Produto e processo
Carlos Wagner
Lentamente flui a produção escassa,
Fico à caça, fico à míngua de um jorrar em gotas,
Fico esperando a colheita por dias,
Fico amassando o barro, pisando as uvas,
Curtindo a barriga de geração,
Esperando o fluir do processo,
Esquecido do produto.
Viver o processo, estar com ele passo a passo,
Dormir e acordar com suas manhas e manhãs,
Copular com ele, amaldiçoá-lo, rir dele e perceber caminhos,
me perder em preguiça,
me achar em quiçás e quimeras.
Estabeleço o rumo, olho e penso na viagem,
Escrever, destituir-me das idéias que vem fugidias, fugazes, escondidas nos olhares retrovisados, Memórias, mesmo horas a matutar,
Mesmo que com dor ou prazer, parto, ponho os pés no caminho,
Parto, de dor em dor,
Parto ao meio minhas cabaças e tiro o líquido puro,
Bebo com quem lê, com os que, de repente, se deparam com esses fluidos rabiscados dígito a dígito,
Cogito novas aparições, surgir num relâmpago de novo, na velocidade da luminosa via do amor.
mesmo que a tartaruga fuja, mil vezes, ainda assim, sigo atento ao processo.
....até o próximo rabisco...
Carlos Wagner
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