domingo, abril 25, 2010

Adeus à Anália

Desta vez o coração de amor de Anália não suportou...Todos nós, seus filhos, não só os biológicos, pois ela parecia mãe de todos, sabemos do quanto sua vida foi rica de tudo. Temos, muito claro, que ela foi fundo naquilo que acreditava, a vida plena, amou, chorou, se zangou, se indignou, mas sobretudo, tentou ser alguém melhor. E se alguém cobrar, pode dizer, ela valorizou a vida, dedicou-se em ser fraterna, solidária e simples. Sua semente, plantada em cada um de nós, se madura, deve brotar em frutos do Bem.  Permanecendo a verdade de que colhemos aquilo que plantamos, vem a certeza de que Anália estará entre os bons.
Vai com Deus


Fio disse:
Meus queridos Coutinho Campos.

Hoje foi um dia difícil para todos nós. Os filhos biológicos e os agregados do casal Hermélio e Anália. Qualquer coisa que se escrever a respeito da influência desta família na vida daquele imenso grupo de amigos/irmãos da rua Pitangui e adjacências será infinitamente pequeno. O carinho com que Anália criou seus filhos (todos nós) é de uma grandeza que só se explica pelas emanações de uma era nova. Anália é a representação prática do Aguadeiro do amor jorrado por todo o sempre sobre nós. Está cravado em nossos corações. E por esta liderança que se firmou na nossa memória, pudemos buscar a liberdade, o novo. Pudemos acreditar que apesar daqueles tempos de ditadura militar, havia um sopro imenso de esperança no ar. Pudemos viver intensamente a vida e buscar, buscar, buscar... E pudemos acreditar no amor. Pudemos viver o amor amparado no exemplo de sabedoria e tolerância do Casal Hermélio e Anália.
Hoje que Anália se projetou em outras esferas, sinto com o coração apertado, que aprendemos muito e encontramos o caminho. E o caminho só se encontra na liberdade. Somente com a alma aberta para viver a liberdade se pode realmente experimentá-la.
Anália, a partir do exemplo de liberdade e amor que você nos ofertou, foi possível acreditar que poderíamos empreender um caminho bem diferente do costumeiro em nossa sociedade.
E o que nos resta é expressar nossa gratidão.

Fio





Roberto Dias disse...

Mais uma vez a vida nos prega uma peça e joga novamente por terra todo o conceito que eu tinha sobre a imortalidade,infelizmente.
Dizer o que. Não existem palavras para descrever o que essa PESSOA representou na minha vida. Me resta deixar minha solidariedade a todos.
Abtaços

Roberto Dias disse...

É uma pena que recebamos certas noticias dessa maneira inesperada e fria. Desafio alguém para falar um senão a respeito dessa mulher maravilhosa. O céu vai ficar muito mais rico.
Saudades de todos.

sexta-feira, abril 16, 2010

Giratória conversa convexa se anexa...


Giratórios 
Carlos Wagner


Longo lá longe louco sufoco
bolo no lobo bobo no tolo
bala não cala mala não fala
fia na fila filha não falha
falta navalha farta na farsa
frente no frete flerte no flat
frota na folha fanta na fália
lento momento  relento rebento
esclama desgrama irrompe na rampa
rapina por cima por sina se afina
e mina essa fina abaixa essa crina
corrige que é hora demora sincera 
abafa esse berro encerra essa trama 
no erro do termo do terno e do ferro
do ermo vazio lugar que faz frio
firula enrolada embolado na fala
comendo escrevendo não lendo no lero
não leram não viram ouviram mas riram
saíram contentes com dentes à mostra
trocados em troncos em brancos os broncos
trancados sem trancas sem transas e transes
seus medos medidos mordidos feridos
seus lábios larápios sussurros errantes
seus trânsitos sítios cidades citadas
andaram excitados  gritaram por todos
os sábios os bobos os bofes e os bifes 
brandindo bandeiras suas dores humores
pesando pesares  mostrando penares
suas dores suas cores temores tumores
contaram seu causos beberam seus caldos
afogaram e fungaram dormiram e esqueceram
acordaram no zero selaram suas éguas
partiram mil vezes de novo no lombo  
Apagou o apoquento passou o momento
no longo devir, deviam de vez, ao invés, se lembrar
que longo, lá longe, se é louco outra vez.
Carlos Wagner

quarta-feira, abril 07, 2010

Super macaco...

Vá lá ler nesse endereço, o blog do Pedro.

http://supermacaco.wordpress.com/2010/04/07/classe-media-um-tremendo-mau-cheiro

sábado, abril 03, 2010

Intolerância!

Até onde vai a nossa intolerância religiosa.
Viva a glória dos medíocres!

terça-feira, março 30, 2010

Hora agora



Hora agora
Carlos Wagner


Tarde, noite dos tempos, olhares obtusos,
confusos, parafusos, usos e rodas, fusos a fio,
pavios que curtos, iminência de avançadas horas,
horários e fusos, confusos,
usos em vícios, visgos em tudo,
invertidos ponteiros, apontam que horas? ora bolas...
Laços, nós górdios, sós, nós, cada um, cada dois, cinco, cada mil,
milhas e tempos do tempo.
Nós todos mexidos, mexericos, conversas noturnas,
imagens soturnas de imaginários globais,
proféticos alarmes, projetos de alardes,
fins de tudo, 
do mundo, do fundo, do raso e da razão,
razoáveis argumentos,
fermentos de um bolo, pós-modernos incrementos,
momentos,
mesmos relógios, girando e gritando,
alertando para confusos tempos onde a tampa se abre,
escancara as entranhas, estranhas essências,
emergências, elixires de medo, raiva, dúvida, lutas, desejos contritos,
confusas "querências", demências normais,
abusos de confusos saberes.
Tudo roda, tudo ronda, aqui e ali, um anseio,
e o fuso da bruxa, que fia, desconfio, mexe no tempo,
"kairós", desejos de um tempo fora do tempo,
pois o "kronos" é roda, é vício, de novo,
se vinga de mim, de mentira em mentira,
me tira do sério, risível pranto,
de pronto um momento,
lamento esse muro, lamento esse nó,
aperto no peito,
lamento entre nós,
eu e você e eles todos,
toldados por sombras, 
escondendo o Sol,
nascido mil vezes no alento da vida,
querendo vingar na primavera de uma Rosa Única.


Carlos Wagner

domingo, março 14, 2010

Sobre o pensar...

Pensamentos
Carlos Wagner

Pensamentos,
esculturas da consciência,
imagens vitais poderosas, rosas abertas de perfumes variados, cheiros e formas,
cores e sentidos, aspectos e forças.
Teus alentos para o bem ou para o mal,
bem parecem neutros,
porém, independente de o saber ao certo,
dedico-lhes meus atos mágicos,
me enredam ou me livram,
me impulsionam, sem culpa,
automáticas engranagens.

Acorda, minha consciência...
desperta em mim o juri,
levanta a apreciação precisa.
Avalia com justiça o caminho das forças,
o arregimentar das nuvens.
Vê se chuviscos, temporais ou tempos secos se avizinham!
O caminho, mesmo que inóspito à sua frente,
a travessia do deserto, aponta para a terra dos livres.
"Acautela-te, ó homem forte, pesquisador do real!
Sabei dos perigos de um retorno às "panelas do Egito" - são carnes os alimentos,
são éteres da natureza da morte -
Olhai em frente! Vê a vida do Universo da Vida.
Vê a escada do plano para Adamas,
Vê que a senda dos deuses engendra novas esculturas - Pensamentos Vivos da criação,
Liberdade!
Carlos Wagner

E Gil diz em Tempo Rei, tempo que já está aí...:

"Pensamento!

Mesmo fundamento
Singular do ser humano
De um momento, para o outro
Poderá não mais fundar
Nem gregos, nem baianos..."

sexta-feira, março 12, 2010

Poeta José João Craveirinha


Conheça esse poeta moçambicano, nascido em 1922 e morto em 2003.
O texto em preto foi encontrado em
http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Jos%E9+Craveirinha
Enviado po Hermélio José, my brother

José João Craveirinha nasceu em 28 de Maio 1922 em Maputo.
Iniciou a sua carreira como jornalista no "O Brado Africano", e colaborou/trabalhou com diversos orgãos de informação em Moçambique. Teve um papel importante na vida da Associação Africana a partir dos anos 50.
Grande parte da sua poesia ainda se mantém dispersa na imprensa, não tendo sido incluída nos livros que publicou até à data. Outra parte permanece inédita.
Esteve preso pela Pide, de 1965 a 1969, na celebre Cela 1 com Malangatana e Rui Nogar, entre outros.
Tem muitas obras publicadas, sendo considerado um dos grandes poetas de Africa e da Língua Portuguesa.
Depoimento autobiográfico, Janeiro de 1977: 


"Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Pela parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai fiquei José.
Aonde? Na Av. do Zichacha entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato. A seguir fui nascendo à medida das circunstancias impostas pelos outros. Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: o seu irmão. E a partir de cada nascimento eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe negra.
Nasci ainda mais uma vez no jornal "O Brado Africano". No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noemia de Sousa. Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por causa da minha mãe só resignação.
Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.
Minha grande aventura: ser pai. Depois eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.
Escrever poemas, o meu refúgio, o meu país também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse país, muitas vezes altas horas da noite.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Rabindranath Tagore

"O Gitanja'li" - 28
Coleção Rubáyaát - Traduç~/ao de Guilherme de Almeida, 5ª edição - José Olympio, 1950

Tenazes são os obstáculos, mas dói o meu coração quando tento vencê-los.
A libertação é tudo o que desejo, mas tenho vergonha de esperar por ela.
Tenho certeza de que há em ti um tesouro inestimável, e que és o meu melhor amigo; 
mas não tenho coragem de varrer a quinquilharia de que o meu quarto está cheio. 
O manto que me cobre é o manto de poeira e morte; 
odeio-o, mas abraço-o com amor.
Pesadas são as minhas dívidas, 
enormes as minhas faltas, e a minha vergonha é secreta e grave;
mas quando venho reclamar o meu bem, 
tremo com medo de que seja atendida a minha súplica.

Tagore

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Quantos Haitis

Quantos Haitis?

José Saramago
08/02/2010

No Dia de Todos os Santos de 1755 Lisboa foi Haiti. A terra tremeu quando faltavam poucos minutos para as dez da manhã. As igrejas estavam repletas de fiéis, os sermões e as missas no auge… Depois do primeiro abalo, cuja magnitude os geólogos calculam hoje ter atingido o grau 9 na escala de Richter, as réplicas, também elas de grande potência destrutiva, prolongaram-se pela eternidade de duas horas e meia, deixando 85% das construções da cidade reduzidas a escombros. Segundo testemunhos da época, a altura da vaga do tsunami resultante do sismo foi de vinte metros, causando 600 vítimas mortais entre a multidão que havia sido atraída pelo insólito espectáculo do fundo do rio juncado de destroços dos navios ali afundados ao longo do tempo. Os incêndios durariam cinco dias. Os grandes edifícios, palácios, conventos, recheados de riquezas artísticas, bibliotecas, galerias de pinturas, o teatro da ópera recentemente inaugurado, que, melhor ou pior, haviam aguentado os primeiros embates do terramoto, foram devorados pelo fogo. Dos 275 mil habitantes que Lisboa tinha então, crê-se que morreram 90 mil. Conta-se que à pergunta inevitável “E agora, que fazer?”, o secretário de Estrangeiros Sebastião José de Carvalho e Melo, que mais tarde viria a ser nomeado primeiro-ministro, teria respondido “Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”. Estas palavras, que logo entraram na História, foram efectivamente pronunciadas, mas não por ele. Disse-as um oficial superior do exército, desta maneira espoliado do seu haver, como tantas vezes acontece, em favor de alguém mais poderoso.

A enterrar os seus cento e vinte mil ou mais mortos anda agora o Haiti, enquanto a comunidade internacional se esforça por acudir aos vivos, no meio do caos e da desorganização múltipla de um país que mesmo antes do sismo, desde gerações, já se encontrava em estado de catástrofe lenta, de calamidade permanente. Lisboa foi reconstruída, o Haiti também o será. A questão, no que toca ao Haiti, reside em como se há-de reconstruir eficazmente a comunidade do seu povo, reduzido não só à mais extrema das pobrezas como historicamente alheio a um sentimento de consciência nacional que lhe permitisse alcançar por si mesmo, com tempo e com trabalho, um grau razoável de homogeneidade social. De todo o mundo, de distintas proveniências, milhões e milhões de euros e de dólares estão sendo encaminhados para o Haiti. Os abastecimentos começaram a chegar a uma ilha onde tudo faltava, fosse porque se perdeu no terramoto, fosse porque nunca lá existiu. Como por acção de uma divindade particular, os bairros ricos, em comparação com o resto da cidade de Porto Príncipe, foram pouco afectados pelo sismo. Diz-se, e à vista do que aconteceu no Haiti parece certo, que os desígnios de Deus são inescrutáveis. Em Lisboa as orações dos fiéis não puderam impedir que o tecto e e os muros das igrejas lhes caíssem em cima e os esmagassem. No Haiti, nem mesmo a simples gratidão por haverem salvo vidas e bens sem nada terem feito para isso, moveu os corações dos ricos a acudir à desgraça de milhões de homens e mulheres que não podem sequer presumir do nome unificador de compatriotas porque pertencem ao mais ínfimo da escala social, aos não-ser, aos vivos que sempre estiveram mortos porque a vida plena lhes foi negada, escravos que foram de senhores, escravos que são da necessidade. Não há notícia de que um único haitiano rico tenha aberto os cordões ou aliviado as suas contas bancárias para socorrer os sinistrados. O coração do rico é a chave do seu cofre-forte.

Haverá outros terramotos, outras inundações, outras catástrofes dessas a que chamamos naturais. Temos aí o aquecimento global com as suas secas e as suas inundações, as emissões de CO2 que só forçados pela opinião pública os governos se resignarão a reduzir, e talvez tenhamos já no horizonte algo em que parece ninguém querer pensar, a possibilidade de uma coincidência dos fenómenos causados pelo aquecimento com a aproximação de uma nova era glacial que cobriria de gelo metade da Europa e agora estaria dando os primeiros e ainda benignos sinais. Não será para amanhã, podemos viver e morrer tranquilos. Mas, di-lo quem sabe, as sete eras glaciais por que o planeta passou até hoje não foram as únicas, outras haverá. Entretanto, olhemos para este Haiti e para os outros mil Haitis que existem no mundo, não só para aqueles que praticamente estão sentados em cima de instáveis falhas tectónicas para as quais não se vê solução possível, mas também para os que vivem no fio da navalha da fome, da falta de assistência sanitária, da ausência de uma instrução pública satisfatória, onde os factores propícios ao desenvolvimento são praticamente nulos e os conflitos armados, as guerras entre etnias separadas por diferenças religiosas ou por rancores históricos cuja origem acabou por se perder da memória em muitos casos, mas que os interesses de agora se obstinam em alimentar. O antigo colonialismo não desapareceu, multiplicou-se numa diversidade de versões locais, e não são poucos os casos em que os seus herdeiros imediatos foram as próprias elites locais, antigos guerrilheiros transformados em novos exploradores do seu povo, a mesma cobiça, a crueldade de sempre. Esses são os Haitis que há que salvar. Há quem diga que a crise económica veio corrigir o rumo suicida da humanidade. Não estou muito certo disso, mas ao menos que a lição do Haiti possa aproveitar-nos a todos. Os mortos de Porto Príncipe foram fazer companhia aos mortos de Lisboa. Já não podemos fazer nada por eles. Agora, como sempre, a nossa obrigação é cuidar dos vivos.

José Saramago

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Kalil

Enviado pelo poeta Wellington Kalil


EPÍSTOLA AOS ÉBRIOS

Meu Caro Poeta Carlos Wagner: se aconchegue à mesa, companheiro de copo, sirva-se à vontade dessa cachaça que ora te visita e sinta-se bem que o alambique é de casa e o sumo, curtido em barril de carvalho dos jardins da palavra, que a poesia está a postos. Portanto, bebamos e nos refestelemos. Um brinde aos bardos do mundo inteiro, convencidos de que eles estão aqui. Na seqüência, é impossível não se embriagar com essa birita que gentilmente você nos serve – “É tarde, que da noite, oito toadas das muitas mútuas, horas rasgadas, das puras putas púritas, Anas e tantas outras abocanhadas, acanhadas e prontas”- impossível é não entrar em coma alcoólico com esse fraseado  luxuoso (todo o  poema É Tarde) eu o indico a todos os alcoólatras explícitos e anônimos, um construto que soa bem aos ouvidos, nariz e garganta, numa otorrinolaringologia do caralho, e como tiragosto, gostaria de imprimir esse saboroso
Petisco –“voa, para que as asas apareçam...morra, para que a vida rejuvenesça...colha, para que a plantação se faça”. Aqui, o poeta é um venerável viticultor. É preciso dizer mais alguma coisa ? Respeitável senhor do engenho, cachaceiro inveterado, bêbado das esferas. Com a emoção de quem muito te admira. Abraços deste seu companheiro de copo. Sou grato. Agora, me permita destilar o meu veneno (o homem é a muçurana do homem- w.kalil):


Meu andar é quebrado
Quando ando há um negro que ginga em meu quadril
E mesmo parado é um negro solto por aí
Eu sou negro na cadência
Negão partideiro da pele branca
Que não é do branco que toma partido
Pois sob a pele branca
Exalta a minha pele negra
Preste atenção no que eu digo
Preste bem atenção no que eu venho dizer
Há um perigo grifado na minha garganta
Pois quando eu falo
É o sotaque nagô que fala mais alto
Que mesmo calado é tambor atabaque e bongô
E quando eu rezo
Nas devastadoras noites de solidão
É o altar dos orixás que me responde
Porquanto sofro uma dor que o negro tem
Por conta disso
Me dá licença pra eu ainda dizer
O quanto cambaleio por esses terreiros afora
Mas é o cajado do preto-velho
Que vai amparar
O branco script nos ossos
De onde o ritmo

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Canada, here she goes...




Now we miss you so much...
Lovely,
but happy for her...

quinta-feira, janeiro 14, 2010

É tarde...


...é tarde...
que da noite, oito toadas das muitas mutuas horas rasgadas,
das puras putas púritas, Anas e tantas outras abocanhadas
acanhadas e prontas,
vestidas de tudo o que se pode despir,
rir, ir a híbridos assuntos noite adentro,
trocando, trotando, trocentos e tantas vezes,
movimentos sucintos e sucessivos, uivos na noite.
Oito badaladas, bandas e lados, de todos os sentidos
ditos, toscos, cósmicos, cosméticos...
Que da noite, do alto se via, se ria, se media
pedaços e cacos de uma miríade de sentimentos
confusos e comprimidos dentro do cordato coração,
atormentado, atordoado, a dizer, "fica mais um pouco..."
mais um copo desse corpo de delitos, delícias, de ilícitas branduras.
Acorda, é hora, acordes em tons e compassos buzinam,
minha cabeça roda,
cantarola lembranças que da noite se lembrava,
da noite em que estive aí, estava aí,
apesar de, desnorteado, achar que não devia estar.
Tarde percebi, toleraste-me mentindo,
dizendo, "volta à tua rua, ao teu meio, à tua aldeia,
exorciza tua alma desse querer insano".
Acordei acordado, ensopado,
gemendo surdo, baixinho,
que da noite os sons são estranhos, entranhas e os vultos machucam,
as cores são pardas...
...é tarde!
Carlos Wagner

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Vida, o oceano da perplexidade

Que nos lembremos, uns aos outros
Carlos Wagner
21/12/2009

Vai, parte para o incerto, na certeza de que o caminho está escrito nos passos,
reforça a ligação com a seiva da vida,
mergulha na certeza de que nadar já se sabe,
voa, para que as asas apareçam,
fala, para que a sabedoria te ensine,
morra, para que a vida rejuveneça.
Creia para que a fé se transmute em compreensão.
Duvide, para que haja espaço para o novo.
Colha, para que a plantação se faça.
Carlos Wagner

domingo, dezembro 13, 2009

A menina cuja alma é música...

http://www.youtube.com/watch?v=7jFDGnAaEco&feature=player_embedded

click mais:
http://sobretudo.org/crystal-do-espirito-santo-menina-pianista-de-10-anos-ganha-piano-de-zeze-e-luciano.html

Na periferia de Jaboatão dos Guararapes (PE), o piano da igreja é a realização de Crystal do Espírito Santo, de 10 anos, que viu o instrumento, pela primeira vez, há apenas três anos! Mas seu talento é maravilhoso.Reportagem do Fantástico, Rede Globo, no dia 29 de novembro de 2009.On the outskirts of Jaboatão dos Guararapes, state of Pernambuco (Brasil), the piano of the church is the realization of Crystal do Espírito Santo, a poor young girl, age 10, that saw the instrument, for the first time, only three years ago! But her talent is wonderful.Reporting of Fantástico, Globo Network (Brasil), on 29th of november, 2009.Nova informação (06 de dezembro de 2009):Nestes últimos dias, Cystal viveu em São Paulo a maior surpresa de sua vida. Recebeu uma homenagem de Zezé Di Carmargo, Luciano e ganhou deles um piano novo para estudar. Vai anjo, continue brilhando para todos nós.

sábado, novembro 28, 2009

Texto de Leonardo Boff

Críticos, criativos, cuidantes
Leonardo Boff
Já se disse acertadamente que educar não é encher uma vasilha vazia mas acender uma luz. Em outras palavras, educar é ensinar a pensar e não apenas ensinar a ter conhecimentos. Estes nascem do hábito de pensar com profundidade. Hoje em dia conhecemos muito mas pensamos pouco o que conhecemos. Aprender a pensar é decisivo para nos situar autonomamente no interior da sociedade do conhecimento e da informação. Caso contrário, seremos simples caudatários dela, condenados a repetir modelos e fórmulas que se superam rapidamente. Para pensar, de verdade, precisamos ser críticos, criativos e cuidantes.
Somos críticos quando situamos cada texto ou evento em seu contexto biográfico, social e histórico. Todo conhecimento envolve também interesses que criam ideologias que são formas de justificação e também de encubrimento. Ser crítico é tirar a máscara dos interesses excusos e trazer à tona conexões ocultas. A crítica boa é sempre também auto-crítica. Só assim se abre espaço para um conhecimento que melhor corresponde ao real sempre cambiante. Pensar criticamente é dar as boas razões para aquilo que queremos e também implica situar o ser humano e o mundo no quadro geral das coisas e do universo em evolução.
Somos criativos quando vamos além das fórmulas convencionais e inventamos maneiras supreendentes de expressar a nós mesmos e de pronunciar o mundo; quando estabelecemos conexões novas, introduzimos diferenças sutis, identificamos potencialidades da realidade e propomos inovações e alternativas consistentes. Ser criativo é dar asas à imaginação "a louca da casa" que sonha com coisas ainda não ensaiadas mas sem esquecer a razão que nos segura ao chão e nos garante o sentido das mediações.
Somos cuidantes quando prestamos atenção aos valores que estão em jogo, atentos ao que realmente interessa e preocupados com o impacto que nossas idéias e ações podem causar nos outros. Somos cuidantes quando não nos contentamos apenas em classificar e analisar dados, mas quando discernimos atrás deles, pessoas, destinos e valores. Por isso, somos cuidantes quando distinguimos o que é urgente e o que não é, quando estabelecemos prioridades e aceitamos processos. Em outras palavras, ser cuidante é ser ético, pessoa que coloca o bem comum acima do bem particular, que se responsabiliza pela qualidade de vida social e ecológica e que dá valor à dimensão espiritual, importante para o sentido da vida e da morte.

A tradição iluminista de educação tem enfatizado muito a dimensão crítica e criativa e menos a cuidante. Esta é hoje urgente. Se não formos coletivamente cuidantes esvaziaremos a crítica e a criatividade e podemos pôr tudo a perder, o bem viver em sociedade com justiça mínima e paz necessária e as as condições da biosfera sem as quais não há vida. Albert Einstein despertou para a dimensão cuidante de todo saber quando Krishnamurti o interpelou: Em que medida, Sr. Einstein, a sua teoria da relatividade ajuda a minorar o sofrimento humano? Einstein, perplexo, guardou nobre silêncio. Mas mudou. A partir dai se comprometeu pela paz e contra as armas nucleares. Em todos os âmbitos da vida, precisamos de pessoas críticas, criativas e cuidantes. É condição para uma cidadania plena e para uma sociedade que sempre se renova. Tarefa da educação hoje é criar tal tipo de pessoas.

Recebido via e-mail

sexta-feira, novembro 20, 2009



Cida,
Está aí o post que você recomendou.
Muito legais as fotos! Parabén à Jéssica...


http://www.new.divirta-se.uai.com.br/html/galeria_foto_raggagirls/2009/11/16/galeria_mostrar/id_galeria=29/galeria_mostrar.shtml

sexta-feira, novembro 13, 2009

segunda-feira, novembro 02, 2009

Regina e Cláudia


Alô, alô Regina e Cláudia
"Tá me estranhando?” Foi assim que Cláudia Campos respondeu a um amigo que lhe sugeriu um teste para se tornar chacrete. Era o ano de 1978 e ela havia trocado Belo Horizonte por São Paulo para tentar a carreira de atriz. Até aquele momento, tudo corria bem. Tinha entrado para o elenco do musical Hair, começava a estudar no Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), do cultuado Antunes Filho, e ainda trabalhava no Oficina com José Celso Martinez Corrêa. O que ela iria fazer no Chacrinha?"(....)
Leia mais em:

Reportagem no Estado de Minas sobre a Cacretes de Belo Horizonte

Para ver e ler, Click em:

Silêncio I

Silêncio I
Carlos Wagner - 01/11/2009

Silêncio!
Quero escutar o grito do grato
o berro do fraco, o sussurro do burro,
o coice da mula, a mala entornada.
Silêncio!
Quero falar a língua da íngua
a surra que urra gritando atrevida
a vida que passa fingindo ser morte
fingindo ser norte quando o sul vem chamá-la.
Silêncio, o lenço caiu, quebrou-se a esquina
virou-se do avesso, imitando a rapina
bicho agourento, de voo avarento
buscando alimento que morto esbanjou.
Silêncio. Se lance do alto, mastigue essas pedras
adora esse besta que o mundo te espera,
exaspera em desejo, se esfregue em prazer
pra ser o que instiga, pra ver o que se esconde.
Silêncio. Aperta esse passo, afrouxe esse laço
pindure essa roupa, mergulhe de cara
lambuze sua blusa e perceba a enrascada
metida em mil frascos, aromas e cheiros
empurra essa luta, põe lá sua barriga
ninguém vai notar.
Silêncio, apagar com borracha esse risco de lápis
escrever outra história, a partir de outros cantos
cantilenas sem fim, outros cantos da casa
outras vidas sofridas, aguardando perdão.
Silêncio, vou-me embora confuso
atento ao barulho que exibe um ruído
que fala baixinho, "ser livre, ser livre",
tão alto que ouço,
tão claro que esqueço de tampar os ouvidos,
"olvidados" os gritos
que vem do porão,
de mim, de mim mesmo,
do fundo que dói.
Silêncio.
Carlos Wagner

quinta-feira, outubro 15, 2009

Correspondência emailaica

DIGRESSÕES POST-MORTEM
Wellington Kallil

Dulcíssimo irmão em Leo(meu ascendente), sentado -à direita do Sol Pai Todo Poderoso- sentado. Humilde e fraterno amigo, às vezes é necessário rugir de tanta dor, para a lapidação ; fico pensando se é isso mesmo, ou se é o ranger que nos detém até que só nos reste a fuga na claridade animal dos dentes, devotos e pobres servos do mundo.Somos todos uns pobres diabos, mesmo os gênios. A ironia utilizo-a sempre não como um truque, mas como alguém que estivesse dentro de mim e me fosse dizendo “não te iludas” (Saramago). Barack Hussein Obama é branco de olhos azuis, não foi por acaso que uma nação de maioria alburna de olhos azuis deu a ele esmagadora maioria de votos, corroborando a minha tese, e não será novidade nenhuma para mim quando o assassinarem, como fizeram com Lincoln e Kennedy, só que, dessa vez, será um presidenticídio por inveja, por interpretar tão bem o papel de um negro presidente- Acautelai-vos, porém, daqueles que vos vêm à vós sob pele de cordeiro, mas por dentro são lobos vorazes (Yoshua Hamashia).
Meu irmão em Leo, mal tenho lido, escrito ou saído, sou um operário, escravo da manutenção minha e de outros, só sei que após recente e estranha experiência de “Quase Morte”, conforme jargão científico, eu retornei ao mundo jurando pra mim mesmo nunca mais ler ou escrever, abandonei a faculdade desde então, e me sinto completamente feliz por isso, pois não me interessa ouvir blá-blá-blá e ainda por cima pagar. O curioso é que, agora mesmo, logo que chequei ao computador, fui atraído para visitar alguns blogues e deparei com o seu cheio de belas poesias e uma interessante provocação do Prof. Darcy Ribeiro: “O Brasil é ótimo, o que falta é gente para contar isso”, daí eu pequei a coisa no ar, pois há dias, após minha “ressurreição”, venho pensando exatamente nesse fato, que coisa meu, pecarei contra o juramento solene de nunca mais ler ou escrever, ainda mais porque descobri o quanto desconheço a altaneira língua luso-brasileira ou a pura e abrasiva língua brasileira, não consigo entender o que as pessoas falam nem sei falar a tão comum língua pátria, sou um analfabeto confesso, agora estou virando ilha, pois não aprendi outro idioma a fim de me comunicar em caso de emergência (maktub).
Estou perdido no jardim das delícias da crônica do dia-a-dia, envolvido pelas sirenes afinadas que perfuram os tímpanos. Só me resta o consolo das relíquias literárias e sonoras de Waldick Soriano, Amado Batista, Chitãozinho e Xororó e Victor e Leo, são eles que me amparam em minha alma fragmentada e pária, quanto à insônia consensual, me é acompanhada sempre com alguns golos de água mineral e as boas cordas do virtuosíssimo Tião Carrero ( não tem pra Van Halen, nem Jimmi Hendrix, quem é Eric Claptom ), além da genialidade poética e musical do goiano Odair José, melhor que a corjada de Liverpool e essa esquizofrenia mineira de Clube não-sei-de-que, parece que Minas não é outra senão essa macacada branquela, classe medieval, que andou copiando os gringos a fim de nos fuder , andaram roubando a verdadeira Minas poética e universal da gente, rotulando a gente de esquineiros e todos aceitando, pedindo benção, ajoelhando pra esses caras babacas e medíocres, melhores imitadores do que talentosos, bom mesmo é Fabrício Carpinejar que não tem pose de branco, melhor ainda é Zeca Pagodinho que nos ensinou o abençoado direito da INFIDELIDADE (v. propaganda da Brahma), arrebentou, e quando foi interpelado, refilou que era livre para fazer o que quisesse, mandando um recado muito bem mandado para os capitães-do-mato e coronéis de plantão. Além disso, é bom lembrar que existe o Rap para nos alforriar, por aí andam MV Bill, Marcelo D2 e os geniais, insuperáveis Racionais, nunca se viu coisa igual, uma iguaria da moderna música da Terra, nada melhor do que o Funk para celebrar conosco a autêntica fala brasileira, que as escolas estão roubando de nós e nossos filhos, esse florão e a sua ciência, in hoc signo vinces (com este sinal vencerás)
Que Alá fique contigo e te conclamo a fantasiar com as cem mil virgens no Paraíso, a despeito da Jirad, como filhos obedientes da descendência moura, marcada pelo hálito amoroso de Muhammad, que nos misturou ao indômito sangue escravizado desde o santo porto de Luanda aos sagrados terreiros do Brasil,onde se cumpriu a mais airosa epifania que se refilhou por toda a humanidade, finalmente, que diante de ti dispam-se os sete véus e faça-se a dança do ventre.
Um grande abraço e muita Paz, Assalam Alaikum Wa Rahmatullahi Wa Barakatuh (que a paz, misericórdia e as bênçãos de Deus estejam contigo), Shalom, Pax Tecum, Anauê e Saravá misinfi.
Ah, já ia me esquecendo: obrigado pelas belas poesias que andas produzindo, destaque para “o que tem que quebre”, o verde na garrafa quase azul-piscina da ilustração ficou da hora, joga pro alto. É isso aí.
Sinceramente, Muhammad wellington kalil

quarta-feira, outubro 14, 2009

Capetinga/ Sto. Hilário

Dá pra reconhecer....
Rogério, Robson, Charles, Wá, Beth, Valéria, Valéria Coelho, Regina, Viroca, D. Anália, Élcio, Sandra(?), Vanda, Newton,

Capetinga/ Sul de Minas - Represa de Furnas


Olhaí...Dá pra reconhecer...


Vanda, Elcio, Newton de Costa, D. Anália, Cláudia, Robson, Viroca, acho que Wá, Valéria Coelho, Regina em cima, Angelo Marzano, Rogério, Beth. Quem quiser corrigir, opinar ou acrescentar...

segunda-feira, outubro 12, 2009

Brasil

“o Brasil é ótimo, o que falta é gente para contar isso"
Darcy Ribeiro (antropólogo)

sexta-feira, setembro 18, 2009

Sintoma de Vida
Carlos Wagner

Assim sigo, assintomático,
tudo parece normal,
tudo parece assim tão mornamente sem ranhuras,
normalmente sem bravuras, canduras.
Figuras de linhagem antiga, fantasmas de vivências da memória dos tempos,
circulam, se apresentam,
linguagem específica,
lirismo de "olhai os lírios" do asfalto.
Esses sim, se cuidam e se preocupam,
têm medo do futuro, furo de diques,
passagem tão temida, arrebentação de barreiras.

Assintomático de minhas dores e mazelas,
Sigo forjando, entendendo sintomas, hematomas, feridas,
tudo mentira de mim para mins outros, confusa identidade.
Me acho perdidamente identificado com discursos dúbios,
descuidos, ranhuras e ranhetices,
chatices de conversas moles,
que como água, batem, batem até que abrem furo no flanco duro.
Mina sangue, escorre do leito de mim a dupla essência, bem e mal,
Stress” de Paulo, desgraçado homem que se achava.
Esse minar possibilita renovação, porque faz enxergar o que se é.
Assintomático nada normal,
Sintoma de que a vida, milagre do ser, conduz com sabedoria o processo.
pró-acessos a aos portais do "homem, conhece-te a ti mesmo".

Me entrego, mergulho nesse oceano de grandeza, perplexo simplesmente.
Vejo fluir por minhas veias, passado, presente e futuro, forjado em meditação.
Carlos Wagner

quarta-feira, setembro 16, 2009

Produto e processo
Carlos Wagner

Lentamente flui a produção escassa,
Fico à caça, fico à míngua de um jorrar em gotas,
Fico esperando a colheita por dias,
Fico amassando o barro, pisando as uvas,
Curtindo a barriga de geração,
Esperando o fluir do processo,
Esquecido do produto.
Viver o processo, estar com ele passo a passo,
Dormir e acordar com suas manhas e manhãs,
Copular com ele, amaldiçoá-lo, rir dele e perceber caminhos,
me perder em preguiça,
me achar em quiçás e quimeras.
Estabeleço o rumo, olho e penso na viagem,
Escrever, destituir-me das idéias que vem fugidias, fugazes, escondidas nos olhares retrovisados, Memórias, mesmo horas a matutar,
Mesmo que com dor ou prazer, parto, ponho os pés no caminho,
Parto, de dor em dor,
Parto ao meio minhas cabaças e tiro o líquido puro,
Bebo com quem lê, com os que, de repente, se deparam com esses fluidos rabiscados dígito a dígito,
Cogito novas aparições, surgir num relâmpago de novo, na velocidade da luminosa via do amor.
mesmo que a tartaruga fuja, mil vezes, ainda assim, sigo atento ao processo.
....até o próximo rabisco...
Carlos Wagner

sexta-feira, setembro 04, 2009

Trivial da casa da Vó Nália

Trivial de momentos na casa da Sagrada Família, pura descontração...e um lanchinho básico.

Wá, Ivan, Valéria Dona Anália e Pedro.

Um instante à mesa da copa de Dona Anália

sexta-feira, agosto 21, 2009

Minuto

Minuto, fresta e percepção...
Carlos Wagner


Enquanto só e solidão
abre-se a perspectiva por um fio de amor e mansidão,
enquanto manso e sábio, intermitente,
tento seguir as indicações dele que é o signo e símbolo,
dele que é arquétipo, essência e fim.
Enquanto só e sólido
vejo dispersarem ante minha vista o que são partes de mim
o que foram um dia estrutura e ossos,
vísceras e orgãos vitais...
Vejo, enquanto sozinho,
da janela de uma alma em crise,
o último ponto visível de minha perspectiva,
aquele ponto que, equidistante nas paralelas, projeta o infinito,
e minha pequena "identidade-eu" vislumbra a saída,
estranho universo em que me movo,
só e em solidão,
como um Arjuna de Krishna, vejo meus "parentes" prontos para a batalha,
a ameaçarem a minha substância espiritual.
Ânimo, diz, Krishna, combate enquanto é tempo.
Enquanto a eternidade expande minha esperança.

sábado, agosto 15, 2009

o que tem que quebre...


Carlos Wagner
14/08/2009

O lucro com a quebra do lacre,
derrame e largue o líquido,
molhando e alargando o lacre,
embole a embalagem,
liquefaça e rompa toda pompa do lacre,
todo rompante de um fraque,
todo deslumbre de um saque.
De um lado a outro,
de um outro ao lado,
de um ou de dois rabiscos que marquem desabrido lacrimejar.
Quem quer que quebre, que fere, que ferre,
que deixe dizer que brinquem com as marcas,
que atijam os marcos dos lucros do líquido desejo.
Que seja concreto, abrindo, entornando, tanto,
entortando em torno de um desfecho,
entorpecendo a visão,
transplantando o que cura,
tecendo fracos elos.
Lacre o o frasco,
distribua o amargo desejo de querer ver o que contém
o que com quem tem e que contenta a alma,
o traço de um trago,
além de um naco,
além da quebra do lacre.

Carlos Wagner

quinta-feira, julho 16, 2009

Num atmo...


Áspero espirro,
"sai de mim gripe!" Vem não, quero não,
quero ficar pronto para a balada,
a bala da embolada,
o trava língua, num beijo só.
Parei de falar, tagarela que sou,
parei, vejam só, de ser o que sou, que soube que seria,
parei de viajar, na massa de tomate,
de tomar-te em meus braços não cansei, "can't say that",
kant, sei, disse algo assim, no lenço non sense,
não sei se é assim que escreve,
e escreveu não leu...o pau queimou-se.
Fico dali, reparando se alguém nota minha burrice,
ver se se alguém risse de mim.
Nice disse: "fica bobo não!"
E fiquei, me enrolei com aquela bobeira, ...boseira,
quis ficar na balada, inabalavel, e, na bala perdida de teu tiro,
me vi embolado, embolando as trocas, desentendendo as "idéia",
desenterrando as ossadas de meu desaparecido ego,
de meu enlouquecido Id,
de meu sub inconsciente esquecido nos subterrâneos de mim,
escavadeiras que se virem para achar vestígios de um eu de mim que já era,
que já fora, como se fosse um fui algo,
algo que a história registrou em páginas amarelecidas,
perdidas em alguma biblia, em alguma folha de manuscritos,
grafadas pelas mãos de um Deus de mim, que me quer estrela...
que me apaga sempre, ao fim de um pensamento.
Penso que vivi.

segunda-feira, junho 22, 2009

Wá e Fio,
Fui convidado a ler e palpitar nessa troca de opiniões sobre rádio, mídia e jornalismo, a partir do que cada um de vocês escreveu sobre a Rádio Itatiaia, especificamente. Não vou tratar de nenhuma das opiniões dos dois em separado, vou acrescentar somente a minha sobre o assunto, que é de meu interesse por vários motivos, em especial porque eu sou viciado em rádio, desde pequeno, além de ter me formado em Comunicação Social e feito pós-graduação nessa área (Jornalismo e Práticas Contemporâneas, no Uni-BH). Em outras palavras, esse assunto me interessa muito; o assunto “comunicação de massas” me é muito caro. E, para aumentar a vontade de dar palpite na conversa dos outros, eu gosto muito, mas muito mesmo do danado do futebol, tema a respeito do qual vocês dois discorreram em suas postagens. Vamos lá.
Sobre a Rádio Itatiaia, minha opinião é de que ela é uma das maiores emissoras de rádio do Brasil, grande e bem capacitada o suficiente para ter tido condições de enviar equipe própria a todas as copas do mundo e jogos olímpicos realizados de um longo tempo pra cá. Seu corpo jornalístico e a capacidade de cobertura são comparáveis aos das maiores emissoras de rádio brasileiras. Ela vai a todo lugar em que forem o Galo e o Cruzeiro, por exemplo. Nesse sentido, é imbatível, não tem concorrente por aqui. Mas uma coisa muito ruim, na minha opinião, acontece em Belo Horizonte e em Minas, por causa dessa grandiosidade da Itatiaia: ela está praticamente sozinha no mercado mineiro, em especial no esportivo, e por isto se dá o direito de fazer as coisas como bem entende. E pior, na minha visão, atuando de forma que passou a ser, de alguma maneira, considerada “a forma de se fazer rádio esportivo” para o público mineiro em geral.
Vejamos lá: quem definiu que uma emissora de rádio deveria ter um narrador para cada um dos dois grandes clubes da capital? O que significa a narração de um jogo sob a ótica do profissional de rádio que torce pelo time que está jogando? Seria a descrição do jogo e das possibilidades de vitória de uma ou de outra equipe corretas em relação à verdade do fato narrado? Eu não acho que seja assim, porque quando eu narro o jogo do meu time de coração eu tendo a falar bem do que ele possivelmente faça, além de eu querer propagandear os feitos do clube como forma de aumentar o número de seus torcedores, como eu sou. Pra mim, essa história de grupos de cobertura e transmissão separados para Atlético (o Roberto Abras e o Willy Gonzer –na verdade, torcedor do Grêmio, que foi trazido para Belo Horizonte para substituir o Vilibaldo Alves, que na época foi para a então recém-inaugurada Rádio Capital, aproveitando-se a Itatiaia, inclusive, da semelhança dos nomes dos dois narradores) e Cruzeiro (o Alberto Rodrigues e o Artur Morais), é uma forma viciada de se trabalhar a notícia, que no final das contas é o trabalho da rádio. Já vi inúmeras vezes, tanto da parte de um lado quanto de outro, as mais descabidas opiniões sobre jogos, jogadores, dirigentes, juízes e mais coisas relacionadas ao futebol, tudo dito por interesse em defender ou divulgar o que seja relacionado ao Cruzeiro ou ao Atlético, como se esses profissionais fossem meros torcedores, eles que são os responsáveis pela coleta de dados, redação, edição e emissão da notícia. Dessa maneira, o fato narrado por eles muitas vezes ganha aspectos e mesmo dados que não fazem parte da realidade do que está sendo noticiado. Isto gera o que eu acho que é o pior dessa relação de paixão, amor e interesse clubístico por parte dos jornalistas, que é a subserviência da notícia e da opinião a seus gostos e interesses pessoais, ou aos interesses dos clubes e/ou de quem os dirige, ao invés desses profissionais ofertarem ao público informações e orientações imparciais.
Pois bem, como poderia o Artur Morais ou o Alberto Rodrigues criticar algum comportamento do Zezé Perrella, por exemplo, se ambos torcem para o Cruzeiro e declaram esse amor pelo clube diariamente, na medida em que fomentam e apóiam quase cegamente o que quer que venha da Toca da Raposa como ação? Acho que é de conhecimento geral a relação política entre o Zezé e o Alberto, tanto que num jogo de há muitos anos, quando o Cruzeiro jogava com o Santos no Mineirão, e no 1º tempo já perdia por 4 x 0 (acho que o jogo terminou assim mesmo, ou 4 x 1, não me lembro) o Alberto disse qualquer coisa como “ó Zezé, se você acha que vai ganhar a próxima eleição com esse time fraco do Cruzeiro você está enganado –as palavras, logicamente, não foram essas, estou me dando o direito de dizer como as entendi na ocasião, e como as guardei). E por falar em eleições, quem elegeu o Alberto Rodrigues por mais de uma vez, se não a torcida do Cruzeiro e as últimas boas campanhas do clube? É uma avenida de mão-dupla, essa cordial relação entre os dois, entendem?
Do outro lado vemos o Willy Gonzer SEMPRE defendendo o Atlético e suas diretorias, a despeito de tudo o que elas vêm fazendo comprovadamente de mal-feito nos últimos anos. Ao lado dele o sempre presente aos treinos e jogos do Galo, Roberto Abras, que, além de ser declaradamente atleticano, e SÓ falar bem do Atlético, de seus jogadores, de seus diretores, é o patrono da nova Sala de Imprensa da Cidade do Galo.
Aí eu pergunto: que jeito, que liberdade, que condição têm esses senhores de trazer ao público ouvinte da Rádio Itatiaia uma opinião isenta sobre qualquer fato que seja dos dois clubes? Existe uma clara relação de interesses por parte de quem cobre o Galo e o Cruzeiro, (até pecuniária, talvez, sei lá, quem sabe? É mesmo? ??????) ou, pelo menos, uma relação política ou de mera paixão clubística. Mas viciada, de qualquer forma. Uma relação como essa não pode gerar notícia imparcial, limpa, ainda que compêndios de comunicação social descrevam que essa imparcialidade no trabalho do jornalista não é possível existir, em função dos interesses do dono do jornal, da rádio, da TV, da revista, que definem a pauta de cada um desses órgãos midiáticos. Mas este é outro assunto pra uma longuíssima discussão. Para mim, a partir do que disse acima, a Rádio Itatiaia, no que se refere especificamente ao futebol, não é imparcial, e, por isto, presta um desserviço à população de Minas Gerais. E aos clubes, também.
Outro exemplo do que estou dizendo. Certa vez, ouvindo o Oswaldo Faria responder a torcedores que reclamaram com repórteres da Itatiaia sobre as más condições da parte externa do Mineirão, relatando problemas de sujeira e de pouca segurança, escutei dele, chefe do jornalismo esportivo daquela emissora e comentarista, a afirmação, com firmeza, de que o que era reclamado não era verdade. Falou, também, do empenho da diretoria da ADEMG na conservação e cuidados com o Mineirão, que não teria os problemas relatados. Só que ele se esqueceu de dizer que ele, Oswaldo Faria, fazia parte da Assessoria de Imprensa da ADEMG. Ora, que condição teria esse jornalista de exercer plenamente sua função de informar seu público ouvinte, que lhe encaminhou uma reclamação pertinente (porque nessa época o Mineirão estava, realmente, “jogado às traças”) se ele tinha interesses pessoais que batiam de frente com seu dever de informar? Isso é ter rabo preso, ele não podia fazer o que seria correto no caso, que seria denunciar os problemas a quem de direito. E por aí vai.
Em 1999, o Alexandre Kalil, junto com o Bebeto de Freitas, resolveu que o Galo deixaria de jogar no Mineirão, porque as despesas que o clube tinha no estádio inviabilizavam a manutenção de seus jogos naquele local. Eles providenciaram o acréscimo de arquibancadas no Independência, onde o Atlético teria toda a renda dos ingressos e, em especial, o montante da venda do espaço das placas de publicidade que ficam em torno do campo (à época falou-se que o clube teria uma renda de R$ 90.000,00 por jogo, enquanto que, no Mineirão, as placas eram de uma empresa, que pouco ou quase nada repassava aos clubes que jogavam naquele estádio). O que se viu e se seguiu a essa tentativa de gestão diferenciada do Atlético foi que praticamente toda a imprensa de Belo Horizonte se postou contra o projeto, que tinha uma claríssima indicação de que estava corretamente planejado, e que poderia ter dado certo para o clube. Tanto se falou, tanto se criticou nas rádios, TV e nos jornais daqui que a FMF e/ou a CBF entraram no meio da discussão, e uma ordem judicial forçou o Galo a mandar seus jogos de novo no Mineirão, com prejuízo financeiro para o clube e político para o Kalil e demais diretores que partilhavam da idéia com ele. Daí para o Atlético ficar anos sem ganhar qualquer título e chegar a cair para a Série B do Brasileiro não foi mero acaso, na minha opinião. Aquele projeto era muito importante e uma grande novidade para o mundo viciado do futebol brasileiro.
Ora, mas por que todo esse comportamento contrário à decisão do Galo de jogar no ex-Campo do Sete? Por que isto teria acontecido? Na minha visão, por um motivo muito simples: é só procurar saber quantos e quais eram os críticos jornalistas esportivos que estavam vinculados, de alguma forma, ao caixa da ADEMG, uma empresa pública, cujos cargos são geridos, indicados e mantidos por força de política, como em qualquer empresa desse setor. Que “empregados” da gestora do Mineirão teriam interesse que um clube que leva tantos torcedores ao estádio, como o Galo, deixasse de freqüentar o local de onde retiram parte de seu sustento? A folha de pagamentos da ADEMG é uma aberração, seu chamado quadro-móvel é tão inchado que há poucos meses o presidente do Galo, Alexandre Kalil, admitiu que aceitaria uma parceria do Atlético com o Cruzeiro na gestão do Mineirão, desde que os dois clubes recebessem o estádio sem o quadro de funcionários da ADEMG (pelo menos no que se refere ao quadro-móvel, que atua nos dias dos jogos), o que prova que ficar livre desse peso, e encontrar outra forma de obter recursos para gerir o clube (o dinheiro das placas de publicidade, por exemplo) teria sido uma opção correta e viável para o Atlético em 1999. A “imprensa esportiva” de BH não deixou que isto acontecesse.
O Fio descreve muito bem, e com clareza, a questão do lucro a que os meios de comunicação teriam direito por serem um empreendimento comercial viável, como qualquer outro. Fala, também, da existência de “caixa 2” em toda empresa, e de que, sem ele, nenhuma delas conseguiria funcionar. Bom, acho que, de alguma forma, essa questão é discutível, mas não tocarei nesse assunto agora (talvez nunca, porque o assunto é muito vasto). Mas, em questão de empresa jornalística, a questão da ÉTICA (e aqui coloco a palavra com letra maiúscula, devido à importância que eu acho que ela tem nesse contexto), não pode ser simplesmente reduzida a questões de “caixa 2” ou de uso ou não de merchandising. Porque o negócio de rádio, jornal, TV, revista ou site jornalístico é a notícia, a descrição e divulgação do fato real acontecido. Não pode haver um fato a ser noticiado de forma não integral, ainda que se admita o que se chama de “frame”, isto é, o que se escolhe para se escrever a respeito (uma moldura da realidade noticiada). Mas esse emolduramento do que se vai noticiar não pode deixar de abarcar a realidade por mero interesse político-econômico do jornalista (caso Mineirão-Oswaldo Faria) ou, como em geral acontece, do dono do veículo. Só vou citar um fato conhecidíssimo para exemplificar o que estou descrevendo: a edição e manipulação da fala do Lula no debate com o Collor de Melo, divulgado no Jornal Nacional do sábado, véspera das eleições de 1989, que decretou a vitória desse último, por interesse da direção da TV Globo, conforme foi publicamente confirmado pelo próprio Roberto Marinho anos depois. A Globo travestiu a verdade, mentiu por interesse próprio, alterou a descrição da realidade. Foi parcial. Agiu sem ÉTICA. Ela pode ter “caixa 2”, mas não pode ter um “caixa 2” de notícias que divulga ou não, conforme seus interesses particulares.
Pra finalizar, acho que em Belo Horizonte estamos “perdidos” em termos da qualidade da cobertura jornalística esportiva no rádio. A Itatiaia, pra mim, é cheia desses defeitos que descrevi, sofre dessa doença da parcialidade e de uma certa venalidade (é o que aparenta ser, pra mim, essa relação de narradores e repórteres com a política, o comércio e outras coisas -sem que eu tenha provas disto, que fique bem claro), apesar de ter todas as condições de prestar um excelente serviço informativo, como de resto presta muito bem fora do futebol. Ela não tem como ser batida pelas outras emissoras em termos de disponibilidade de tempo e de quantidade de informações que divulga. Mas, ainda falando da cobertura esportiva, eu duvido um pouco tanto da qualidade do que é por ela divulgado quanto, em grande monta, da qualidade de como o serviço dela é feito. Por exemplo, eu acho horrível, acho que é um fazer mal-feito o fato de que todo mundo GRITA nos microfones na Itatiaia, que muitos repórteres e comentaristas de lá usam mal a língua portuguesa, que alguns chavões utilizados por eles esbanjam preconceitos, que fazem brincadeiras por vezes grosseiras, entre outras coisas. Mas, e as outras rádios daqui? Penso que elas fazem o que fazem de maneira pior do que a Itatiaia por questões de falta de dinheiro, mesmo. No caso específico da Globo-CBN, que surgiu como novidade no mercado de BH, acho que ela já chegou meio viciada por esse maniqueísmo atléticano-cruzeirense que aqui existe, e não conseguiu, de todo, mudar a estrutura “itatiaiana” de narrar e cobrir futebol que tínhamos. Eu acho isso uma pena, um pecado, uma sacanagem, uma pobreza dessa cidade que já deu tantos escritores de ponta ao Brasil, mas que é mesquinha culturalmente, infelizmente, por causa de nossos políticos e administradores públicos. São mesquinhos, pensam em BH como se fosse uma cidade de 10.000 habitantes. Taí um assunto pra mais 35 blogs de discussão!
Voltemos ao assunto Globo-CBN. Aquele narrador de lá, o Pequitito, que era da Rádio Inconfidência, ficou tão chato quanto o hoje meio-decrépito e confuso narrador pseudo-atleticano, Willy Gonzer (quem vê os jogos pela TV ouvindo o rádio vê claramente como ele tem errado o nome de jogadores do Galo, que ele deveria conhecer até de olho fechado), ou o insuportável, porque não é narrador de futebol, mas narrador-torcedor-fanático-e-chato-do-Cruzeiro (eu admito torcedor não-chato do Cruzeiro, do Flamengo, do Paris Saint Germain, do Galatassarai- chato, nem do Galo), o tal do Alberto Rodrigues (teve um clássico em que ele narrava o 2º tempo do jogo, numa época em que o Galo ainda conseguia fazer gol no Cruzeiro, em que ele narrou o gol do Atlético assim: “gol, gol, gol, gol gol, Cru...Atlético...”- acho que ele queria tanto o gol do time dele que começou a narrar o gol do time errado), ou o cada-dia-mais-injuado (pra lembrar da Vó Cota) Mário Henrique, o preferido do Fio, que começou bem, era tranqüilo pra narrar, não era tão exagerado tanto na descrição do jogo como nessa coisa irritante de ficar dizendo a todo momento, de uma forma ou de outra, que o gol vai sair, que acredita que agora vai, que o mundo vai mudar com a próxima jogada (e “bica eles, Galo”, “bica eles, bicudo”), como muito chatamente faz também o Pequitito da Globo-CBN (na questão do exagero do “vai que eu acredito”, ou coisa assim).
Eu sempre me pergunto: por que diabos os caras da Itatiaia acham que têm que ficar berrando no ouvido do povo? Rádio é companheiro das pessoas, o amigo que está com a gente na calada da noite, no recanto do lar (gostaram do termo?). O rádio tem que sussurrar no ouvido da gente, contar com clareza, calma e em bom tom, o que está acontecendo. Os narradores de futebol de Minas, todos os que conheço, acham que o ouvido de quem os escuta é PINICO. O meu, não.
Dentre o que é possível se ouvir no rádio de BH em termos de esporte, acho que o Milton Naves, da Itatiaia, é, se não o melhor, o mais suportável de todos. Ele torce pelos times de Minas de que narra o jogo (o que seria até aceitável, porque é o que se faz Brasil afora), mas ele parece não ter a obrigação de torcer e puxar a brasa pra sardinha do Cruzeiro ou do Atlético, porque, por mais que tenha um clube de coração, e deve ter um, ele não declarou qual é, e, parece, não vive e ganha a vida porque, como o Alberto Rodrigues, torce pro Cruzeiro e é amigo do Zezé Perrella. Mas acho que o Milton Naves ainda exagera no grito de gol, assim como o faz o vovô Gonzer, que berra e reberra o tal “...do Gaaaaaaaaaaaalo”. Parece vocalista de heavy-metal. Argh!
Pra mim, talvez o melhor narrador de futebol do rádio atual que eu conheço é um cara da Globo-CBN de São Paulo. Infelizmente não sei o nome dele. Nas poucas vezes em que ele transmitiu algum jogo do Galo contra clube de SP vi que: 1- ele não berra no ouvido da gente; 2- ele não fica tentando bater recorde de tempo no grito de gol, 3- ele grita gol na mesma quantidade de tempo e na mesma intensidade para os dois times, e 4- ele não repete, a cada ataque do time do lugar, que ele acredita que agora vai. Todos não deveriam ser assim?
O problema é que BH está acostumada com os “berradores” da Itatiaia, e o Brasil com o “berrador-mor”, Galvão Bueno. Mudar essa tradição “berrativa” é muito difícil. Gostaria que todos os jogos da TV fossem narrados pelo Milton Leite, e/ou Jota Jr., do Sportv, ou pelo Kleber Machado, da Globo. Há outros bons narradores na TV e no rádio, certamente, razão pela qual eu sonho com um mundo melhor, sem Alberto Rodrigues e Galvão Bueno. Eu não gosto de nenhum narrador-torcedor, ainda que porventura essa torcida fosse pelo meu time. Eles deveriam narrar somente. Quanto a torcer, deixa comigo. Era assim que tinha que ser.
Pediram minha opinião. Aí está. Tem mais um tanto de coisas pra falar e contar, mas se fosse fazer isto agora teria que escrever um livro.
Abraços a todos, desse seu amigo-irmão, viciado em futebol e em rádio, viúva muito chorosa da extinta Geraes FM, o que de melhor se fez em termos de rádio em Belo Horizonte, depois da Rádio Cultura dos anos 1970. Em questão de rádio e jornalismo BH, nossa cidade, é realmente uma grande fazenda iluminada.
Zé.

Todos novos em Capetinga

Todos novos em Capetinga
Olha aí o pessoal lá de antes...

O lobo da estepe - Hermann Hesse

  • O lobo da estepe define minha personalidade de buscador

ShareThis