTROS VIRAM
OUTROS VIRAM
(música de Jorge Mautner e Gilberto Gil)
O que Walt Whitman viu
Maiakóvski viu
Outros viram também
Que a humanidade vem
Renascer no Brasil!
Teddy Roosevelt sentiu
Rabindranath Tagore.
Stefan Zweig viu também
Rabindranath Tagore.
Stefan Zweig viu também
Todos disseram amém
a essa luz que surgiu!
a essa luz que surgiu!
Roosevelt que celebrou nossa miscigenação
Até a considerou como sendo a solução
Pro seu próprio país
Pra se amalgamar
Misturar "melting pot" feliz
Não conseguiu pois seu Congresso não quis!
Rabindranath Tagore também profetizou
Ousou dizer que aqui surgiria o ser do amor
Um ser superior, civilização da emoção, da paixão, da canção
Terra do samba sim e do eterno perdão!
Até a considerou como sendo a solução
Pro seu próprio país
Pra se amalgamar
Misturar "melting pot" feliz
Não conseguiu pois seu Congresso não quis!
Rabindranath Tagore também profetizou
Ousou dizer que aqui surgiria o ser do amor
Um ser superior, civilização da emoção, da paixão, da canção
Terra do samba sim e do eterno perdão!
Maiakóvski ouviu
A sereia do mar
Lhe falar de um gentio
De um povo mais feliz
Que habita esse lugar!
A sereia do mar
Lhe falar de um gentio
De um povo mais feliz
Que habita esse lugar!
Esta terra do sol
Esta serra do mar
Esta terra Brasil
Sob este céu de anil
Sob a luz do luar!
Esta serra do mar
Esta terra Brasil
Sob este céu de anil
Sob a luz do luar!
A delinquência de uma justiça que não aceita questionamentos
A delinquência de uma justiça que não A
http://jornalggn.com.br/noticia/a-delinquencia-de-uma-justica-que-nao-aceita-questionamentos-por-vladimir-safatle
A delinquência de uma justiça que não aceita questionamentos, por Vladimir Safatle
SEX, 01/04/2016 - 15:21
ATUALIZADO EM 01/04/2016 - 15:22
Jornal GGN – Ao interpretar as palavras do ex-ministro do STF, Eros Grau, que disse que “quem não é criminoso enfrenta com dignidade o devido processo legal”, o colunista da Folha Vladimir Safatle recordou dos versos do poeta Torquato Neto: “Leve um homem e um boi ao matadouro. Aquele que gritar é o homem, mesmo que seja o boi”.
Para o filósofo, o raciocínio do ex-ministro do STF é absurdo. “Quem questionar o processo legal, por mais que tal processo seja distorcido, interessado, com mais furos do que um queijo suíço, só poderá ser visto como delinquente”.
Da Folha de S. Paulo
Por Vladimir Safatle
"Quem não é criminoso enfrenta com dignidade o devido processo legal. O delinquente faz de tudo para escapar do julgamento. Apenas o delinquente esbraveja, grita". De todas as pérolas do inesgotável Compêndio de Bolso do Autoritarismo Nacional que ilumina boa parte das opiniões correntes nos dias atuais, estas afirmações emitidas na semana passada pelo sr. Eros Grau, ex-ministro do STF, merecem ser gravadas em mármore pela sua clareza. Ao lê-las, foi difícil não lembrar imediatamente dos versos do poeta Torquato Neto: "Leve um homem e um boi ao matadouro. Aquele que gritar é o homem, mesmo que seja o boi".
Uma das especificidades da democracia é ser o regime político capaz de reconhecer que a crítica das leis e de processos legais injustos não é sinal de "delinquência". A democracia admite que a configuração atual das leis pode comportar injustiças e que, por isto, o direito não é, nunca foi, nem nunca será a expressão imanente do que tem legitimidade. Ao contrário do que acreditam alguns, não foram as leis que criaram os homens, mas os homens que criaram as leis. Eles as criaram em contextos específicos nos quais se fez valer o sistema de interesse hegemônico à época. Otto von Bismarck, que tinha ao menos a virtude da honestidade, lembrava: "Leis são como salsichas. Melhor não saber como são feitas". Por isto, é correto dizer: não são as leis que nos unem, mas a certeza de termos caminhos no interior da vida social para fazer valer a justiça. Quando tais caminhos desaparecem, não há mais união possível.
Como se não bastasse, a democracia reconhece, entre outros, o caráter falível da aplicação da lei por pessoas muitas vezes movidas por interesses particulares. Ela nos lembra que só mesmo aqueles animados por uma passividade bovina confundiriam a justiça não apenas com o regime atual das leis, mas com a interpretação atual fornecida pela opinião dos juízes.
No entanto, a afirmação do sr. Grau tem a vantagem de explicitar qual deve ser o regime de imposição da autoridade daqui em diante. Quem questionar o processo legal, por mais que tal processo seja distorcido, interessado, com mais furos do que um queijo suíço, só poderá ser visto como delinquente. Pois com o fim da Nova República através de um golpe farsesco travestido de impeachment, não será mais possível esperar que toda a população brasileira tenha um campo mínimo de conciliação no qual encontraríamos procedimentos que todos aceitem. O golpe quebrará de vez o pacto, dividindo o país clara e definitivamente em dois. A partir de então, valerá apenas a força.
Contra isto, há de se dizer com clareza: não há razão alguma para se submeter a um governo que será ilegítimo, fruto de um "processo legal" que está mais para uma verdadeira comédia do Pai Ubu. Pois esse processo de impeachment tem, ao menos, três desvios que destroem totalmente sua legitimidade. Primeiro, um dos princípios elementares da justiça é: "quem tem conflitos de interesse não pode julgar". 31 deputados indiciados na Comissão de Impeachment, lutando por sua sobrevivência, e um presidente da Câmara que é réu, tendo apresentado a proposta de impeachment para retaliar o partido da presidente em sua decisão de votar pela sua investigação no Conselho de Ética (sic), não podem julgar nada em lugar nenhum do mundo, apenas no Brasil. Segundo, o argumento das "pedaladas fiscais" não é suficiente para um impeachment, pois não posso afastar um presidente (a mais brutal de todas as penas) por práticas admitidas anteriormente e, principalmente, praticadas atualmente por outros membros do poder executivo sem maiores consequências. Por fim, não é possível afastar a presidente e empossar um senhor que assinou, na condição de presidente em exercício, decretos similares aos que levaram a presidente a perder o cargo.
Em 2013, em uma impressionante demonstração de vitalidade popular, o país deixou claro que procurava reinventar sua democracia e seu modelo de desenvolvimento econômico. Três anos depois, a casta política nacional, com sua capacidade ímpar de sobrevivência, foi capaz de produzir uma espécie de "contrarrevolução" na qual ela se conserva, chama para o governo aqueles que perderam todas as últimas eleições de que participaram e fornece, em troca, o sacrifício de seu sócio mais novo para saciar a ira de uma parte da população. Imaginar que todo o país se unirá na celebração desta farsa é não entender nada da história que se abre a partir de agora.
Tags
sexta-feira, abril 01, 2016
Publicando novamente a Saga inevitável
http://coutinhocamposnoseoutros.blogspot.com.br/2015/06/saga-inevitavel-carlos-wagner-11062015.html
http://coutinhocamposnoseoutros.blogspot.com.br/2015/06/saga-inevitavel-carlos-wagner-11062015.html
Saga, inevitável
Carlos Wagner
11/06/2015
Juncado, insólito, enxerto possível, meu eu,
pérfido doloso ídolo solitário,
Ár de árido, dormente, testas tensas, santas outrora taças cheias,
Agora de amargas seivas,
vastas taças, urdidas, mordeduras implacáveis,
as todas paixões que a mim soterraram,
mesmo antes de sabê-las,
insensíveis e inapeláveis, novamente repetidas vezes,
e bebendo goles a seco, seguros memoriais registros,
vidas e mortes num todo, num tudo querer ser,
volúpias narcóticas, indecentes, decadentes,
decendentes de minha carne,
Quero todas, embriagadas visões de Virgílio.
Me acorde Beatriz!, atriz dos sonhos de Dante,
Porque quero-as todas, intactas, como um Saulo-Paulo cego,
Quero-as de forma compulsiva e contraditório,
Bem e mal, seres da noite,
malvadas fadas danadas, domadas e,
O risco é grande de mil caminhos encruzilhados a escolher,
Dar a volta longa no tempo, de trinas dimensões, enganado, usurpado,
Nada perdendo dessas derrotas rotas, retortas em brasa,
Numa busca frenética de todo o meu ser mobilizado,
Paralisado e amassado pelo peso abafado de meu coração miserável,
Cujo único desejo é ser Maria, a Imaculada noiva do Espírito
Cujo filho é um avatar sem forma e sem nome,
podendo mergulhar dentro do meu pedinte mendigo-eu sou,
para fora de meu “eu-não-poder-ser” aquele que protagoniza a vitória possível,
nem se orgulha,
mas mergulha no aqui vale imenso de dor.
Oceano atrai-me gota. E me perco vasto!
Carlos Wagner
Assinar:
Postagens (Atom)
Todos novos em Capetinga

Olha aí o pessoal lá de antes...
O lobo da estepe - Hermann Hesse
- O lobo da estepe define minha personalidade de buscador