segunda-feira, janeiro 13, 2025

 Repente agreste, sementes e romãs

Carlos Wagner
De repente, desafio, fio a fio
rimas discordes, lançadas à sorte
romãs, Romas, Jeruzas além, muito além
Aquém do Rio, cidades tristes
Algures, alhures águas
aquém do Eufrates, ou além do Estige
banhando ou afogando no Jordão
pelas mãos do profeta
Rime ou não, o canto é preciso
ritmado, ritos, remando forte
sulcando revoltas águas do encéfalo cinza
rumo, sem prumo pranto certo.
Raros planos a palmos pertos
raspando rápido as paredes do labirinto
rentes movimentos, cortando curvas, esbarrando
retos circuitos, frenéticos balanços
ramos e ramas ao longo da árvore infrutífera
rarefeita em folhas, sementes espalhadas em relvas
ralas matas se mostrando desprotegidas
nada se esconde.
Romãs raros, Roma e Jeruzalem, aquém do amor
aquém de um rio, cidades tristes
Sião de dor e mortandade
incompreensão absurda, surda, urge rimar
canto rap, faca afiada, fiada e afinada
pois correm pra lá, Sião, homens demônios
santos de pau oco, loucos e roucos, gritando deus
homicidas de um Deus sem paz e rude.
Geme a rima, treme e previne a espada fina
segue a sina, ou não rime
apenas mire o canto preciso
Boiam nas águas sujas ritos, ratos e retas tortas
recorto, e vou rasgando folhas
recortes de poemas ao norte da sorte
a morte à espreita, sulcos ácidos, gástricos inflamam o plexo
a dor nas vísceras e na alma, é forte
vícios incontidos, gula, poder e ruína, vida curta
a ansiedade faz seu repente de música quase surda
faz seu número no palco do corpo indefeso
Rumo, sem prumo muro certo
raros planos a palmos pertos
raspando rente e rápido, cortando a pele
lentos movimentos, cortando curvas
retos circuitos em frenéticos balanços
Ramas ao longo, sementes ávidas
espalhadas em relva rarefeita, clareiras, pedras
ralas matas, terra seca, desprotegidas
nada se esconde ou responde, como na parábola.
E é certo
na dor aguda da vida efêmera
irmãos partem, apartam-se de nós
deixando no cérebro sulcos de memórias, imagens
falas caladas, silenciadas, soantes e vívidas
certeiras setas sobre a vida e seus mistérios.
Fecha-se a cortina.
Terminado o quadro, pincel em punho
fica-se manchado com as tintas de cores de nós mesmos:
nossos mundos, microcosmos em luta e conflito.
Pode ser uma imagem de Lake Powell e texto
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