Dois pólos, elementos de uma mesma natureza “dialética”, como aprendemos em Heráclito, pré Sócrates, dialética sem fim. Pólos duma mesma moeda.
Dominador/dominado/dominador...
Vencedores e vencidos, sempre trocando de papéis... sempre trocando de signos,
de posições e vetores de força.
Esse
mundo, esse campo de vida selvagem, não é mesmo pra ser um “céu”, nem nunca
será! O Bem e o mal são valores de uma balança ininterrupta em movimento de
trocas de pesos e contrapesos. A humanidade não pode ser “feliz” aqui, nesse
campo de provas do tempo e da temporalidade. A duração e a permanência das
coisas são sempre corroídas num incessante agregar e desagregar, corroída a
eternidade, corroída a utopia dos movimentos que lutam por permanência,
religiosos, políticos, filosóficos. Somos espíritos/almas condenados, como
Sisifo da mitologia, a viver a experiência da materialidade, dura feito pedra.
Há momentos de "bonança" seguidos de momentos tempestuosos nesse
nosso hades, de guerras e lutas e também de paz temporária.
Claro que
os homens de bem, num sentido relativo, desejam mudar o mundo e sonham com uma
sociedade onde uma “felicidade” possa ser possível, entendendo que podem
encontrar um mecanismo de evolução em linha reta, mas, há sempre conflito aqui,
há sempre atrito, há sempre vencedores e vencidos, há sempre os “poderosos” e
os “fragilizados”, e o sofrimento parece fazer parte contínua desse nosso modo
de sermos seres conscientes, animais "racionais" bem irracionais,
irascíveis, egoístas e ambiciosos. Nossa racionalidade cabe dentro de uma perspectiva
pessoal. Nunca houve paz duradoura entre nós humanos. Sempre guerras e
conflitos, e sabemos que precisamos mediar os nossos desejos e apetites para
não sairmos pisando uns nos outros, contrários aos nossos interesses diretos.
Mas, é
preciso sim que o mundo seja mais "civilizado", mesmo que essa
civilidade cause, como apontou Freud, um mal-estar constante ao nosso “animal”
bravio interior, déspota, tirânico. Sim, é preciso que haja regramentos e
pactos sociais mínimos, acordos entre os seres da civilização humana. Por isso
o caminho mais adequado deve ser a tão frágil “democracia”, mesmo que
imperfeita. Ela deve ser vista como o acordo civil básico pra que possamos
todos ter lugar ao sol.
É preciso
que haja regras, não pode deixar de haver um esforço para que sejamos
minimamente mais igualitários.
Porém,
tudo sempre depende do quanto somos honestos conosco mesmos e entre nós. Quando
a honestidade se afasta das consciências, o que resta é o “meu”, o “nosso”,
nepotismos, os pesos e medidas desiguais, os casuísmos, a proteção irracional
dos nossos interesses, o olho enviesado, torto para o lado, para não
enxergarmos os outros e suas carências, semelhantes às nossas, para não ver que
as coisas estão esquisitas e desequilibradas.
O nosso
"EU", em seu ponto de vista limitado, sempre será egoísta e sempre
verá o mundo através de sua própria lente, sua própria tribo, sua própria
gente, seus interesses imediatos. A igualdade de direitos, a dor dos outros, a
doença dos outros, as necessidades dos outros, precisam ser as também nossas
próprias. Buscar olhar o mundo através do olhar do outro assenta bases para
sermos mais "felizes", mesmo que seja passageira a nossa alegria. Uma
utopia, eu acho!
Sim, é
utópico pensar que pode ser diferente a vida humana onde milhões de seres sofrem
necessidades e poucos, bem poucos, têm poder e recursos. É utópica a nossa
indignação sobre o fato de querer algo contrário, pois como pode haver
tranqüilidade entre os povos, entre as pessoas, entre os países, quando não há
uma real fraternidade?
Diferentemente,
a utopia de uma vida realmente feliz, esse “sonho de adão”, como definiu bem
Gilberto Gil na música “Oriente”, e que também faz referência em outra canção,
“Raça Humana”, sim, esse pensar Utópico deve fazer parte de um combustível
fundamental de COSCIÊNCIA e REFLEXÃO para que possamos abrir espaço em nossas
mentes e corações e para que também possamos, um dia, realmente ser chamados de
Seres Humanos no sentido de Animais verdadeiramente Racionais!
Carlos Wagner – 24/01/2018
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