quinta-feira, janeiro 14, 2010

É tarde...


...é tarde...
que da noite, oito toadas das muitas mutuas horas rasgadas,
das puras putas púritas, Anas e tantas outras abocanhadas
acanhadas e prontas,
vestidas de tudo o que se pode despir,
rir, ir a híbridos assuntos noite adentro,
trocando, trotando, trocentos e tantas vezes,
movimentos sucintos e sucessivos, uivos na noite.
Oito badaladas, bandas e lados, de todos os sentidos
ditos, toscos, cósmicos, cosméticos...
Que da noite, do alto se via, se ria, se media
pedaços e cacos de uma miríade de sentimentos
confusos e comprimidos dentro do cordato coração,
atormentado, atordoado, a dizer, "fica mais um pouco..."
mais um copo desse corpo de delitos, delícias, de ilícitas branduras.
Acorda, é hora, acordes em tons e compassos buzinam,
minha cabeça roda,
cantarola lembranças que da noite se lembrava,
da noite em que estive aí, estava aí,
apesar de, desnorteado, achar que não devia estar.
Tarde percebi, toleraste-me mentindo,
dizendo, "volta à tua rua, ao teu meio, à tua aldeia,
exorciza tua alma desse querer insano".
Acordei acordado, ensopado,
gemendo surdo, baixinho,
que da noite os sons são estranhos, entranhas e os vultos machucam,
as cores são pardas...
...é tarde!
Carlos Wagner

3 comentários:

Unknown disse...

Posso lhe garantir. Já o li pelo menos 15 vezes.
Cada um interpreta com seu filtro.
Mas que poema intrigante!
Fio

Coutinho Sagrada e campos disse...

Ei Fiote,
ele também me intriga...
Carlos Wagner

Coutinho Sagrada e campos disse...

COMENTÁRIO DO kALIL

Meu Caro Poeta Carlos Wagner: se aconchegue à mesa, companheiro de copo, sirva-se à vontade dessa cachaça que ora te visita e sinta-se bem que o alambique é de casa e o sumo, curtido em barril de carvalho dos jardins da palavra, que a poesia está a postos. Portanto, bebamos e nos refestelemos. Um brinde aos bardos do mundo inteiro, convencidos de que eles estão aqui. Na seqüência, é impossível não se embriagar com essa birita que gentilmente você nos serve – “É tarde, que da noite, oito toadas das muitas mútuas, horas rasgadas, das puras putas púritas, Anas e tantas outras abocanhadas, acanhadas e prontas”- impossível é não entrar em coma alcoólico com esse fraseado  luxuoso (todo o  poema É Tarde) eu o indico a todos os alcoólatras explícitos e anônimos, um construto que soa bem aos ouvidos, nariz e garganta, numa otorrinolaringologia do caralho, e como tiragosto, gostaria de imprimir esse saboroso
Petisco –“voa, para que as asas apareçam...morra, para que a vida rejuvenesça...colha, para que a plantação se faça”. Aqui, o poeta é um venerável viticultor. É preciso dizer mais alguma coisa ? Respeitável senhor do engenho, cachaceiro inveterado, bêbado das esferas. Com a emoção de quem muito te admira. Abraços deste seu companheiro de copo. Sou grato. Agora, me permita destilar o meu veneno (o homem é a muçurana do homem- w.kalil):

Todos novos em Capetinga

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Olha aí o pessoal lá de antes...

O lobo da estepe - Hermann Hesse

  • O lobo da estepe define minha personalidade de buscador

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