Ocupação patética, reação tenebrosa
Ao que tudo indica, a ocupação da reitoria da USP foi de fato
patrocinada por um grupo de aloprados, que atropelou o rito das assembleias
realizadas até então e, num ato de desespero (calculado?), fez rolar morro
abaixo uma pedra que, aos trancos, deveria ser endereçada para pontos mais
altos da discussão.
Estudante é retirado a força de ocupação na reitoria da USP. Foto: André
Lessa/AE
Uma vez que essa pedra rolou, como se viu, tudo desandou. Absolutamente
tudo, o que se nota pela declaração do ministro-candidato-a-prefeito (algo como: bater em viciado pode, em estudante, não) e do
governador (vamos dar aula de democracia para esses safadinhos), passando pela
atitude da própria polícia (tão aplaudida como o caveirão do Bope que arrebenta
favelas), de cinegrafistas (ávidos por flagrar os “marginais” de camiseta GAP)
e de muitos, mas muitos mesmo, cidadãos que só esperavam o ataque aéreo dos
japoneses em Pearl Harbor para, em nome da legalidade, arremessar suas bombas
atômicas sobre Hiroshima.
O episódio, em si isolado, é sintomático em vários aspectos. Primeiro
porque mostra que, como outros temas-tabus (questão agrária, aborto…), a
discussão sobre a rebeldia estudantil é hoje um convite para o enterro do bom
senso. O episódio foi, em todos os seus atos, uma demonstração do que o
filósofo e professor da USP Vladimir Safatle chama de pensamento binário do
debate nacional – segundo o qual a mente humana, como computadores
pré-programados, só suporta a composição “zero” ou “um”. Ou seja: estamos
condicionados a um debate que só serve para dividir os argumentos em “a favor”
ou “contra”, “aliado” ou “inimigo”.
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