sábado, agosto 22, 2020

Walt Whitman

 Walt Whitman

E sei que sou imortal,
sei que minha órbita não pode ser medida pelo compasso do carpinteiro,
Sei que não apagarei como espirais de luz que crianças fazem à noite com graveto aceso.
Sei que sou sublime,
Não torturo meu espírito para que se justifique ou seja compreendido,
Vejo que as leis elementares nunca se desculpam,
Percebo que não ajo com orgulho mas elevado que o nível onde planto minha casa, afinal.
Existo como sou, isso me basta,
se ninguém mais no mundo está ciente, fico contente,
e se cada um e todos estão cientes, fico contente.
Meu pedestal é encaixado e entalhado em granito.
Dou risada do que você chama de decomposição,
sei da amplidão do tempo.
Sou poeta do corpo,
e sou o poeta da alma...
Walt Whitman

sexta-feira, agosto 21, 2020

 


Cantiga de Malazarte
Murilo Mendes
Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso amar ninguém porque sou o amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo.
Nada me fixa nos caminhos do mundo.
- Murilo Mendes, em "Poemas - 1925-1929". Juiz de Fora: Dias Cardoso, 1930.

sábado, agosto 15, 2020

Vejo

 Vejo

Carlos Wagner
Eu vejo o sol lá fora, ele brilha incrível!
Eu vejo o girassol brilhar amarelo,
vejo o voar envolvido de um pássaro,
desenhando evoluções,
e escuto seu cantar, lá fora, lá nos galhos,
eu vejo belezas...em tudo...
Vejo o azul do céu,
vejo animais que brincam e que correm,
eu vejo o movimento da Terra,
Vejo o sol, todo dia, chegar ao ápice,
e o vejo descer, lento, escondendo sua luz, e vejo então estrelas, vagalumes,
vejo a lua silenciosa lá em cima, ela não julga nada.
Eu vejo pessoas bonitas
crianças lindas, idosos solenes,
vejo e cheiro flores vivas, garbosas...
e mesmo assim....
não perco, inebriado, o lado sem Luz da vida,
obscuro, mal cheiroso, sofrido, ardente,
pois também vejo, sem desviar o olhar,
e reafirmo, não quero deixar de ver a horrível figura do mundo em dor,
eu a sei, quero entender sua espécie,
peso, volume e densidade.
Olho e vejo gente sem alma, gente insana,
vejo poderosos investidos, armados,
vejo chefes articulando guerras de nações,
lutas de grupos, de famílias, de amigos, tropeço nas articulações e projetos do mal.
Observo bravatas de valentes horríveis,
vejo sanções à verdade,
vejo preconceitos, racismos,
fobias diversas, neuróticas fobias,
à pobreza, à indigência, às chagas feias nos rostos marcados, vincados,
vejo terremotos vindo,
vejo mortes, muitas, muitas mortes,
e vejo gente indiferente, intocadas...
No entanto, abro os olhos para alegrias, para a música, para as cores,
olho tudo com muito afinco.
E, sistemático,
não fecho os olhos para a horrível cena mundial, a dor e o sangue,
vejo tudo daqui da Torre da minha pineal, da minha hipófise confusa,
da minha perplexa tireoide,
do meu coração aflito,
do meu fígado azedado,
do meu plexo, perplexo e enojado com toda aberta capacidade desumana.
Sinto o pulsar, o ritmo do timo piscar para um esternum do peito, intermitente, abrindo e fechando,
e percebo meus meus olhos, que choram,
vejo tudo, quero ver tudo,
não fujo de nada,
quero aprender tudo, olhar nesse espelho,
enxergar minha humanidade desumana, em tudo,
Vejo-me acolher com engasgo, tudo que somos capazes,
a lama fétida da humana excrescência...
E, contudo,
quero o Bem!
quero ser bom!
quero ser bem melhor.
Quero o belo e o Bem,
mesmo que o Mal esteja nele colado,
Pois a essência é inevitável...
O bem e o bom e o belo...
O bom, e bom, e bom!
só screvo o que vejo...
"Poeta bom é poeta que vive,
e que vê,
e que escreve,
mesmo tudo isso!!!
Carlos Wagner

Todos novos em Capetinga

Todos novos em Capetinga
Olha aí o pessoal lá de antes...

O lobo da estepe - Hermann Hesse

  • O lobo da estepe define minha personalidade de buscador

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