terça-feira, abril 15, 2025

Poesia


Minha palavra
Carlos Wagner


Sou lavrador
meu sangue, linfa e saliva
pensamentos e emoções
tudo
produz palavras, extensão de mim
ela sai dúbia, sai certa
sai com marcas, medos e vacilos
busco o ponto certo
evito, às vezes derrotado
não violar ou violentar
evitar o mal entendido
mas, na corda bamba
nada está seguro
mágoas podem chover
das nuvens de meu céu íntimo
posso errar o alvo da intenção
confundir, não clarear
matar, quem sabe?
ou sarar...
Faço silêncio
e com o coração repleto
escolho, ou não
flechas ou flores
doces ou amargas poções
Na real, a vida é experimental
recolho dores ou flores
nas relações, aprendo
e posso passar
ou sofrer novas fases
Palavras são lavras de um canteiro
um cultivo a ser compreendido
não importa se escritas
ditas com a boca e a língua
se digitadas, ditadas, gestos e sinais
virtuais, virtuosas ou nocivas
susurradas, berradas ou cantadas
adocicadas ou envenenadas
sou responsável
pai e mãe delas
elos de mim mesmo
ricocheteando no espelho pra mim
de volta ao criador indefeso
ou incauto
no inevitável auto conhecer
pra ver no que tenho sido.
Carlos Wagner




segunda-feira, abril 14, 2025

Chuva boa criadeira...

A chuva cai, o sapo fica contente
e até alegra a gente
com seu desafio:
Tião...
Oi!
Foste?
Fui
Compraste? 
Comprei!
Pagaste?
Paguei!
Me diz quanto foi...
Foi quinto réis...!





domingo, abril 13, 2025

Meu Jardim

Meu jardim
Carlos Wagner


Meu jardim está maltratado
descuidado, mal arado
sujo e misturado.
Mas não pra sempre
Na volúpia da vida
ervas surgem, secam e ressurgem
plantas de desejos e anseios
medos e sombras
sementes e brotos desejosos
exigentes, e muitas vezes tirânicos
incomodos, mimados
Preenchem os cômodos e os canteiros
áreas de sombras
nascem sem mim ou de mim
sugam a alegria do jardineiro pedinte
dispersam dele a atenção
E ele deseja, como deseja...!
plantar ervas que elevem ao puro solo
Meu jardim está imperfeito
sou um jardineiro anelante
que vê brotarem ervas estranhas
carentes de luz e de Alma Viva
ervas que não entende
nem reconhece
de apegos, dores, vícios e prazeres
Meu jardim inteiro
interior jardineiro
voltou a secar as boas plantas de vida
tudo vai e vem, começo e finitude
O jardineiro anseia
por ervas remédios
pra alma e corpo
curadoras de jardim
e da doente alma-eu mendiga
que ele inteiro beira sarar
Meu jardim é o meu mundo
de sombras e luzes
fugazes alegrias, e dores
Onde dormita a paz?
Quem fez a promessa
que por árduo trabalho
virá limpeza definitiva?
Quem ensina a boa agrimensura?
Onde, como, quanto cuidar?
O jardineiro-eu está impotente
e cego
perdido nos sinais que vê indicarem
a lavoura alvorada
a cura e a pura colheita
Meu jardim me envolve
ouve, devolve, dissolve, revolve
sinaliza símbolos
e desenha segredos
Meu jardim, meu mundo
sou seu andarilho
afogado na néscia perspectiva
de fazer brotar as plantas do elixir
de uma única cura:
Milagrosa e Misteriosa
Meu jardim é desejo constante
da promessa de cura
do Amor, o Remédio Universal
e o jardineiro-eu que sou
mendiga deitado na fonte de Bethesda
grita pela força, morto vivo
a esperar o agitar das águas
Deixar de estar morto, seu sonho
para ver nascer o Jardineiro-Alma
aquele que aguarda ser encontrado
e acionado, o manso
pronto para rejuvenescer o solo
fazer chegar a luz aos cantos
e fazer nascer, brotar, criar
novas ervas e frutos, curadores
irrompendo no solo da Vida real
onde inquilino-me
como Raul, há dez mil anos
Soa o anelo que desperta ervas
de pulsante vida de Amor terno
sanadoras de jardins mal cuidados
abandonados por erro comum
a ignorância errática
de desconhecer a Luz sempre presente
cegada por véus do si mesmo.
Meu jardim, seu jardim
dele jardim
mar de sombras amigas e jasmins
ilusões, tiros de festins
de vida complexa, começo e meios
que não se justificam no fim
onde tudo leva a
abandonar o tudo em torno de mim
Carlos Wagner

sábado, fevereiro 01, 2025

 

Palavra

Carlos Wagner


Palavra
Carlos Wagner
Para onde desejas que eu siga?
tuas letras e sílabas contam caminhos, direções
histórias
sentidos, ideias que a invenção persiga
prossiga
preenches os espaços, memórias e papeis
rabiscos, traços vários
símbolos e sinais
verbo, substantivo, palavras duras, “poréns”
nada além
a mão segue o desenho
caligrafias frias, finas ou mal feitas
bonitas ou imperfeitas
caneta, lápis, giz, telha velha
lousa, parede, muros, camisas
tudo fala o pensável e o improviso
aviso
e se pode ler, entender, desentender
comunica, desobriga, abriga, gera briga
contrata encontros, relata desencontros
felicita
falsifica
credita ou imita
Onde queres que eu me estabeleça?
sigo, como um psíquico canal, vou lá
e aprendo teus caminhos
vales e e montes
És palavra, verbo, espírito
do pensar, a ordem
da vontade, o argumento
as mãos, escrevendo, dizem de ti
palavra pensada e desenhada
somos teus escribas.
Carlos Wagner






 

Jesus e a sanha de Judas



Jesus e a sanha de Judas Carlos Wagner

Um, com um, dois ou mais
como um, como unos
únicos, iguais, simples, comuns
sem o acúmulo, sem peso
a raiz do centro vivo, equilíbrio
que o mundo humano busca adoecido, em luta
longe do centro da quietude
Comum, no único Bem
o absoluto simples, essência da Arquitetura divina, Vida
onde nada é excesso, e jorra ininterrupto
nada falta, nada estanca ou para
sem luta ou estratégia
nada a capitalizar ou guardar
nada a reter, sem desperdiçar
vida una, ofertando aos comuns
unos e diversos, juntos ou dispersos
a vital energia capital, necessária
essencial a tudo, a todos, sinfônica ária
Às aves, aos lírios, aos pequeninos
Reis-meninos, magos e pobres
a cada consciência, tesouros no Céu
lição que Judas negou
Desviou-se
para amealhar capital de Cesar
para guardar tesouros para a igreja
uma igreja concebida por seu próprio medo
Pânico pela Vida Universal
sem chão, sem exércitos
sem bancos ou bancas de vendas
vendados os olhos de medo
nao percebeu
de seu doce Mestre
os tesouros do Coração e do Espirito

Todos novos em Capetinga

Todos novos em Capetinga
Olha aí o pessoal lá de antes...

O lobo da estepe - Hermann Hesse

  • O lobo da estepe define minha personalidade de buscador

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