Caro Poeta Carlos Wagner, boa noite, UMA COISA PUXA A OUTRA - pela fresta/resta/esta janela: esta noite eu estou às margens do sagrado rio Nilo, devorado pela majestade da Esfinge de Guiza, eu chorei a seus pés, eu estava chorando ainda há pouco, e num privilegiado milésimo de segundo, eu fui transfigurado em lágrima, eu vi uma gota de lágrima quente do tamanho do mundo, desse tamanho eu pude vislumbrar a dor de cada espécie, de cada pedra, de cada ser, de cada um de nós, y essa gota onipresente não nos condena, pelo contrário, era a remissão, ela estava ali me dizendo, uma única lágrima como depósito de tudo e de todos, não nos condena, amantes de tudo sob o sol, eu vi, ouvi e vivi, através dessa consubstanciação, num infinitesimal tempo de segundo, que a morte é uma ficção sentimental e matemática, que eu chorei muito até os ossos, ninguém sabe o que é isso, onde tirar leite das pedras é fichinha, que além disso, existe um lugar em que não coexistem tempo e espaço, um sítio anterior ao Big Bang, onde eu cantei o supremo funk da esperança, que a morte é a Primavera, os simbolismos estão errados, eles não significam mais nada para mim, a morte não é o capuz empunhando uma foice inexoravelmente afiada, o Ceifeiro já era, o que existe é uma linda deusa virginal e envolta em vestes luminosas como o Sol nascente, entronizada no altar do oriente das montanhas de minha querida Minas Gerais, a morte é uma amorosa rainha que nos acolhe no seu reino de seios fartos e perfumados de mel do qual eu pude provar no imponderável, foi ela quem despertou em mim o uirapuru da poesia e me fez cantor apesar do emaranhado, é Ela que nos liberta enfim de toda a arbitrariedade e do livre arbítrio. É isso aí.
Kallil
Poeta é você meu amigo
Abençoada fresta, por onde uma festa mista, insista na mixórdia, diapasão de uma busca por um Lá tão distante, ou um Si em si mesmo, mesmo que espalhado nos nós que somos, nós górdios, a serem cortados pela espada das lágrimas empedradas que distinto momento dos que nos surgem nas luzes das frestas, mesmo que de noite, mesmo porque luminosas noites de vigílias impostas por momentos de grande visão.
Que a esfinge não te devore no mesmo instante em que das flores aflorem dúvidas de um não se saber o que se pode responder sobre o que se é, na verdade um vir a ser imenso, mesmo que manso, mesmo que não ser. Que as minas, geralmente gerais, gerem o maná que nossos pais nem sempre entenderam, mas que jorraram dentro de nós através de nossas infâncias e rebeldes juventudes.
Que nestas frestas fendidas no sangue de nossas dores possam arreganhar as bocas dos nossos anseios e alimentá-los de manás do cordeiro.
É isso aí meu mais que irmão,
sempre seu confidente das inconfidências setembrinas.
Carlos Wagner, seu admirador
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