quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Kalil

Enviado pelo poeta Wellington Kalil


EPÍSTOLA AOS ÉBRIOS

Meu Caro Poeta Carlos Wagner: se aconchegue à mesa, companheiro de copo, sirva-se à vontade dessa cachaça que ora te visita e sinta-se bem que o alambique é de casa e o sumo, curtido em barril de carvalho dos jardins da palavra, que a poesia está a postos. Portanto, bebamos e nos refestelemos. Um brinde aos bardos do mundo inteiro, convencidos de que eles estão aqui. Na seqüência, é impossível não se embriagar com essa birita que gentilmente você nos serve – “É tarde, que da noite, oito toadas das muitas mútuas, horas rasgadas, das puras putas púritas, Anas e tantas outras abocanhadas, acanhadas e prontas”- impossível é não entrar em coma alcoólico com esse fraseado  luxuoso (todo o  poema É Tarde) eu o indico a todos os alcoólatras explícitos e anônimos, um construto que soa bem aos ouvidos, nariz e garganta, numa otorrinolaringologia do caralho, e como tiragosto, gostaria de imprimir esse saboroso
Petisco –“voa, para que as asas apareçam...morra, para que a vida rejuvenesça...colha, para que a plantação se faça”. Aqui, o poeta é um venerável viticultor. É preciso dizer mais alguma coisa ? Respeitável senhor do engenho, cachaceiro inveterado, bêbado das esferas. Com a emoção de quem muito te admira. Abraços deste seu companheiro de copo. Sou grato. Agora, me permita destilar o meu veneno (o homem é a muçurana do homem- w.kalil):


Meu andar é quebrado
Quando ando há um negro que ginga em meu quadril
E mesmo parado é um negro solto por aí
Eu sou negro na cadência
Negão partideiro da pele branca
Que não é do branco que toma partido
Pois sob a pele branca
Exalta a minha pele negra
Preste atenção no que eu digo
Preste bem atenção no que eu venho dizer
Há um perigo grifado na minha garganta
Pois quando eu falo
É o sotaque nagô que fala mais alto
Que mesmo calado é tambor atabaque e bongô
E quando eu rezo
Nas devastadoras noites de solidão
É o altar dos orixás que me responde
Porquanto sofro uma dor que o negro tem
Por conta disso
Me dá licença pra eu ainda dizer
O quanto cambaleio por esses terreiros afora
Mas é o cajado do preto-velho
Que vai amparar
O branco script nos ossos
De onde o ritmo

Um comentário:

Coutinho Sagrada e campos disse...

Andei trôpego, através do seu poema.
Senti a ginga e o sotaque nagô.
Então vamos, vamos lá, nesses passos necessários,
nesses rios de risos, nessas áreas de muros,
meça várias perspetivas, nesse sarau de trocas.
Mecas várias, em furtivos atos de adoração.
Negros todos, toda cor...todo joelho se dobra,
toda perna que samba, toda malícia que bamba,
todo mundo, Caramba!

Todos novos em Capetinga

Todos novos em Capetinga
Olha aí o pessoal lá de antes...

O lobo da estepe - Hermann Hesse

  • O lobo da estepe define minha personalidade de buscador

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