Silêncio I
Carlos Wagner - 01/11/2009
Silêncio!
Quero escutar o grito do grato
o berro do fraco, o sussurro do burro,
o coice da mula, a mala entornada.
Silêncio!
Quero falar a língua da íngua
a surra que urra gritando atrevida
a vida que passa fingindo ser morte
fingindo ser norte quando o sul vem chamá-la.
Silêncio, o lenço caiu, quebrou-se a esquina
virou-se do avesso, imitando a rapina
bicho agourento, de voo avarento
buscando alimento que morto esbanjou.
Silêncio. Se lance do alto, mastigue essas pedras
adora esse besta que o mundo te espera,
exaspera em desejo, se esfregue em prazer
pra ser o que instiga, pra ver o que se esconde.
Silêncio. Aperta esse passo, afrouxe esse laço
pindure essa roupa, mergulhe de cara
lambuze sua blusa e perceba a enrascada
metida em mil frascos, aromas e cheiros
empurra essa luta, põe lá sua barriga
ninguém vai notar.
Silêncio, apagar com borracha esse risco de lápis
escrever outra história, a partir de outros cantos
cantilenas sem fim, outros cantos da casa
outras vidas sofridas, aguardando perdão.
Silêncio, vou-me embora confuso
atento ao barulho que exibe um ruído
que fala baixinho, "ser livre, ser livre",
tão alto que ouço,
tão claro que esqueço de tampar os ouvidos,
"olvidados" os gritos
que vem do porão,
de mim, de mim mesmo,
do fundo que dói.
Silêncio.
Carlos Wagner
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